A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o Apla-Arranjo Produtivo Local do Álcool, o Ministério das Relações Exteriores e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) realizam, entre os dias 24 de fevereiro e 5 de março, uma série de seminários técnicos denominados “Sustainable Mobility: Ethanol Talks” (Mobilidade Sustentável: Conversas sobre o Etanol), em Nova Déli (Índia), Bangkok (Tailândia) e Islamabad (Paquistão).
O objetivo dos seminários é promover o etanol como opção moderna e sustentável para a mobilidade, capaz de gerar impactos positivos imediatos na segurança energética, na saúde pública por meio da redução da poluição local e nas emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE), maiores responsáveis pelo aquecimento global. O evento reunirá especialistas brasileiros para oferecer cooperação e transferir conhecimentos acumulados ao longo dos mais de 40 anos de uso do etanol como combustível em larga escala no Brasil.
Segundo o presidente da Unica, Evandro Gussi, a entidade fez um minucioso levantamento de quais países poderiam alavancar a produção e o consumo do etanol, levando em consideração aspectos como o potencial produtivo, infraestrutura, marco regulatório e dependência de fontes fósseis de energia.
“Chegamos à conclusão de que esses três países estão entre aqueles que têm condições de, por meio de ações relativamente simples, se tornarem referência em energia renovável, assim como o Brasil é hoje”, explica o presidente da Unica.
Para Renato D. Godinho, chefe da Divisão de Promoção de Energia do Ministério de Relações Exteriores, os seminários inserem-se no objetivo do governo brasileiro de procurar diversificar os países produtores e consumidores de bioenergia e biocombustíveis.
“Eles complementam a atuação multilateral que temos, notadamente na iniciativa Plataforma para o Biofuturo. Enquanto no fórum da Biofuturo discutem-se as grandes questões ligadas à bioenergia e seu papel na transição energética, na ação bilateral podemos entrar em detalhes como precificação, mistura, distribuição, efeitos na frota de veículos, entre outros”, afirma.
O ano de 2020 representa um marco para os especialistas em mudanças climáticas, pois registraria o nível máximo de emissões de GEE que a humanidade poderia atingir para necessariamente iniciar uma redução gradativa e contínua. Nesse sentido, a mistura de etanol na gasolina, quando adotada por meio de políticas públicas claras e de longo prazo, pode proporcionar um recuo instantâneo das emissões na área de transportes, setor responsável por mais de ¼ das emissões globais. No Brasil, por exemplo, a presença de 27% de etanol na gasolina garante redução de 15% das emissões de GEE.
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O quadro de especialistas palestrantes foi estruturado a partir de um mapeamento prévio das dúvidas e mitos que circundam a adoção do etanol nos diferentes países. Assim, foram convidados porta-vozes com conhecimento técnico complementares para concatenar os passos necessários para uma disseminação bem-sucedida de biocombustíveis.
Plinio Nastari, presidente da Datagro e representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), trará o ponto de vista de políticas públicas eficazes para o aumento da mistura de etanol na gasolina na palestra “Ethanol Blending Policy: Status & Implementation” (Política de mistura de etanol: status e implementação). “O objetivo deste Road Show é transferir conhecimento para que a indústria automobilística global invista cada vez mais em tecnologias que levem a uma maior eficiência do uso do etanol, como solução de energia e transportes”, antecipa Nastari.
O professor do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes da UNICAMP, Gonçalo Pereira, fará uma exposição sobre as rotas para a transição energética e seus impactos no aquecimento global na palestra “Security and Energy Planning” (Planejamento de Segurança e Energia). “Temos que manter o CO2 nos níveis atuais para evitar mudanças climáticas, que poderiam ter impactos graves nas regiões em que a civilização se estabelece, levando a ondas de migração, pobreza e mudança de padrão de produção nos mais diferentes locais”, esclarece.
A integração com a indústria do petróleo, na sessão “Integration with the Oil Sector”, será explicada por Márcio Félix, ex-secretário de petróleo, gás natural e biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia. “O etanol aumenta a longevidade da indústria do petróleo e ajuda a ‘desvilanizar’. Minha contribuição é mostrar momentos em que o etanol tenha contribuído para a indústria do petróleo, e ainda temos um horizonte grande pela frente”, explica.
Já a perspectiva das tecnologias automotivas será dada por Ricardo Abreu, ex-diretor técnico da MAHLE Metal Leve, na palestra “Ethanol Use and Automotive Industry” (Uso de etanol e a indústria automotiva). “A história da mistura e a preparação dos veículos para ela tem que ser mais bem entendida. A evolução das tecnologias disponibilizou materiais mais robustos, que são melhores para vários outros tipos de utilização, não só o etanol. Essa evolução fez com que os veículos sejam muito mais preparados para receber qualquer tipo de mistura”, enfatiza Abreu sobre a segurança do uso do etanol misturado à gasolina para o funcionamento dos carros.
Por fim, o professor do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Afonso de André, compartilhará a perspectiva de saúde pública na sessão “Ethanol as an Agent for the Reduction of Carbon Emissions and Local Air Pollutants” (Etanol como redutor de emissão de carbono e poluição local). “Hoje quase 60% da população brasileira mora em cidades, então a poluição é um problema que afeta uma quantidade tão grande de pessoas que não pode ser deixada em segundo plano. Isso precisa estar na cabeça dos legisladores: poluição e saúde estão intimamente ligadas”, analisa André.
Para garantir sintonia com os tomadores de decisão, o “Sustainable Mobility: Ethanol Talks” terá um parceiro local em cada país. Na Índia será a Indian Sugar Mills Association (ISMA), na Tailândia a Thai Sugar Millers e no Paquistão a Pakistan Sugar Mills Association (PSMA). As embaixadas brasileiras também estão envolvidas facilitando a interlocução com públicos-chave, como governo, indústria automobilística e setores produtivos.