O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o contrato de outubro/25 cotado a 15.50 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 29 pontos em relação à sexta-feira anterior — o equivalente a 6,40 dólares por tonelada. Os demais vencimentos, até maio/2028, também não escaparam: retrações entre 28 e 36 pontos, ou seja, 6 a 8 dólares por tonelada a menos no bolso.
Em resumo: o mercado entrou em modo pânico. É aquele momento em que os fundamentos tiram férias, a lógica some do mapa e a histeria coletiva assume o comando. Preços passam a refletir mais medo do que realidade, decisões são tomadas como quem apaga incêndio com copo d’água, e gestores confundem improviso com estratégia — depois, se der certo, chamam de competência.
A pergunta que todos fazem é “o que deu errado para que os preços em NY não se elevassem?”. Acredito que pelas inúmeras conversas que tivemos com participantes do mercado alguns pontos foram subavaliados. A recuperação da ATR, segundo um experiente agrônomo, ocorreu porque as primeiras canas no início da moagem eram de áreas que foram parcialmente atingidas pela seca e incêndios do ano passado, mas depois da última quinzena de julho as canas de replantio e as chuvas normais ajudaram a recuperar a ATR.
Muitas usinas, na esperança de capturar preços melhores, embarcaram seus açúcares a partir de maio, mas deixaram as fixações para depois. O problema é que a “recuperação” esperada nunca chegou. Cansadas de esperar por um milagre, o mercado entrou naquele momento clássico do “me tira daqui”, e essa debandada acabou servindo de presente para os fundos, que aproveitaram para ampliar ainda mais suas posições vendidas.
De maio até agora, os fundos engordaram suas vendas a descoberto em mais de 120 mil contratos!!! É quase como se dissessem: “já que vocês desistiram de acreditar na alta, nós acreditamos… mas na queda.”
Hoje, o CFTC (Commodity Futures Trading Commission) agência americana reguladora dos mercados de commodities publicou a posição dos especuladores com base no fechamento do dia 16 de setembro e eles estão 151,051 short, recomprando 31,557 lotes no período de 9 a 16 de setembro. A pequena alteração nos preços corrobora com o que dissemos acima, ou seja, ao recomprarem a posição, as usinas atrasadas deram liquidez.
Outro fator que colaborou com a queda recente foi o desempenho da moagem nas últimas quatro quinzenas. Comparando os acumulados, até agora o Centro-Sul moeu 403,9 milhões de toneladas de cana contra 424,2 milhões no mesmo período da safra anterior. Parece queda, mas o diabo mora nos detalhes: quando olhamos só para as quatro últimas quinzenas, no ano passado elas representavam 43,4% do acumulado até então; já nesta safra, elas respondem por 49%. Em outras palavras, a moagem ganhou ritmo, sem tropeços climáticos — e o mercado, sempre nervoso, resolveu ler isso como mais oferta vindo pela frente.
O mix até o momento está em 52,76% de açúcar, mas a tendência é de uma leve queda. Há quem comente que muitas usinas devem encerrar a moagem no final de outubro e que a previsão de moagem em março, de 14 milhões de toneladas de cana, será majoritariamente alcooleira. Traduzindo: o açúcar vai perder espaço para o etanol — mas, até lá, o mercado já terá passado por mais alguns capítulos de ansiedade coletiva.
Assumindo uma moagem total de 595 milhões de toneladas de cana, com ATR média de 135,32 e mix de 52%, chegamos a uma produção de açúcar encostando nos 40 milhões de toneladas (39,9 para ser mais preciso). Se o mix cair para 51,5%, o número recua para 39,5 milhões. Agora, se aquelas 14 milhões de toneladas projetadas para março/26 realmente vierem, mais alcooleiras, a produção cai ainda mais: para 39,3 milhões de toneladas. E, caso a moagem total não passe de 590 milhões de toneladas, mantendo tudo o mais constante, a produção ficaria pouco acima dos 39 milhões de toneladas.
Ou seja: o cenário é apertado, mas não é apocalíptico. O problema é que, no mercado, quando os números não atendem às expectativas, o drama toma conta e os preços passam a reagir mais como novela mexicana do que como planilha de Excel.
Imagine um piloto tentando decolar um avião sem nunca ter passado por treinamento, sem simulações, sem horas de voo. Você entraria nessa aeronave? Certamente não. Então por que permitir que a sua empresa encare a turbulência dos mercados sem uma política estruturada de gestão de risco, sem treinamento adequado e sem ferramentas para mitigar perdas?
Vamos a um exemplo. Volte o relógio para 1º de outubro de 2024. Naquele dia, olhando para a safra 26/27, a média simples dos fechamentos (maio, julho e outubro de 2026 e março de 2027) era de 18,23 centavos de dólar por libra-peso — 236 pontos acima do nível desta sexta. O dólar, por sua vez, negociava a R$ 5,4368, ou seja, R$ 0,1100 melhor do que hoje. Se, naquele momento, a usina tivesse fixado seus açúcares para a safra 2026/27, assumindo que o cupom cambial pagasse pelo menos 8%, a média final seria de R$ 2.642 por tonelada. Se fizer a mesma operação hoje, conseguiria R$ 2.102 por tonelada. Em bom português: R$ 540 por tonelada foram jogados pela janela por falta de uma política de risco.
“Ah, mas o mercado podia subir”, dirão alguns. Claro, mas como ninguém tem bola de cristal, é preferível travar uma margem de R$ 800 por tonelada na época, do que “apostar” na alta sem nenhum suporte fundamentalista. Ainda assim, dando o benefício da dúvida, a usina poderia ter comprado uma call (opção de compra) 200-300 pontos acima do nível do mercado — naquele momento, uma opção com strike de 21 centavos de dólar por libra-peso. Assim, teria garantido participação na eventual alta caso o mercado continuasse subindo.
“Ah, mas isso custa dinheiro”, dirão outros. Evidente que custa. Você está pagando um seguro. Gestão de risco não é luxo, é sobrevivência. Assim como a aviação se apoia em treinamento rigoroso, protocolos e disciplina para evitar tragédias, o mercado de commodities exige preparo para enfrentar choques e volatilidade. Ignorar isso é colocar sua empresa no ar com um piloto amador: cedo ou tarde, o avião vai cair — e, ao contrário da aviação, aqui não existe caixa-preta para explicar o desastre depois. Só há uma conclusão possível: você morreu.
Nosso colaborador Marcelo Moreira: Finalmente o gap em aberto desde 17 de novembro de 2.022 a 15.28 centavos de dólar por libra-peso fechou! O vencimento out-25 negociou na mínima da semana a 15.16 centavos de dólar por libra-peso e fechou a 15.50 centavos de dólar por libra-peso! Apesar de ter encerrado ainda abaixo do piso da Banda de Bollinger dos 50 dias (15.51 centavos de dólar por libra-peso) as próximas resistências estão bem próximas e qualquer movimento dos fundos poderá ser explosivo! Próximas resistências a 15.51/15.75/16.24/16.63/17.00 e finalmente 17.44 centavos de dólar por libra-peso. Com o vencimento outubro-25 se aproximando e a entrada da entressafra brasileira atenção! O próximo vencimento março-26 encerrou a 16.18 centavos de dólar por libra-peso e próximas resistências a 16.43/16.89/17.88 centavos de dólar por libra-peso (média móvel dos 200 dias)! Se romper a média-móvel dos 200 dias próximo objetivo novamente nos 20 centavos de dólar por libra peso.
*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting