Home Opinião [Opinião] Açúcar: sem tempestades nem trovões
OpiniãoÚltimas Notícias

[Opinião] Açúcar: sem tempestades nem trovões

Após duas temporadas consecutivas de superávit mundial de açúcar, a safra 2019/20 pode registrar déficit.
Compartilhar

O mercado futuro de açúcar em NY levou uma surra na semana que passou. O vencimento maio/24 mergulhou em queda livre nesta semana, encerrando a sexta-feira cotado a 20.47 centavos de dólar por libra-peso, encolhendo 147 pontos – equivalentes a mais de 32 dólares por tonelada – que somada à desvalorização do real em relação ao dólar (que chegou a bater 5,1485) provocou uma retração do açúcar em 139 reais por tonelada comparativamente à semana passada.

Se o céu permanecer limpo sem tempestades e trovões, nem revoadas de cisnes negros, os fundamentos se impõem e não há como resistir a eles. Os fundos especulativos de acordo com o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado na sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base nos dados de terça anterior, estavam comprados pouco mais de 33,000 lotes, reduzindo 40% do volume que tinham uma semana antes. Mercados mais voláteis como o cacau e cafépode estar provocando essa oscilação na posição dos especuladores que fazem voos curtos com suas posições.

Quem viaja pelo interior e observa os canaviais compactos, verdejantes e saudáveis acaba vendo diminuir sensivelmente qualquer sentimento altista que possa ter. Os números de previsão de moagem de cana de vários participantes e analistas de mercado para o Centro-Sul na safra 24/25 estão na média 604.5 milhões de toneladas se extirpadas do cálculo os extremos, segundo dados compilados pela Novacana.

Pelo relatório publicado pela UNICA, o Centro-Sul encerrou a safra 23/24 esmagando um total de 654.4 milhões de toneladas de cana que produziram 42.4 milhões de toneladas de açúcar e 27.3 bilhões de litros de etanol (além dos 6.3 bilhões de litros de etanol de milho). Para a safra que se inicia, caso a projeção de produção de cana se concretize, o mercado terá uma queda de 7.5% na quantidade de cana a ser esmagada.

É bom lembrar que a expectativa do mercado é de que o mix de açúcar pule dos 48.9% observados na safra que se encerrou para 51.8% esperados na safra corrente. Dessa forma, a produção final de açúcar deve sofrer uma redução de apenas 500 mil toneladas, sem reflexo na disponibilidade do produto. No entanto, caso o mix se mantivesse inalterado, a redução na produção de açúcar seria de quase 3 milhões de toneladas. Em outras palavras, uma mexida no mix faz com que o Brasil compense a falta de açúcar da Tailândia, por exemplo.

A combinação recente de melhores preços (como na semana anterior) e real mais fraco acelerou o movimento de fixação de preços por parte das usinas. Muito embora os preços em centavos de dólar por libra-peso estejam aquém dos níveis vistos no início do último trimestre de 2023, os valores em reais por tonelada ainda continuam atrativos. É fato que as usinas que investiram em fábrica de açúcar fizeram muito bem em fixar preços, obtendo um retorno sobre o projeto de forma mais rápida e consistente.

Interessante notar que a média dos últimos 10 anos dos fechamentos de NY convertidos em reais e corrigidos pelo IPCA, equivale a R$ 2,143 por tonelada, o que coloca o suporte teórico de longo prazo de NY, em torno de 18.75 centavos de dólar por libra-peso. Esse é o nível que nos parece ser o chão do mercado, espécie de suporte de longo prazo.

Outro ponto digno de nota é que até a última quinzena de março, a produção acumulada de açúcar atingiu 30.2 milhões de toneladas, 0.4% maior do que o mesmo período da safra passada. 210 usinas ainda permaneciam em operação contra 187 o ano passado. Traduzindo: tem cana ainda a ser moída e o numero final será maior do que o do ano passado.

Preparem-se para um mercado com mais volatilidade no segundo semestre. Uma eventual vitória de Trump vai trazer mais instabilidade no cenário geopolítico com implicações nas commodities energéticas. Bom ficar de olho e buscar alternativas de proteção.

O vencimento maio-24 encontrou forte resistência na média móvel dos 100 dias a 22,60 e realizou rompendo o suporte da banda de Bolliger dos 50 dias a 20.70 encerrando a semana na mínima do ano a 20.47 centavos de dólar por libra-peso. próximos suportes a 19.80 / 19.09 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 21.60 / 22.10; já o julho-24 encerrou a semana a 20.15 centavos de dólar por libra-peso com próximo suporte relevante apenas a 18.53 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 21.30 centavos de dólar por libra-peso e 21.70 centavos de dólar por libra-peso

* Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting

Compartilhar
Artigo Relacionado
Últimas Notícias

Norges Bank reduz participação como acionista da Raízen

Banco central da Noruega havia comunicado aquisição de fatia relevante em fevereiro...

Últimas Notícias

Preço dos CBios caem para R$ 67 em abril e preocupa setor de biocombustíveis

CBios têm menor valor desde o início do ciclo 2025; volume negociado...

Últimas Notícias

Cocal investe R$ 25 milhões em segunda usina solar no oeste paulista

A Cocal iniciou em abril a operação de sua segunda usina solar...

Últimas Notícias

Etanol sobe 5,4% no ano e já acumula alta de 14,3% em 12 meses

Preços do etanol e da gasolina recuam em abril, mas seguem mais...