em investidor que planta milho. Tem outros que plantam estratégia.
Na última semana, o mercado foi sacudido pela notícia de que a Inpasa, maior produtora de etanol de milho do Brasil, estaria adquirindo uma fatia relevante da Vibra, distribuidora dona da bandeira BR. A leitura imediata foi de que a empresa havia feito um movimento direto de verticalização. Mas como diria mineiro antigo: “quem ouve um canto só, entende a metade da cantiga.”
A realidade é um pouco diferente — e talvez até mais interessante.
O que foi esclarecido oficialmente?
Em 4 de julho de 2025, a Inpasa divulgou uma nota oficial esclarecendo que não está comprando ações da Vibra por meio da sua pessoa jurídica.
Segundo o comunicado, a aquisição — que já alcançou cerca de 3% das ações da distribuidora — foi feita por um fundo de investimento familiar, ligado ao empresário José Odvar Lopes, fundador do grupo Inpasa.
O objetivo declarado? Puramente financeiro, sem qualquer vínculo estratégico ou societário com a empresa.
Ou seja, não é a Inpasa que entrou na Vibra — foi o seu fundador, via fundo privado.
Mas o que isso nos diz sobre o futuro? Pode não ter sido um movimento institucional da Inpasa — mas ninguém aporta mais de R$ 700 milhões em ações de uma distribuidora à toa, muito menos um empresário que conhece como poucos os caminhos do setor.
E se não é movimento estratégico hoje, pode perfeitamente preparar terreno para o que vem amanhã. Essa é a parte que interessa pra quem vive, respira e investe no downstream brasileiro.
O que isso sinaliza para o mercado?
1. Aproximação gradual entre produção e distribuição
José Odvar já tem o etanol. Agora observa de perto a logística, a bomba, a rede. Estratégia clássica de quem vislumbra sinergias.
2. Movimento semelhante à Raízen no passado
Antes de se consolidar como gigante integrada, a Raízen também começou com movimentos bem planejados — do canavial ao consumidor final.
3. Pressão indireta por inovação e eficiência
A entrada de um novo acionista — mesmo que via fundo — pode influenciar visões, conselhos e prioridades em temas como biocombustíveis, logística sustentável, captura de CO₂, entre outros.
E o que muda pro revendedor?
Por enquanto, nada. Mas o setor está em ebulição. E esse tipo de movimento nos mostra que quem tem produção em escala e visão estratégica vai buscar cada vez mais presença no canal final — seja por aquisição, parceria ou influência acionária.
A mensagem para o varejo e os pequenos distribuidores é clara: prepare-se para um mercado mais integrado, mais competitivo e mais estratégico. Mas sempre lembrando que a entrada de acionistas e bolsa necessitam de maior atratividade na distribuição de dividendos também . Regra do jogo.
Hoje, quem está de olho na bomba… é quem conhece muito bem a lavoura.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.