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“Não lembro de ter visto isso em toda a minha carreira”, afirma especialista sobre momento do setor

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O cenário do setor da cana-de-açúcar mudou drasticamente e o que era tratado como o ano de retomada deverá ser mais um ano complicado para todos do meio

A safra de cana-de-açúcar teve seu inicio oficial hoje, dia primeiro de abril. No entanto, o cenário é muito diferente do que se previu há alguns meses. O que era para ser um dos melhores anos em termos de produção e preços, tem se desmoronado nos últimos dias.

A mudança de perspectivas teve início com a guerra de preços do petróleo. Todavia, a pandemia do Covid-19 e a paralisação da economia mundial, por si só, já derrubaria o preço do petróleo, ocasionado efeitos negativos ao setor.

“Foram dois golpes que atingiram muito fortemente alguns setores do agronegócio brasileiro. Eu diria que proporcionalmente, o setor que mais foi atingido foi o de flores. Todavia, em termos de dimensão, a maior pancada vem em cima do etanol e, consequentemente, da cana”, relata professor da Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcos Fava Neves.

Segundo ele, é preciso repensar como é que vai ser o nosso período daqui para frente. “Todos devem sentar, dialogar, evitar atitudes oportunistas e pensar na solução para o setor. Foi um golpe impressionando, em pouco tempo, o qual eu não lembro de ter visto em toda a minha carreira”, relata.

A saúde financeira do setor

Neves destaca que há no setor habilidade e astucia para encontrar oportunidades. Uma parte importante do açúcar desta safra – algo entre 80, 85% e da próxima safra (talvez 20% a 30%) que começa em 2021, já foi vendida a preços razoáveis em reais – 1300 até 1500 reais a tonelada.

“Desse modo, o açúcar não é a primeira a primeira preocupação. Isso porque não deveremos ter uma queda no consumo do açúcar, pois os governos vão ter que dar suporte alimentar para muitas famílias e esses alimentos usam açúcar. Ou seja, o muro do açúcar continua de pé”, explica.

Segundo a analise do especialista, quando o assunto é o etanol, pode-se dizer que muro tombou. Um dos causadores de tal fato é o preço do petróleo, que veio abaixo de U$ 20. “Acredito que ninguém, em dezembro, escreveu algum relatório prevendo que isso poderia acontecer”, esclarece.

De acordo com ele, preços baixos de petróleo acaba sendo desastroso. No caso do Brasil é algo ruim porque derruba muito o preço da gasolina e com isso o do etanol. “Soma-se a isso a paralisia total de uso de combustível que é vista agora em períodos de quarentena. No meu caso, por exemplo, uso cerca de 100 litros de hidratado por semana, mas nesta em específico usei pouco mais de dez. Logo, essa queda de consumo, somada a queda do preço do petróleo criaram um dano brutal”, completa.

A trilha para a retomada

Para Neves, agora é a hora de pensar em soluções. Sendo assim, ele sugere cinco ações ao governo federal para tentar mitigar o impacto deste movimento sobre produtores e usinas:

estocagem de etanol nos tanques;
aumento do Cide sobre a gasolina de maio até dezembro;
isenção de PIS/Cofins para o etanol;
aumento na mistura de hidratado à gasolina;
e a criação de uma linha de financiamento para os produtores atravessarem este período.

 

Caso o poder público não interceda pelos setor produtivo, o resultado seria uma expansão do endividamento, afirma o professor. “Não queremos que esse setor tombe e comprometa sua capacidade de oferecer energias renováveis ao Brasil”, acrescenta.

Nas mãos do governo 

Para ser posto em prática, essas medidas precisariam de uma ajuda do governo. Desse modo, Fave Neves alerta que uma demora acabaria causando danos imensos ao setor.  Isso porque uma possível demora na ação poderia ter como resultado a expansão do endividamento do setor.

“A cana foi muito importante para o Brasil nos últimos anos. No ano passado, por exemplo, o hidratado foi entregue a preço competitivo para o consumidor. Não queremos que o setor tombe com o endividamento, comprometendo a sua capacidade futura de oferecer energias renováveis ao País. Medidas rápidas devem ser tomadas para que o setor’ continue de pé em um momento tão complicado para a sociedade em geral”, relata.

Para o especialista, caso essas medidas não sejam adotadas, muita gente corre o risco de fechar as portas. “Você corre o risco de ter problemas no ano que vem, nos próximos anos porque vão ter menos investimentos em cana, menor produção de combustível, menos produção de açúcar. De repente, o Brasil retoma o seu crescimento e aí nós teremos falta de energia para financiar esse crescimento. Planejamento é isso: antever o que pode acontecer e tomar medidas agora”, finaliza.

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