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Novas tecnologias garantem maior controle de daninhas e maturação na hora certa para cana

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Na cana-de-açúcar, o manejo correto de plantas daninhas e maturação não é só técnica — é economia. Saiba como tecnologias e estratégias podem evitar perdas milionárias e maximizar o ATR da lavoura

A busca por eficiência produtiva nos canaviais é cada vez mais desafiadora. Com o avanço das tecnologias e o aumento da exigência por sustentabilidade, qualidade e rentabilidade, o produtor precisa tomar decisões mais técnicas e estratégicas em todas as etapas do manejo.

Do plantio à colheita, o sucesso depende do equilíbrio entre produtividade e longevidade, além da capacidade de enfrentar intempéries climáticas, pressão de pragas e, especialmente, o crescimento competitivo de plantas daninhas — que podem reduzir drasticamente o rendimento agrícola.

Outro ponto decisivo está na qualidade da matéria-prima entregue à indústria. E, nesse sentido, o manejo da maturação se torna essencial para garantir o máximo acúmulo de sacarose na hora certa, otimizando a colheita e potencializando o ATR.

Para discutir essas duas frentes — maturação e controle de plantas daninhas — com profundidade técnica e visão prática, o DaCanaCast, podcast produzido pela RPAnews Cana&Indústria, reuniu dois especialistas: o pesquisador Carlos Azânia, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e o engenheiro de desenvolvimento agronômico da Ihara, Rodrigo Naime.

Maturação da cana: quando o planejamento vale ouro (ou açúcar)

A maturação da cana é um processo fisiológico complexo, influenciado por fatores como idade da planta, clima, variedade e disponibilidade de água. Para potencializar o acúmulo de sacarose e garantir colheitas mais ricas em ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), a aplicação de maturadores químicos surge como ferramenta estratégica.

Segundo o pesquisador Carlos Azânia, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a planta só está fisiologicamente pronta para responder a um maturador a partir dos 10 meses de idade, quando as enzimas que degradam a sacarose já foram substituídas por enzimas que favorecem o acúmulo desse açúcar. “Um canavial com menos de 10 meses não está preparado. Ele ainda tem grande presença de invertases ácidas, enzimas que quebram a sacarose em glicose e frutose, dificultando o acúmulo de açúcar. A partir dos 10 meses, já predominam as invertases neutras, que favorecem o armazenamento de sacarose nos vacúolos”, explicou.

Além da idade, Azânia chama atenção para a altura da planta como indicador de seu desenvolvimento: “O ideal é que a cana tenha pelo menos 1,70m a 1,80m, para que possua entrenós alongados, o que representa maior capacidade de armazenar sacarose.”

Ainda de acordo com ele, o início da safra, entre fevereiro e abril no Centro-Sul, é o principal período de uso de maturadores devido à presença de calor e umidade, que favorecem o crescimento e, portanto, reduzem o ATR caso não haja manejo químico.

Rodrigo Naime, engenheiro agrônomo de desenvolvimento de mercado da Ihara, explicou que a escolha do maturador também deve considerar o tempo entre aplicação e colheita. “Se a colheita acontecer em até 30 dias, você precisa de um produto de ação mais rápida. Se for colher entre 40 e 50 dias, outro grupo de produtos será mais indicado. O Riper, por exemplo, é um maturador de ação rápida, ideal para aplicações mais próximas da colheita.”

A tecnologia desenvolvida pela Ihara, segundo atende aplicações em janelas curtas, com colheita prevista entre 14 e 28 dias após o uso. “Ele age inibindo a enzima ALS, responsável pela formação de aminoácidos, interrompendo temporariamente o crescimento da planta e direcionando sua energia para o acúmulo de sacarose”, explica.

Ainda de acordo com Naime, quanto mais a cana cresce antes da aplicação, maior será o potencial de armazenamento de açúcar. Aplicações precoces reduzem o potencial produtivo, enquanto o uso correto pode gerar de 6 a 12 kg de açúcar a mais por tonelada de cana colhida. A eficácia do produto, no entanto, depende de variáveis como continuidade das chuvas, escolha correta do adjuvante e compatibilidade da calda.

Segundo o especialista da Ihara, do ponto de vista econômico, o uso de maturadores como o Riper pode significar um ganho direto na rentabilidade. Considerando uma área de 100 hectares, por exemplo, um incremento de 10 kg de ATR por tonelada representa 1.000 kg de açúcar adicional por hectare — o que, em larga escala, compensa eventuais perdas de TCH (2-3 toneladas/ha) e ainda reduz custos logísticos, já que a mesma quantidade de caminhões transporta mais açúcar. Para usinas, esse ganho é ainda mais relevante: enquanto fornecedores tradicionais são pagos por TCH, as usinas lucram com o ATR, criando um incentivo futuro para a adoção generalizada dessas tecnologias

Para alcançar bons resultados, o pesquisador Carlos Azânia destacou a importância da correta preparação da calda de aplicação. “Os maturadores são produtos de caráter ácido. Se forem misturados a caldas alcalinas ou com adjuvantes incompatíveis, podem perder eficácia. A adição de um adjuvante correto, como o Ihara Agro, pode aumentar a absorção do produto pelas folhas.”

A janela de ação do Riper vai de 14 a 28 dias, com o pico de acúmulo de ATR ocorrendo entre 21 e 28 dias após a aplicação. A eficácia está diretamente ligada à continuidade das chuvas. “Se chover após esse período, o crescimento da planta retoma e o ATR tende a cair. Por isso, o planejamento da colheita deve estar alinhado com o uso do produto”, alertou Azânia.

Naime usou uma analogia para explicar o benefício de aplicar maturadores de ação rápida: “É como comparar um copo e uma jarra. O ideal é deixar a cana crescer bem — como a jarra — para depois aplicar o maturador e acumular açúcar. Se você aplica muito cedo, a cana não cresce tanto e acumula menos.”

Hoje, estima-se que cerca de 30% da área colhida no início da safra utiliza maturadores. Embora seu uso ainda não seja universal, principalmente entre fornecedores pagos por TCH (tonelada de cana por hectare), a tendência é que a remuneração por ATR avance, exigindo cada vez mais o uso estratégico desses produtos.

Além disso, a resposta da planta ao maturador varia conforme a variedade e o ambiente. “Há variedades mais tolerantes à seca, que continuam crescendo mesmo com pouca água. Isso dificulta o efeito do maturador, já que ele tenta frear o crescimento enquanto a planta continua reagindo ao estímulo ambiental”, destacou Azânia. “Estamos conduzindo pesquisas para ajustar o manejo nessas condições, especialmente em regiões como Goiás e o Nordeste.”

A complexidade da aplicação de maturadores exige conhecimento técnico, monitoramento do ambiente e um planejamento integrado com a colheita. Quando bem utilizado, o Riper pode agregar de 6 até 12 kg de açúcar por tonelada de cana, gerando ganho direto na rentabilidade. “É o mesmo custo logístico para levar uma cana rica ou pobre em açúcar à usina. Por isso, fazer esse manejo corretamente é colocar dinheiro no bolso”, concluiu Rodrigo Naime.

Mudanças climáticas e o impacto nas plantas daninhas

No manejo da cana-de-açúcar, o controle de plantas daninhas deixou de ser uma etapa complementar para se tornar determinante na produtividade. A presença de espécies cada vez mais adaptadas e agressivas impõe desafios sérios aos produtores, que precisam integrar tecnologia, conhecimento técnico e planejamento para evitar prejuízos.

As perdas causadas pelas plantas daninhas são expressivas. “Para folhas largas como corda-de-viola ou para folhas estreitas como braquiária, as perdas podem chegar a 30% de TCH em casos de manejo ineficiente”, afirmou Naime.

As mudanças no clima, a presença cada vez maior de palha no solo e as falhas na formação dos canaviais têm aumentado os desafios no controle de plantas daninhas. Para lidar com esse cenário, é fundamental investir em estratégias de manejo e no uso de herbicidas eficazes e seletivos — especialmente em momentos de estresse hídrico ou falhas de cobertura.

Segundo Azânia, os últimos anos de seca severa e incêndios causaram impacto direto no fechamento das entrelinhas e na formação dos canaviais. “Canaviais que sofreram com seca e fogo apresentaram falhas e atrasos no fechamento. Nessas clareiras, a luz e a umidade favoreceram a reinfestação por plantas daninhas, mesmo com o uso de herbicidas”, explicou.

O problema, segundo ele, também atinge áreas que escaparam do fogo, mas tiveram desenvolvimento lento: “Mesmo sem o incêndio, tivemos canaviais com 150 dias que ainda não haviam fechado. E, com isso, o sombreamento natural não acontece, o que compromete o controle das plantas invasoras após o fim do residual dos herbicidas.”

Rodrigo Naime reforçou que nas regiões mais quentes, onde o impacto da seca foi maior, a combinação de falhas com ataque de pragas tornou o cenário ainda mais crítico. “É aí que vemos o aumento da infestação. E quando não há sombreamento nem reaplicação, o resultado é a perda de produtividade”, disse.

Entre as espécies mais difíceis de controlar, Azânia destacou a grama-seda como uma das mais preocupantes atualmente. “Em algumas áreas do estado de São Paulo, parece até plantação de grama. E o pior: não existe uma única molécula capaz de controlar essa espécie sozinha. É manejo. Só com pesquisa e estratégia se enfrenta esse problema.”

Além da grama-seda, o capim-camalote também foi apontado como altamente agressivo. “Ele tem características adaptativas muito fortes e se encaixa perfeitamente no agroecossistema da cana. As ferramentas químicas disponíveis hoje são insuficientes para um controle isolado”, disse Azânia.

Naime complementou: “A grama-seda já é a quinta espécie mais presente nos canaviais do Brasil. E quando não é manejada corretamente, pode causar prejuízos de até 100%. A planta domina o espaço e o canavial colapsa.”

Pré e pós-emergência: entender o tempo certo é essencial

Carlos Azânia explica a importância de entender o momento correto de aplicar herbicidas. “O produto pré-emergente precisa estar no solo antes da germinação da planta daninha. Se a chuva atrasar e a aplicação também, o herbicida não atua na chamada germinação branca, quando o broto já começou a se desenvolver, mas ainda não emergiu.”

Ele alertou que, nesses casos, é fundamental combinar pré e pós-emergentes para cobrir as diferentes fases das plantas daninhas. “A pós-emergência ainda funciona até o perfilhamento no caso das gramíneas, ou até o segundo ou terceiro par de folhas em folhas largas. Depois disso, fica muito difícil. A planta já desenvolveu tecidos especializados e o herbicida não consegue mais atuar com eficácia.”

Azânia acrescentou ainda que, sem o devido cuidado com o banco de sementes, o problema se agrava ainda mais — especialmente em áreas destinadas à reforma com culturas como soja. “Não adianta fazer só glifosato na soja e esquecer do banco de sementes. Quando voltar a plantar cana, o problema estará maior. O ideal é que, durante a soja, já se trabalhe com herbicidas residuais para reduzir o banco e preparar melhor o solo para o novo ciclo da cana.

Manejo é investimento, não custo

A Ihara desenvolveu soluções para o controle de plantas daninhas como as gramíneas. Segundo Naime, o Yamato, por exemplo, é um pré-emergente altamente seletivo. “Ele não afeta o desenvolvimento da cana e atua muito bem em folhas estreitas e algumas folhas largas de sementes pequenas. É versátil e pode ser usado tanto em cana-planta quanto em cana-soca.”

Para áreas de cana-soca em condição de seca, a Ihara desenvolveu o Ritmo, que combina o Yamato com outro ingrediente ativo para oferecer controle prolongado. “O Ritmo entrega um residual mais longo, essencial em canaviais que levam até 180 dias para fechar”, explicou.

Já o Falcon é indicado para cana-planta ou cana-soca úmida no final do ano. E para enfrentar o desafio da germinação branca, a Ihara criou o Sonda HT, um herbicida pós-emergente que entra em associação com o Yamato. “Nosso objetivo é cobrir o ciclo da cana com ferramentas que se complementam, respeitando o momento ideal de cada uma”, completou Naime.

O custo do manejo preventivo com herbicidas como Yamato ou Ritmo é insignificante perto dos prejuízos causados por infestações. Um canavial com falhas devido a plantas daninhas pode perder até 30% de TCH — o que, em uma área de 100 hectares com produtividade média de 100 t/ha, significa R$ 300 mil em receita perdida (considerando R$ 100/tonelada). Em cenários mais críticos, como infestações de grama-seda, os prejuízos podem ser ainda maiores. Além disso, a redução na longevidade do canavial — de 6 para 3 cortes — dobra o custo de reforma por tonelada produzida. Investir em pré-emergentes e rotação de mecanismos de ação não é um gasto, mas uma garantia de sustentabilidade financeira

Controlar plantas daninhas de forma estratégica é garantir longevidade do canavial, segundo Naime. “A reforma de um canavial é caríssima. Se você perde a lavoura em dois ou três cortes por conta de falhas no manejo de daninhas, o prejuízo é enorme. Manejar bem é colocar dinheiro no bolso”, finaliza Naime.

Para Azânia, não existe herbicida milagroso, mas sim um manejo bem feito, com conhecimento técnico e planejamento.

Natália Cherubin para RPAnews

 

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