Tem usina fechando. Tem grupo vendendo cana, contrato e terra. Mas, acima de tudo, tem uma gigante tentando reencontrar seu eixo entre o que planta e o que entrega.
A Raízen, maior produtora de etanol do Brasil, acaba de anunciar a descontinuação da tradicional Usina Santa Elisa, em Sertãozinho (SP). Parte de uma estratégia maior: reciclagem de portfólio, alívio financeiro e foco em eficiência.
Foi negociada a venda de até 3,6 milhões de toneladas de cana por até R$ 1,045 bilhão, com pagamento à vista — cerca de US$ 53 por tonelada, num mercado ainda pressionado por custos. Seis grupos compraram partes da operação: São Martinho, Alta Mogiana, Bazan, Batatais, Pitangueiras e Viralcool.
A São Martinho, aliás, levou também 10.600 hectares de terras canavieiras, num raio estratégico da unidade de Pradópolis. A previsão é moer até 800 mil toneladas dessas áreas em 2028/29, sem precisar investir em novas usinas. Um movimento cirúrgico, de quem sabe onde a margem escapa.
Raízen vem enfrentando desafios:
– Dívida líquida acima de R$ 30 bilhões
– EBITDA em queda de 28,6%
– Lucro líquido de R$ 1,3 bi, frente aos R$ 4,7 bi do período anterior
Mas não está paralisada. Com Nelson Gomes ( ele assumiu o cargo em novembro de 2024), no comando, a empresa vem tomando decisões que exigem coragem e pragmatismo.
E é nesse momento que o canal revendedor ganha destaque.
Nos últimos meses, o mercado sentiu a mudança de postura:
- A Raízen voltou a investir no posto com força — imagem, proposta de valor e condição comercial
- Ofereceu aos revendedores um pacote robusto de negócios, tecnologia e aproximação
- E reacendeu o protagonismo da revenda como elo com o consumidor final
Mas atenção: isso não significa que o agro ficou em segundo plano. Muito pelo contrário. O agro continua sendo o alicerce do modelo Raízen. Sem cana, não há etanol. Sem etanol, não há diferencial competitivo. O que vemos é uma tentativa legítima de recalibrar os dois pilares, com foco, sinergia e rentabilidade.
A Santa Elisa fecha. Mas o que se abre é um novo ciclo. A Raízen busca o equilíbrio entre raiz e revenda, entre moagem e margem, entre dívida e direção. E quem conhece o setor sabe: às vezes, é preciso podar para a lavoura respirar.
Mas sem esquecer que a raiz também sustenta a flor.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.