Projeto da Usina Coruripe é o primeiro do setor sucroenergético no cerrado; iniciativa é desenvolvida em área da empresa, com assessoria do Itaú Unibanco, Reservas Votorantim e EQAO
Uma área de 15 mil hectares de cerrado em alto nível de conservação no Norte de Minas receberá o primeiro projeto de carbono de uma usina sucroenergética no bioma. A iniciativa da Usina Coruripe, proprietária da área, poderá gerar 72 mil créditos por ano, que serão certificados dentro da metodologia REDD, direcionada a esforços de conservação florestal. Batizado de REDD Sertão Veredas, o projeto conta com assessoria de carbono do Itaú Unibanco, responsável pela comercialização, e da Reservas Votorantim e EQAO, encarregados da consultoria técnica e originação dos créditos.
O projeto será desenvolvido na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Porto Cajueiro, localizada no município de Januária (MG). O local integra o “Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu”, conjunto de territórios conservados na margem esquerda do Rio São Francisco com o objetivo de conciliar a proteção da biodiversidade à valorização cultural e social das comunidades. Existem evidências que demonstram que a região está sob pressão de desmatamento legal, o que traz adicionalidade ao projeto.
“A Usina Coruripe tem o objetivo de valorizar seus ativos ambientais, tornando-os economicamente autossustentáveis e, assim, desenvolver novas atividades socioambientais na região do Cajueiro. A Reserva está no bojo das nossas melhores práticas; por isso, aplicar um projeto de carbono com parceiros tão experientes é uma forma de reconhecer o trabalho que vem sendo feito no local ao longo dos anos”, diz Mario Lorencatto, presidente da Usina Coruripe.
Os créditos serão gerados com base na metodologia REDD (redução de emissões por desmatamento e degradação florestal), aplicada a áreas com alta pressão de desmatamento, e submetidos à Verra, principal certificadora internacional de créditos de carbono. Ou seja, reconhece áreas que, por lei, poderiam ser suprimidas, mas contam com o esforço conservacionista de manutenção da biodiversidade e, consequentemente, de sequestro e estoque do carbono. Em outra área menor, de 144 hectares, próxima à RPPN, será promovida a restauração florestal, com a aplicação da metodologia ARR (Afforestation, Reforestation and Revegetation), que reconhece iniciativas de captura de carbono através da recuperação de vegetação nativa.
“O Itaú Unibanco acredita no potencial transformador do mercado de carbono para criar os incentivos a fim de impulsionar uma economia de baixo carbono. Um mercado robusto, de alta integridade e interconectado com mercados globais, é essencial para alcançar as metas climáticas do mundo e promover a transição para uma economia verde. Entendemos que o mercado de carbono é uma ferramenta de financiamento climático, criando oportunidades econômicas para empresas e investidores”, diz Maria Belen Losada, head de produtos de carbono do Itaú Unibanco.
O projeto também se destaca pelo bioma escolhido. O Cerrado brasileiro é a savana mais biodiversa do mundo, com mais de 12 mil espécies de plantas e 300 mil de animais (incluindo mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos). Também é essencial para a regulação climática e hídrica de todo o país, já que abriga oito das 12 principais bacias hidrográficas, e está sendo apontado como o segundo bioma mais ameaçado por ações de desmatamento do Brasil.
“A Reservas Votorantim foi pioneira na geração de créditos de carbono REDD no Cerrado, ainda em 2022. Sempre acreditamos no potencial desse bioma, tanto pela alta capacidade de armazenamento de carbono no solo, quanto pelas particularidades que o tornam tão importante para todo o país. Agora, com o projeto em Porto Cajueiro, contribuímos com nossa expertise para o desenvolvimento de novas formas de gerar receita com a floresta em pé, garantindo a continuidade dos esforços conservacionistas por todo o país”, diz David Canassa, diretor executivo da Reservas Votorantim.
“O projeto que estamos desenvolvendo vai além do carbono. É um compromisso com um bem maior, que é a conservação das matas nativas, com a garantia dos serviços ecossistêmicos que elas nos oferecem, como o abastecimento hídrico, e o apoio às comunidades que dependem delas”, diz André Leal, head de Carbono da EQAO.
A RPPN Porto Cajueiro
Às margens do Rio Carinhanha, importante afluente do Rio São Francisco, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Porto Cajueiro conta com a presença de espécies típicas do Cerrado, como onças-pintadas, lobos-guarás, iraras, antas e jaguatiricas.
Entre as iniciativas desenvolvidas está o “Projeto Bicudo”, que leva o nome do pássaro que esteve na relação de animais extintos e não era avistado há pelo menos 30 anos. Hoje, são realizadas soltura e monitoramento da espécie, além de ações educativas com a comunidade sobre a importância da manutenção da biodiversidade local. O local também serve como base para órgãos de prevenção e combate a incêndios, além de desenvolver pesquisas em parceria com universidades.