Agrícola
Rotação de culturas e plantas de cobertura aumentam 80% a eficiência no uso de fósforo
O uso de rotação de culturas e plantas de cobertura podem aumentar a eficiência no uso de fósforo do solo e garantir economia para o produtor, com redução de uso de fertilizantes importados. Isso é o que mostra um estudo de um professor da a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em colaboração com colegas da Bangor University, do Reino Unido.
Apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o estudo, divulgado pelo G1, é um inventário sobre a quantidade de fósforo acumulada ou residual nos solos brasileiros desde 1970 e que pode ser melhor aproveitada pela agricultura.
O fósforo é um dos três macronutrientes mais utilizados na adubação de lavouras no Brasil, atrás do nitrogênio e do potássio. E, segundo Paulo Sérgio Pavinato, professor da Esalq responsável pelo trabalho, do total de fertilizantes fosfatados utilizados no solo hoje em dia, 50% são extraídos via colheita e 50% ficam retidos no solo. No entanto, com rotação de cultura e plantio de cobertura, ele estima que o aproveitamento do fósforo pode chegar a 80% ou mais.
Segundo o levantamento, até 2016, o território brasileiro tinha uma quantidade de fósforo acumulada no solo avaliada em 22 bilhões de dólares. Considerando valores atualizados de fertilizantes, ele acredita que o valor triplica. “Na época, lembro que fiz o cálculo com 80 dólares a tonelada de rocha fosfatada. O fertilizante super triplo era 300 e poucos dólares a tonelada e hoje está quase 900”, observa Pavinato.
Conforme o levantamento, o consumo de fertilizantes fosfatados no Brasil cresceu 43,4% na última década. E mais de 67% são importados de países do norte da África, principalmente Marrocos. “Se continuarmos usando as mesmas proporções de fertilizantes das últimas décadas, poderemos ter quatro vezes mais que isso [no solo] até 2050. Mas se aumentarmos a eficiência de uso para 80%, poderemos reduzir esse acúmulo pela metade pelo menos”, disse Pavinato.
Ele observa que o potencial de aumentar a eficiência na utilização do fósforo é mencionado no Plano Nacional de Fertilizantes, que foi lançado neste mês. “Você consegue aumentar a eficiência. Tem que produzir mais com menos, ou produzir, no mínimo, a mesma quantidade com menos fertilizante. Então, essa é a ideia de você fazer um sistema bem integrado, um sistema que consiga ciclar mais nutrientes e consiga produzir mais eficientemente”, explica o pesquisador.
Acúmulo de fósforo no solo
Os estudos sobre o acúmulo de fósforo no solo foram feitos em várias regiões do Brasil. A estimativa de fósforo não aproveitado é uma média que leva em consideração dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de áreas cultivadas por cada cultura e ano desde a década de 1950 e dados de entrega de fertilizantes ao agricultor pelos dados da Agência Nacional de Infusão de Adubos (Anda).
“A partir da década de 1970 começou a sobrar fósforo no solo. Estamos aplicando mais fósforo do que as plantas demandam, então acaba acumulando. E fósforo é um elemento que a perda dele é mínima. Então, quase todo o fósforo que você adiciona mais do que a planta absorve, ele acaba sendo acumulado no solo”. A estimativa é de que 90% dessa sobra de fósforo ainda permanece no solo.
O pesquisador lembra, no entanto, que é necessário planejamento e um longo prazo, de pelo menos sete a oito anos, para conquistar resultados positivos estáveis com a rotação de cultura. E que, por outro lado, o manejo não sustentável gera transtornos futuros.
“A gente costuma brincar que o solo é muito bom de memória. Então, tudo que você fizer para ele de bom ele vai lembrar lá na frente e ele vai acumulando esse efeito positivo. O inverso também é verdadeiro. Tudo o que você fizer de ruim ele vai lembrar lá na frente. Quando se faz mal feito, você perde solo por erosão, perde fertilidade, gasta mais com fertilizantes, é uma bola de neve que vai interferindo negativamente”.
Com informações do G1