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Produção de cana-de-açúcar pode cair 20% nos próximos 10 anos devido a mudanças climáticas

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Estudo de laboratório do CNPEM estima, pela primeira vez, impactos climáticos para açúcar e etanol. Até o final do século, a perda pode chegar a 26%

Um estudo do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) projeta que as mudanças climáticas podem provocar uma queda na produção de biomassa total de cana-de-açúcar de até 20% nos próximos 10 anos,  no cenário mais pessimista,  e de  5% no mais otimista. A redução pode ter efeito drástico equivalente no mercado de etanol combustível e no setor de biocombustíveis no Brasil. Até o fim do século, a queda total na produção pode chegar a 26%.

A projeção foi possível graças a técnicas de modelagem agroclimática. Os pesquisadores analisaram dados climáticos históricos e fizeram simulações futuras considerando uma série de variáveis para estimar o que pode acontecer, nos próximos anos, com a cultura de cana na região Centro-Sul do Brasil.

A análise foi apresentada em junho como parte da dissertação de mestrado na Unicamp do engenheiro agrícola Gabriel Petrielli. Com  dados climáticos do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o estudo adotou o  modelo Crop Assessment Tool (CAT), desenvolvido pelo CNPEM, para descobrir como as mudanças climáticas afetam a  produtividade da cana-de-açúcar. A região estudada abrange os estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que juntos produzem atualmente 90% da cana-de-açúcar do país.

A queda na produção já começou a ser sentida e pode se agravar, caso não sejam adotadas ações para mitigar os impactos ambientais. A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) já estima uma redução de 3,8% na safra de 2024/25, em consequência dos baixos índices pluviométricos e das altas temperaturas na região Centro-Sul.

Os autores da pesquisa trabalharam numa análise georreferenciada em escala diária para avaliar o impacto das mudanças climáticas na produtividade da região. A redução na quantidade e frequência de chuvas será o principal fator prejudicial ao desenvolvimento da cana-de-açúcar, superando até mesmo a elevação das temperaturas. No cenário mais pessimista, a redução de receitas pode alcançar US$ 1,9 milhão anual por bilhão de litros de etanol, somente em créditos de descarbonização (CBIOs).

“No Brasil, o RenovaBio preconiza que cada tonelada de emissão de CO2 evitada pela substituição de combustíveis fósseis é remunerada através de créditos de descarbonização (CBIOs). Assim, no cenário mais pessimista, a queda na produtividade da cana-de-açúcar pode levar a uma redução da receita de CBIOs da ordem de US$ 1,9 milhão para cada bilhão de litros de etanol produzido, resultando em uma perda de receita no setor da ordem de US$ 60 milhões anualmente”, explica Petrielli.

Para a engenheira agrícola Thayse Hernandes, pesquisadora líder do LNBR e orientadora da pesquisa, os dados chamam a atenção para a necessidade urgente de medidas que possam amenizar esses efeitos e também promover uma adaptação da cultura às mudanças climáticas. O Brasil é líder mundial na produção e consumo de biocombustíveis.

Os resultados da pesquisa serão debatidos em congressos e publicados em artigo científico. Parte da pesquisa já foi apresentada pela orientadora em um encontro de pesquisadores na Suécia, mostrando como instabilidades na produção brasileira de cana podem ter impacto no mercado internacional.

No cenário de mudanças climáticas considerado mais otimista, a produção de cana-de-açúcar não sofre alterações severas, mas ainda assim terá de arcar com uma queda de até 5%. Para que este cenário se concretize, as emissões globais de gases de efeito estufa precisam ser reduzidas.

“As avaliações que envolvem mudanças climáticas são um trabalho contínuo, multi e interdisciplinar. A cada atualização de modelagem climática, novas projeções de impactos setoriais podem ser feitas, contribuindo com o fornecimento de dados para o planejamento futuro no país”, aponta Petrielli.

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