Nesta semana, a Usina Rio Brilhante encerra sua safra. Para quem vê de fora, pode parecer apenas o fechamento de mais um ciclo agrícola. Para quem conhece o setor, sabe que não é assim.
O término de uma safra nunca é um ato simples. Ele carrega silêncio, expectativa e muitas perguntas. E quando esse encerramento ocorre junto a uma transição societária relevante, como agora, o momento ganha ainda mais peso simbólico.
Safra que termina não é só cana que para de moer.
É cidade que desacelera.
É trabalhador que refaz contas.
É fornecedor que observa com atenção o próximo passo.
A Rio Brilhante fecha sua última temporada sob gestão da Raízen num contexto mais amplo de reorganização estratégica da companhia. Um movimento que não surge do improviso, mas da leitura fria de um novo ciclo econômico e energético.
É importante dizer com clareza: isso não é sinônimo de fracasso. É decisão. E decisões difíceis fazem parte da vida das empresas grandes, intensivas em capital e expostas a ciclos longos.
A transição para a Cocal traz um elemento relevante: continuidade. Continuidade operacional, ampliação de capacidade e crescimento do quadro de colaboradores. Isso não elimina as apreensões naturais de quem vive o dia a dia da usina, mas sinaliza que o ativo segue vivo, produtivo e com papel econômico relevante para a região.
Aqui mora um ponto essencial que nunca pode ser esquecido: capital e trabalho não são adversários. São interdependentes. Não existe empresa sustentável sem gente comprometida. E não existe emprego duradouro sem empresa economicamente saudável.
O encerramento desta safra também conversa com o futuro do etanol. Um futuro que será menos tolerante a ineficiências, mais exigente em governança e mais seletivo na alocação de recursos. O discurso ambiental permanece importante, mas não anda sozinho. Eficiência, escala e previsibilidade passaram a ser palavras-chave.
O setor sucroenergético já atravessou muitos ciclos. Aprendeu a cair, levantar e se reinventar. O maior risco agora é a leitura apressada, carregada de emoção ou torcida.
Safras terminam. Outras começam. O que não pode terminar é a capacidade de olhar o longo prazo com serenidade. Como diria um velho mineiro da roça: safra boa não é a que acaba sem dor, é a que prepara bem o terreno da próxima.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.

