O Cana Summit 2025, organizado pela Orplana, reuniu produtores de cana, lideranças e autoridades políticas, mas não trouxe a revisão do Consecana
Segurança jurídica e rural, tarifaço de Trump e lei da reciprocidade foram os grandes destaques da segunda edição do Cana Summit, realizado em Brasília, DF. O evento, organizado pela ORPLANA – Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil, reuniu mais de 600 canavicultores de diferentes regiões produtoras do país e também trouxe atualizaçoes sobre os estudos que vem sendo realizados para a atualização Consecana, mas não sua resolução.
O evento contou, na cerimônia de abertura, com a presença de representantes de entidades do setor, entre eles José Mário Schreiner, vice-presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), além de políticos como o deputado federal Pedro Lupion, presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, também esteve presente na cerimônia.
“Ter os produtores junto com os políticos é fundamental. Eles sentem, medem a temperatura e entendem a importância dessa proximidade para fortalecer nossa representatividade”, afirmou o CEO da ORPLANA, José Guilherme Nogueira.
Roberto Rodrigues disse, em seu discurso de abertura, que o momento era de incerteza planetária. “Não saberemos o que acontecerá no mundo na área comercial, na área política, na área biológica. Vemos um desmanche nas instituições. Aqui dentro temos um momento difícil de polarização política, ideológica, mostrando-se um problema em relação ao futuro próximo. Mais do que nunca é fundamental que a sociedade se organize”, disse Rodrigues, adicionando que o setor canavieiro está organizado e preparado para enfrentar o que vem pela frente.
Dentre as pautas debatidas, destaque para o tarifaço imposto pelos Estados Unidos – o presidente americano Donald Trump anunciou taxação mínima de 10% sobre todos os produtos importados do Brasil – e o Projeto de Lei (PL) da Reciprocidade, aprovado pelo Senado e atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. O projeto visa estabelecer medidas de resposta a políticas unilaterais adotadas por outros países, o que tem gerado preocupação entre produtores, lideranças do setor e autoridades políticas.
De acordo com Pedro Lupion, deputado e presidente da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio), países como China, União Eurpeia e o próprio Estados Unidos, já tem uma lei parecida para usar como carta na manga.
“Estamos fazendo a nossa parte, que é ter uma lei que dê segurança comercial para o Brasil. Ainda mais com o enfraquecimento de entidades como a OMC e OCDE que faziam esse papel de mediação. Fizemos uma votação unânimidade e na Câmara eu espero que sigamos pelo mesmo caminho”, disse Lupion durante evento Cana Summit, realizado em Brasília.
Outro tema de relevância abordado durante os painéis foi a segurança jurídica no campo. Diferentes parlamentares e, também, o governador mineiro ressaltaram a necessidade de garantir a proteção das propriedades privadas e mencionaram um decreto recente que destinou recursos financeiros para áreas vulneráveis a invasões. Segundo Nogueira, a Frente Parlamentar da Agropecuária segue atenta a essas questões para assegurar um ambiente seguro e estável para os produtores.
Durante as discussões, também foram abordados os desafios e oportunidades do setor sucroenergético em um cenário global. Entre os pontos levantados, destacou-se a importância da reciprocidade comercial e o impacto das normas da ISO (Organização Internacional do Açúcar) sobre o mercado.
Nogueira ressaltou a competitividade do etanol brasileiro, especialmente em relação à descarbonização, fator essencial para o setor.
“A competitividade do etanol brasileiro é muito pujante. O norte-americano compra o etanol brasileiro principalmente pela intensidade de carbono. Produzir aqui no Brasil, através da cana, tem um poder de descarbonização maior do que o próprio etanol de milho dos Estados Unidos”, explicou o CEO da ORPLANA.

No evento foi gerada uma atualização da Carta de Brasília, com reivindicações para os poderes Legislativo e Executivo em prol da sustentabilidade e o desenvolvimento da produção canavieira. Com a presença da presidente da Embrapa, Silvia Maria Fonseca, foi renovado o Convênio entre Embrapa e Orplana, para possibilitar o avaço de tecnologias e validações nos campos dos associados.
“Começamos a olhar o que já tinhamos para fazer um trabalho de aproximação com produtores rurais, com unidades de referência para que a inovação chegue ao até ele”, disse
A grande expectativa do evento seria um possível anúncio sobre a atualização do Consecana, no entanto, embora o estudo tenha sido entregue pela FGV, não houve finalização do processo. Sendo assim, durante o evento foi apresentado como vem sendo realizado o processo de atualização.
Dados da Orplana mostram que o número de produtores filiados caiu 38% em 14 anos.
Natália Cherubin para RPAnews