Policiais civis interditaram 49 postos de combustíveis nesta quarta-feira, 5, em cidades do Piauí, Maranhão e Tocantins
O Primeiro Comando da Capital (PCC) estava construindo uma distribuidora de combustível na rodovia que liga a capital do Piauí, Teresina, ao município de Altos para abastecer outros estados da região. A informação foi divulgada nesta quarta-feira, 5, pela Polícia Civil do Piauí durante coletiva de imprensa.
Policiais civis interditaram 49 postos de combustíveis nesta quarta-feira em cidades do Piauí, Maranhão e Tocantins durante a operação Carbono Oculto 86, que investiga a lavagem de dinheiro da facção criminosa. O esquema movimentou R$ 5 bilhões, de acordo com a polícia.
“O Piauí é geograficamente estratégico porque tem a única capital no interior. Esse grupo estava construindo uma distribuidora de combustível, na estrada para Altos, para irrigar os outros estados. São alimentados pelo braço financeiro do PCC, que estava na Faria Lima”, disse o secretário de segurança do Piauí, Chico Lucas.
De acordo com o delegado Laércio Evangelista, coordenador do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco), o imóvel onde a distribuidora estava sendo construída foi interditado. “Vamos investigar se eles iam usar a obra como ponto de adulteração de combustíveis”, apontou o delegado.
Ainda de acordo com o secretário de segurança, a infiltração da facção no setor de combustíveis trouxe desequilíbrio aos consumidores, tanto pela “bomba baixa” quanto pela adição de substâncias ao combustível. Segundo ele, as adulterações em postos começaram a ser notadas em 2023.
Chico Lucas destacou ainda que três dos postos investigados possuem mais de 20 autuações na Justiça entre 2023 e 2025. O secretário também revelou que há registros de ameaças da facção contra os empresários proprietários dos postos, como em outros estados, como São Paulo.
No Piauí, ainda não há registros de ameaças. “Aqui no Piauí, o PCC os pressionava com preços mais baixos nos combustíveis”, completou Chico Lucas.
Como era o esquema
De acordo com a Polícia Civil do Piauí, o valor de R$ 5 bilhões foi identificado em movimentações atípicas das empresas envolvidas no esquema. A suspeita é que o modus operandi seja semelhante ao descoberto na operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto.
Segundo os investigadores, empresários locais estão ligados aos mesmos fundos e operadores já identificados operação de agosto, considerada a maior operação contra o crime organizado já realizada no Brasil.
Para dificultar a identificação dos reais beneficiários, os suspeitos usaram nomes de laranjas, constituíram fundos e usaram fintechs para movimentações financeiras, mesmo modo de operação verificado na outra operação.
De acordo com o delegado Anchieta Nery, diretor de inteligência da SSP-PI, o ex-vereador e ex-secretário Victor Linhares, um dos alvos, foi instruído a abrir uma conta na fintech BKBank, alvo de operação da Polícia Federal há seis meses e conhecida como a “fintech do PCC”.
“Ele recebeu um Pix de R$ 230 mil de um dos investigados, movimentou o valor para outra conta e nunca mais a acessou”, detalhou o delegado.
A investigação aponta ainda que os postos vendiam combustível adulterado e cometeram fraude fiscal para deixar de pagar milhões de reais em impostos.
Quem são os alvos
O empresário Haran Santhiago e outros cinco investigados – Danillo Coelho de Sousa, Moisés Eduardo Soares Pereira, Salatiel Soido de Araújo, Denis Alexandre Jotesso Villani e João Revoredo Mendes Cabral Filho – foram alvos de medidas cautelares. A defesa deles não foi encontrada até a última atualização desta reportagem.
A Justiça determinou que eles compareçam ao tribunal sempre que forem intimados. Eles estão proibidos de sair de Teresina e mudar de endereço e se comunicar com os demais investigados
Além disso, de acordo com a SSP, os policiais interditaram postos localizados nas seguintes cidades:
- Piauí: Teresina, Lagoa do Piauí, Demerval Lobão, Miguel Leão, Altos, Picos, Canto do Buriti, Dom Inocêncio, Uruçuí, Parnaíba e São João da Fronteira
- Maranhão: Caxias, Alto Alegre e São Raimundo das Mangabeiras
- Tocantins: São Miguel do Tocantins
G1| Sthefany Prado, Eric Souza e Marina Sérvio

