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Opinião

[Opinião] Açúcar: clima, fundos e meteoro

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O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com números bem robustos. A recuperação foi tão vigorosa que quase deu para ouvir o brinde dos traders em Dubai. O contrato março/25 subiu para 20,40 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 104 pontos (quase 23 dólares por tonelada). Já o contrato maio/25 subiu ainda mais, 129 pontos, fechando em 19,15 centavos. Parece que as usinas ganharam um pouco de folga para respirar. Mas calma lá: com mais de 80% do açúcar já fixado contra maio e julho, os contratos mais longos ainda prometem fortes emoções – ou pesadelos, dependendo do ponto de vista..

A questão agora é entender os fatores por trás desse rali: fundamentos sólidos, ajustes técnicos ou apenas um alívio momentâneo dentro de um mercado volátil? A oferta e demanda continuam sendo os grandes vetores de precificação, e qualquer mudança no balanço pode acelerar ou limitar essa tendência de alta. E o nome do jogo é clima e fundamentos, como os principais protagonistas. No segundo plano, vale observar o comportamento dos fundos cuja posição vendida à descoberto reduziu para 120,838 lotes segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities.

Considerando que o dado tem por base a terça-feira passada em relação à anterior, os fundos reduziram 6,254 lotes para um mercado que oscilou apenas 21 pontos. Parece-nos que o mercado vai interpretar essa redução como construtiva. Para zerar a posição, em tese, os fundos poderiam colocar NY acima dos 22 centavos de dólar por libra-peso! Calma, segure seu entusiasmo.

O evento em Dubai reforçou o otimismo de curto prazo no mercado de açúcar, com traders saindo animados e debatendo projeções de safra e preços. As estimativas para a produção 2025/26 no Centro-Sul ainda mostram divergências, oscilando entre 590 e 620 milhões de toneladas de cana, enquanto nossa projeção se mantém em 597 milhões de toneladas, resultando em uma produção de 41,5 milhões de toneladas de açúcar.

O consenso entre os participantes do evento é que o clima será o principal fator de influência nos preços, seguido pelos fundamentos do mercado. A pesquisa realizada durante o evento revelou que 60% dos participantes estimam a produção brasileira entre 40 e 42 milhões de toneladas, enquanto 21% esperam algo entre 38 e 40 milhões, e o restante aposta em um volume entre 42 e 44 milhões de toneladas.

No que diz respeito às expectativas de preços, a dispersão de opiniões reflete a incerteza do mercado: a) 43% acreditam que os preços oscilarão entre 19 e 22 centavos de dólar por libra-peso até o final de 2025; b) 41% apostam em uma faixa inferior, entre 16 e 19 centavos de dólar por libra-peso; c) 10% veem possibilidade de preços entre 22 e 25 centavos de dólar por libra-peso; d) Menos de 6% acreditam que o mercado pode cair abaixo dos 16 centavos de dólar por libra-peso. Otimismo pontual pode estar ligado ao comportamento recente dos preços e à recuperação da semana, mas a cautela de médio prazo sugere que os participantes ainda enxergam riscos à frente, principalmente relacionados ao clima e à dinâmica da oferta global.

O entusiasmo gerado por eventos internacionais como o de Dubai é natural, muitas vezes impulsionado pelo clima positivo das interações e reuniões festivas. No entanto, o mercado precisará de dados concretos a partir de abril, especialmente sobre o tamanho da safra brasileira e as condições climáticas em Índia, China e Tailândia, que podem influenciar significativamente a oferta global.

Um dos pontos mais relevantes da semana foi a movimentação do câmbio. O Real rompeu a barreira dos R$ 5,70, chegando a negociar na mínima de R$ 5,6933, o menor nível dos últimos 100 dias. Além disso, a quebra da média móvel de 200 dias sugere que o movimento de desvalorização do dólar pode continuar, com espaço para mais vendas na próxima semana. Vale lembrar que o dólar chegou a R$ 6,3144, e desde então já caiu quase 10%, um ajuste expressivo.

Essa valorização do Real tem implicações importantes, principalmente no setor de combustíveis. A defasagem entre o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras e o mercado internacional já atinge 7% (era 10%), o que tecnicamente abre espaço para um reajuste de preço caso a estatal busque alinhar sua paridade. Se isso ocorrer, pode ter reflexos no mercado de etanol, adicionando mais um fator de atenção para os próximos meses.

Nosso colaborador Marcelo Moreira comenta que após 40 pregões o vencimento Março-25 voltou a encerrar acima da importante resistência da média-móvel dos 50 dias que agora virou um importante suporte no curto prazo. Próximas resistências estão a 20,85 / 21,40 e 23,40 centavos de dólar por libra-peso e próximos suportes a 20,37 / 19,60 / 18,67 e 18 centavos de dólar por libra-peso. Já o vencimento Julho-25 encerrou a 18,78 centavos de dólar por libra-peso, acima da importante média móvel dos 100 dias!! Se mantiver acima dessa média-móvel dos 100 dias próximos objetivos são @ 19,20 e 20,00 e 20,50 centavos de dólar por libra-peso! Suportes @ 18,62 e 17,94 centavos de dólar por libra-peso.

O mundo de Trump segue firme no campeonato mundial de absurdos. Cada dia é um episódio novo, sempre superando o anterior no quesito “isso não pode ser sério”. Agora, segundo uma TV americana, só as taxas geradas em menos de duas semanas de negociação da gloriosa criptomoeda lançada por Trump, a $Trump, renderam a bagatela de 100 milhões de dólares. Uma aula magna de corrupção moderna, com blockchain e tudo. E como qualquer pirâmide que se preze, os sortudos que compraram essa maravilha financeira já viram seu patrimônio derreter 70,36% desde o lançamento. Mas é como dizem: todo dia um esperto e um otário acordam de manhã. Quando os dois se encontram, nasce uma “oportunidade imperdível” dessas. Mas nem tudo está perdido! Finalmente, uma boa notícia: a chance de um meteoro acertar a Terra em 2024 subiu para 2%. Pequena, mas esperançosa. Vai que a gente consegue um reset decente nesse planeta?

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting

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