As usinas brasileiras de cana-de-açúcar estão cancelando alguns contratos de exportação de açúcar e desviando a produção para etanol para lucrar com os altos preços da energia levantando preocupações de uma escassez de açúcar. Isso foi o que disseram fontes com conhecimento direto dos negócios à Reuters.
Segundo um trader ouvido, quase todas as empresas envolvidas no comércio de açúcar no Brasil tiveram cancelamentos. Ele estimou o total de cancelamentos até agora em 200 mil a 400 mil toneladas de açúcar bruto. “Isso está acontecendo por causa da mudança no mix de produção e também por causa do atraso na safra”, disse o trader.
O Brasil exporta cerca de 2,2 milhões de toneladas de açúcar por mês durante o pico da safra. Uma grande queda na produção de açúcar pode levar a uma escassez global de açúcar, dizem alguns traders.
No momento, a produção está mudando em favor do etanol, à medida que os altos preços da energia impulsionados pela recuperação da pandemia e pela guerra na Ucrânia estimulam mais produção de combustível. As vendas de etanol aumentaram 2,6% em abril.
Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting, afirmou que o setor deve priorizar o etanol em 56,2% e coloca a previsão de produção do combustível em 25,4 bilhões de litros, que somados ao etanol de milho totalizam 29,8 bilhões de litros, dos quais 11,5 bilhões de litros de anidro e 18,3 bilhões de litros de hidratado.
“Tem usina que vai elevar a produção de etanol mais de 10 pontos percentuais em relação à safra passada. Em tese, a menor produção de açúcar no Brasil deveria provocar alta na cotação do produto na bolsa de NY e a inversão – ainda que pequena – nos primeiros contratos futuros lá negociados. Ocorre que o Brasil, principal exportador do produto, antecipou-se fortemente há mais de um ano e vendeu e fixou preços para um volume de exportação superior a 20 milhões de toneladas para esta safra”, disse.
Corrêa disse que o movimento por parte das usinas em cancelar essas entregas de açúcar por meio de washouts, para aproveitar uma melhor remuneração do combustível era uma situação possível, mas não provável. Sendo assim, o suprimento de açúcar estaria garantido.
“Os rumores no mercado, no entanto, dão conta de que cerca de 300 mil toneladas de açúcar poderiam mudar para etanol com o beneplácito das casas comercializadoras”, disse.
Outro trader ouvido pela Reuters que também trabalha para um grande comerciante internacional de alimentos, confirmou os cancelamentos – conhecidos no setor como “washouts” – e disse que a maioria dos traders está tentando ser flexível ao negociar. “São contratos take-or-pay, há uma taxa, então às vezes o custo pode ser alto para a usina”, disse ele.
Um executivo de uma das maiores usinas do Brasil, que pediu para não ser identificado, disse que os ganhos com a mudança do açúcar para o etanol compensaram os custos dos cancelamentos. O Brasil é o segundo maior produtor de etanol depois dos Estados Unidos.
“As vendas de etanol são pagas em um ou dois dias, enquanto a exportação de açúcar demora muito mais, e as usinas têm muitas contas a pagar no início da safra”, disse.