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[Opinião] A Montanha-Russa do Açúcar: Lições Cruciais de Gestão de Risco

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Açúcar: até final de abril 19,2 milhões de t já estavam fixadas

Após uma trajetória volátil, comparável a uma montanha-russa, com um pico acima de 28 centavos de dólar por libra-peso, o mercado futuro de açúcar em Nova York sofreu uma queda acentuada, perdendo mais de 800 pontos em pouco mais de um mês. O ano de 2023 concluiu com o açúcar cotado a 20.49 centavos de dólar por libra-peso, representando um aumento acumulado de 15%. Esta volatilidade gerou uma notável frustração entre os participantes do mercado. Os vendedores, especialmente as usinas, se alinharam a expectativas altistas que, infelizmente, não se alinhavam com a realidade do campo. Lá, os indicativos de uma produção e produtividade robustas sinalizavam para uma safra excepcionalmente abundante de cana, culminando em uma oferta significativa de açúcar.

Por outro lado, os consumidores industriais de açúcar que não aproveitaram a oportunidade de fixar preços quando o mercado estava abaixo de 22 centavos de dólar por libra-peso no início do ano encontraram-se em uma corrida para garantir preços durante a queda subsequente. Essa decisão foi tomada apenas para testemunharem, com certa consternação, uma redução ainda mais acentuada nos pregões seguintes. Esse cenário traz à tona uma questão crucial: quais são as lições essenciais a serem aprendidas para evitar armadilhas semelhantes no futuro?

A primeira e mais crucial lição é reconhecer a importância de estabelecer e seguir rigorosamente uma política de gestão de risco na empresa, respeitando os parâmetros definidos. Argumento que o percentual de fixação de preços pelas empresas deve ser calibrado com base na rentabilidade e no tempo. Quanto maior a rentabilidade, mais ágil deve ser o processo de fixação de preços, inclusive ultrapassando o limite convencional da safra, se necessário. Se uma empresa tivesse comparado a rentabilidade do açúcar em maio deste ano, ou entre setembro e novembro, com os dados históricos dos últimos 25 anos, a decisão lógica seria acelerar a fixação de preços. No mínimo, a empresa deveria ter considerado a implementação de uma estratégia de “fence”, que envolve fixar um preço mínimo através da compra de uma opção de venda (put) com preço de exercício abaixo do mercado, financiada pela venda de uma opção de compra (call) com preço de exercício acima do mercado. Infelizmente, muitas empresas optaram por aguardar condições ainda mais favoráveis, ansiando pelos tão sonhados – e frequentemente considerados como absolutamente garantidos – 30 centavos de dólar por libra-peso.

A segunda lição fundamental é a ineficácia dos acumuladores em mercados voláteis. Diversas empresas perderam oportunidades valiosas de fixar preços vantajosos para seus açúcares de exportação devido à excessiva dependência dessa estratégia. É imprescindível eliminar estratégias de acumulação de qualquer política de risco bem fundamentada. Em mercados caracterizados por alta volatilidade, como o do açúcar, depender de acumuladores pode levar a perdas significativas, já que essas estratégias frequentemente falham em capturar movimentos de preço favoráveis. Portanto, é crucial que as empresas reavaliem suas políticas de risco e adotem abordagens mais ágeis e adaptativas, capazes de responder eficientemente às rápidas mudanças do mercado.

A terceira e vital lição é a necessidade de manter um foco estrito nos fundamentos do mercado. Notícias recicladas não possuem capacidade de sustentar os preços em níveis artificialmente altos por períodos prolongados. Observando a evolução da safra de cana no Centro-Sul, ficou evidente que uma superprodução era iminente, a menos que enfrentássemos um período extenso de chuvas que impactasse negativamente a safra. Era claro que os fundos especulativos dominavam as altas do mercado e injetavam uma dose significativa de volatilidade, tornando o mercado de Nova York cada vez mais suscetível a variações. Havia uma nuvem altista dominando a percepção de quase todos os participantes do mercado, tornando-os insensíveis aos sinais claros de uma superprodução à vista.

A quarta lição crucial diz respeito aos riscos da especulação excessiva. Muitos no mercado estavam convictos de que os preços em Nova York superariam os 30 centavos de dólar por libra-peso. Como resultado, um volume significativo de opções de compra (calls) acima desse nível foi adquirido, financiado pela venda de um volume igual de opções de venda (puts) abaixo de 25 centavos de dólar por libra-peso. Contudo, quando os fundamentos do mercado se impuseram e os fundos começaram a liquidar suas posições, a queda acelerada dos preços e o aumento da volatilidade – um reflexo do medo de uma queda ainda maior – levaram a um aumento no delta das puts vendidas. Isso exigiu um ajuste na posição especulativa, geralmente realizado através da venda de contratos futuros. Este cenário criou uma “tempestade perfeita”, alimentando ainda mais a queda vertiginosa do mercado.

O resumo dessas lições, se devidamente assimiladas, aponta para uma necessidade imperativa: as empresas devem investir significativamente na capacitação profissional, na inteligência de mercado, e na estruturação de um robusto controle e gestão de riscos para prevenir a repetição de tais situações.

Considerando a projeção de que o Brasil exportará aproximadamente 30 milhões de toneladas de açúcar em 2024/2025, e que 45% desse total ainda não estava fixado no início da queda dos preços, o setor deixou de capitalizar uma riqueza estimada em 2.4 bilhões de dólares. Este cenário sublinha a urgência de investir em uma gestão de risco profissional dentro das empresas. Um mercado mais maduro e preparado para lidar com tais volatilidades não só beneficia as empresas individualmente, mas também fortalece a estabilidade e a previsibilidade do mercado como um todo.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting

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