Cortar o supérfluo e focar no essencial é uma reação natural em épocas de “vacas magras”. Boa parte de nós já passou por algum aperto financeiro na vida. Causas variadas, mas, consequências parecidas: sem dinheiro, só o necessário. Mas, você focaria na redução da alimentação e saúde em detrimento de outras coisas?
Pois bem, trazendo essa analogia para o setor sucroenergético, algumas situações começam a preocupar. Estamos em fase de orçamento. E, com as expectativas de baixistas de preços, é natural termos uma reação de investimentos mais enxutos para o próximo ciclo. No entanto, temos que ter cautela para que o natural não se torne perigoso.
Na produção agrícola, infelizmente, os principais gatilhos de corte de custos e redução de orçamento se dão em duas frentes: segurar áreas de reforma de canavial e diminuir os tratos culturais.
O primeiro (e mais perigoso), com os custos de formação do canavial em torno de R$ 17 mil por hectare, a não renovação de áreas é uma injeção de alívio para o fluxo de caixa das empresas. Uma injeção, no entanto, que pode se tornar letal. Afinal, você está entrando no “cheque especial” da sua produção.
A segunda opção é o “parque de diversão” das navalhas de reunião de orçamento. Toda planilha orçamentária tem as células de dose. Doses de fertilizantes, herbicidas, etc. Invariavelmente, elas vêm acompanhada do sussurro do capeta: “será que precisa de tudo isso mesmo?”. Veja bem, em números hipotéticos, se você reduzir de 500 para 400 kg/ha a dose de um fertilizante que custa R$ 3.000/t, a diferença é de R$ 300/ha. Isso em 40 mil ha, representa uma “economia” de R$ 12 milhões safra.
Resolve o orçamento? Sim. Lindo, se não houvesse consequências. Infelizmente, a métrica da produtividade agrícola não segue o atingir meta do Excel e perpetuidade do negócio pode estar em risco.
Pergunta: será que estamos focando no lugar certo? Considerando os custos de produção (ilustrados na imagem), do custo para produzir 1 tonelada de cana, cerca de 25% são insumos. Os custos com operação (máquina, mão-de-obra, diesel), por sua vez, representam 45%. Ou seja, a operação é o grande protagonista.

Para se ter uma ideia (um dos exemplos), uma colhedora de cana, em média, trabalha efetivamente, das 24 horas, 11 horas de “esteira” por dia. 45% de aproveitamento. Pergunta 2: quanto de dinheiro tem se aumentarmos 1 hora de operação por máquina/dia? Precisamos da mesma quantidade de máquinas? De operadores? De manutenção? De diesel? Para se ter uma ideia, bons exemplos, chegam a 15 horas efetivas por dia. Qual o incomodo? Melhorar o operacional dói. Não é fácil. E os resultados não aparecem no curto prazo.
Mas… precisamos entregar o orçamento. E reduzir. Onde estão as células de área de reforma e insumos?
Voltando a introdução, cuidado. Pode ser que estamos reduzindo a “alimentação e saúde”, em vez de procurar outras oportunidades. E, como diria minha mãe: saco vazio não para em pé. Usina sem cana também não.
*João Rosa, o Botão é engenheiro agrônomo e sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos

