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Plantio de Cana: escassez da mão de obra pressiona avanço na mecanização

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Estudo Campo Futuro realizado pela CNA/Senar mostra que escassez de mão de obra tende a encarecer o plantio de forma manual

Nos últimos anos, a mão de obra rural tem sido um dos principais assuntos na gestão de custo e decisões operacionais relacionadas aos canaviais de usinas e produtores. Apesar de o desafio ser ainda maior na região Nordeste, onde ainda existe a predominância da mão de obra na colheita de cana-de-açúcar, no Centro-Sul, havendo mecanização quase total da colheita, a dificuldade na contratação de mão de obra tem impactado mais fortemente o plantio, levando à progressiva migração para a modalidade mecanizada, incentivada por custos crescentes da força de trabalho. Além disso, destaca-se a chegada ao mercado de plantadoras mais modernas e que contribuem para a eficiência do processo.

O estudo mais recente do projeto Campo Futuro, realizado pela CNA/Senar, com apoio do Pecege, mostrou as variações entre o levantamento de custos das edições 2022 e 2023 (lado esquerdo) e entre as edições de 2023 e 2024 (lado direito), onde é possível verificar que o custo da mão de obra rurícola no Nordeste, nas duas últimas edições do projeto se elevou acima do Centro-Sul. Porém, é notável que na edição 2024 a elevação em ambas as regiões superou o incremento no salário-mínimo, evidenciando um mercado de trabalho apertado em termos de oferta e demanda.

“Dada a maior dependência da região Nordeste para com o trabalho rurícola, esse aspecto tem-se colocado como um dos maiores desafios de longo prazo para a produção canavieira na região. Ao contrário das flutuações de preços de insumos agrícolas ou combustíveis, os fatores que têm levado ao encarecimento da mão de obra são estruturais e difícil modificação”, afirmou o documento.

Impacto da mecanização sobre os custos de produção 

A recuperação da modalidade de plantio mecanizado frente à manual segue provocando discussões acerca de seu impacto sobre os custos de produção. De acordo com o estudo Campo Futuro, a não homogeneidade da adoção do plantio mecanizado pode ser observada na dispersão dessa categoria.

Entre as edições de 2021 e 2024, dos 56 painéis realizados, em apenas 22 foi apontado algum grau de mecanização do plantio, isto é, cerca de 39%. “Em nenhum dos painéis da região Nordeste foi apontada mecanização do plantio, pois – assim como ocorre com o processo de colheita – a maior declividade dos terrenos limita a mecanização da operação de plantio”, afirma o estudo.

A evolução do percentual média de área de plantio mecanizado entre as edições de 2021 e 2024 do projeto Campo Futuro mostram que as áreas em que se adotou o plantio mecanizado saíram de 5,5% em 2021 para 32,3%, em 2024, com um maior salto entre 2022 e 2023, quando as áreas saltaram de 8% para 19,2%.

Além da questão das limitações técnicas, como aquelas presentes na região Nordeste, um dos principais argumentos utilizados para a não adoção do plantio mecanizado seria a tendência ao aumento do gasto de mudas na operação. Esse efeito é confirmado nos dados do projeto Campo Futuro entre 2021 e 2024.

Em uma análise, painéis foram agregados e classificados em quatro categorias conforme grau de mecanização do plantio, a partir do percentual de área plantada com essa modalidade. Para o grupo com menor nível de mecanização, observa-se também menor dose média empregada no plantio, o que se inverte no caso dos painéis mais mecanizados. Tecnicamente, segundo o estudo, atribui-se a maior dose na operação mecanizada à necessidade de compensar danos causados às gemas, menor precisão na colocação da muda e compactação do solo (Veja figura abaixo).

 

Buscando avaliar o impacto da adoção do plantio mecanizado no custo de produção, o estudo apresenta a participação da operação de plantio no custo total de produção a partir do grau de mecanização adotado nos painéis realizados de 2021 a 2024 do projeto Campo Futuro. Neste caso, pode ser observado, o padrão identificado na Figura 3 não ocorre quando se avalia o custo do plantio em si, pois a muda mostra-se como um de vários componentes a compor o custo do plantio, e a decisão por sua mecanização em si.

De acordo com o estudo, esse resultado evidencia que não necessariamente o plantio mecanizado é que vai representar um vetor de aumento de custos se for empregado em condições econômicas compatíveis. Inclusive, diante de custos crescentes com mão de obra, a mesma pode se mostrar vantajosa a despeito de uma maior dose de muda requerida. “Além da escassez de mão de obra, deve-se notar que a regulação cada vez mais estrita do trabalho no campo também tende a encarecer o plantio manual, restringindo sua viabilidade econômica. No curto prazo, em um cenário de redução do custo com maquinário via, por exemplo, menor preço do diesel e de manutenção, o direcionamento do setor à mecanização pode ser benéfico para o custo do hectare plantado”, afirma o estudo da CNA/Senar.

Do ponto de vista técnico, a modernização recente das plantadoras pode vir também a reduzir o diferencial da dose de muda requerida, reduzindo a relevância do principal limitador de sua adoção. Outras mudanças técnicas recentes incluem a possibilidade de utilização da tecnologia embarcada nas plantadoras tanto para controle da aplicação de defensivos agrícolas e bioestimulantes utilizados durante a cobertura da muda, quanto no controle da vazão de fertilizantes.

“Para os produtores de cana-de-açúcar, o custo do plantio mecanizado pode ser, ainda, favorecido pelo adequado planejamento do plantio por tipo de solo e adoção de variedades específicas para essa modalidade. Por fim, é necessário reforçar que, no horizonte visível, o plantio manual não será eliminado dos canaviais brasileiros, pois a tecnologia atual não é viável para terrenos de elevada declividade. Em alguns casos, a mecanização pode ser apenas parcialmente viável, sendo a solução ideal a combinação das modalidades manual e mecanizada”, concluiu a CNA/Senar em estudo.

Natália Cherubin para RPAnews

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