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[Opinião] Açúcar: volume fraco, spreads fortes
NY teve uma semana com baixo volume de negociação, talvez afetado pelas festividades da semana do açúcar em Londres com seu tradicional Jantar de Gala (desde 1953), onde se reuniam os principais tomadores de decisão. A média de negociação de 85,000 lotes na semana ficou 40% abaixo da média diária do ano. De qualquer maneira, apesar da menor atividade, o mercado encerrou a semana como vencimento março-25 cotado a 22.14 centavos de dólar por libra-peso, 11 pontos abaixo do fechamento a sexta-feira passada. Todos os demais vencimentos fecharam em território negativo variando entre 6 e 17 pontos de queda (1.30 a 3.80 dólares por tonelada)
O que impressiona são os spreads março-maio e maio-julho, que continuam bastante robustos. O primeiro com 172 pontos e o segundo com 93 pontos. Ou seja, o mercado paga um prêmio de 38 dólares por tonelada para o açúcar de março sobre o açúcar de maio e de 21 dólares por tonelada para o maio sobre o julho. E por que isso ocorre?
O fortalecimento do spread reflete uma conjunção de elementos. Restrição de oferta agora enquanto o mercado procura adivinhar qual será o total da moagem e, também, como será o início da próxima safra do Centro-Sul, com a incerteza em relação ao tamanho e a extensão da seca e dos incêndios. As tradings e os consumidores industriais podem estar buscando garantir o produto para entrega no curto prazo, evitando riscos de escassez. E isso torna o spread explosivo. Evidentemente, como o spread maio-julho, embora positivo, é menor do que o março-maio, o mercado espera uma normalização da oferta ao longo do tempo.
Um componente forte que pressiona a curva adiante é o câmbio e a taxa de juros. Como as instituições financeiras oferecem o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, este embute o valor do câmbio no spot acrescentado da diferença de taxa de juros externa e interna. O cupom cambial é a taxa de juros implícita em operações que envolvem a diferença entre os mercados doméstico e internacional. Em commodities como o açúcar, ele mede a rentabilidade obtida ao aplicar em dólares no mercado local em comparação com a rentabilidade de uma aplicação em reais.
As fixações em reais por tonelada são apetitosas. Essa semana o março-25 beliscou R$ 3,000 por tonelada enquanto as usinas raspam o tacho para aproveitarem os preços altamente remuneradores. O preço médio de fechamento da safra 25/26 (média simples dos vencimentos maio-25 até mar-26) foi de 2,736 reais por tonelada enquanto a 26/27, pelo mesmo critério foi de 2,635 reais por tonelada.
Na semana que se encerrou, o dólar fechou a R$ 5.6898 logo depois de bater R$ 5.7031, desvalorizando 1.33% na semana. Há quatro longos meses que o dólar se segura entre R$ 5.4000 e R$ 5.7500 com a média no período estacionando nos R$ 5.5200.
O mercado de energia, por sua vez, continua anêmico. Apesar dos conflitos, das guerras, das invasões, a dificuldade de o petróleo manter acima dos 75 dólares por barril (WTI) ou 80 dólares por barril (Brent) é visível. Tem muito petróleo no mundo e a mobilidade urbana mudou desde a pandemia da Covid-19, reduzindo o consumo de combustíveis. A defasagem do preço da Petrobras em relação ao mercado internacional na sexta-feira feira era de apenas R$ 0,04 por litro, diferença que desaparece se o dólar voltar ao nível de R$ 5.6000.
Análise técnica (por Marcelo Moreira): O vencimento para março de 2025 encerrou em 22.18 centavos de dólar por libra-peso (máxima, mínima e fechamento respectivamente em 22.95 / 21.71 / 22.18 centavos de dólar por libra-peso). Durante toda a semana, o mercado operou ligeiramente abaixo da média móvel de 9 dias, fechando a semana em 22.28 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão em 22.95, 23.36 e 24.36 centavos de dólar por libra-peso, enquanto os suportes se encontram em 21.61, 20.63 e 20.03 centavos de dólar por libra-peso.
A gente não sabe como é saber das coisas que sabemos e pensamos que ao falar sobre essas coisas, todo mundo entende. Não é assim que funciona. Por isso, quando escrevo um texto, faço questão de escolher cada palavra com o máximo cuidado. Quanto mais gente entender o que escrevi, melhor para todos. Lembro de um episódio marcante de um curso de derivativos que ministrei há um par de anos. No fim da última aula, perguntei a um aluno o que ele tinha achado do curso. A resposta dele foi uma daquelas que você nunca esquece: “Professor, antes eu nem sabia o que eu não sabia. Agora eu já sei o que eu não sei.” Achei a resposta brilhante. Ela ilustra bem o que acontece quando somos expostos a algo que nunca imaginamos existir – e que, de repente, se revela essencial para o nosso negócio. Foi exatamente isso que aconteceu no curso: ao entender a importância da gestão de risco, ele percebeu que sua responsabilidade como executivo havia mudado para sempre.
*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting
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