Depois de tentar de várias formas impedir que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nomeasse uma aliada para a ouvidoria-geral da Petrobras, a CEO da companhia, Magda Chambriard, cedeu a vaga para a delegada Cristina Bueno Camatta, indicada por Silveira e chancelada na última sexta-feira, 29, pelo conselho de administração da empresa.
A escolha é fruto de um acordo costurado na última hora para compensar o ministro, que perdeu um conselheiro e a presidência do colegiado. Silveira ganhou o comando sobre a Ouvidoria, enquanto o ministro da Casa Civil, Rui Costa, manteve o controle sobre o colegiado.
Com a saída de Pietro Mendes, indicação de Silveira, para se tornar diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o MME indicou na última quarta-feira, 27, para sua cadeira o secretário especial de assuntos jurídicos da Casa Civil, Marcelo Pogliese, ampliando a influência de Costa sobre o conselho.
Apesar de negociada e chancelada com placar de oito votos a favor e três contrários, a escolha de Cristina Camatta não se deu de forma tranquila. Segundo apurou a equipe do blog Malu Gaspar, a reunião transcorreu sob um clima tenso após a articulação de Chambriard para frear a campanha de Silveira pela assessora do MME.
A CEO, que vinha trabalhando pela seleção da atual gerente executiva de conformidade, Renata Citriniti, firmou um acordo de última hora com Bruno Moretti, presidente do conselho e secretário-executivo da Casa Civil, em torno de outra candidata: a gerente de riscos sociais e direitos humanos da companhia, Sue Wolter.
O nome de Wolter chegou a ser incluído na lista de pré-aprovados que chegou ao conselho, mas ela acabou sendo descartada após o acordo entre Chambriard e Silveira.
A ofensiva era uma resposta à campanha de Silveira, que nos últimos dias telefonou para Moretti, o conselheiro Rafael Dubeux e os colegas Fernando Haddad (Fazenda) e o próprio Rui Costa no esforço de ampliar a pressão pela nomeação de Camatta. O ministro só não teria telefonado para a própria Chambriard, segundo relatos. Ele, porém, tem negado qualquer movimento em favor de sua assessora.
De qualquer modo, diante da articulação em torno da nomeação de Pogliese e da atuação de Silveira por Cristina Camatta nos bastidores, os conselheiros evitaram entrar em rota de choque com o titular do Ministério de Minas e Energia.
A própria Chambriard, segundo apurou a equipe do blog, acabou votando na assessora do ministro no lugar de Sue Wolter. Na justificativa do voto, teria se atrapalhado ao alegar que a gerente não integrava a lista. Mesmo corrigida pelos integrantes do colegiado, confirmou o voto em Cristina Camatta.
Cargo estratégico
O cargo de ouvidor-geral é considerado chave e sensível na Petrobras por comandar o canal de compliance e, consequentemente, gerenciar as denúncias anônimas da companhia.
A área também é responsável por processar consultas e pedidos de autorização relativos à Lei de Conflito de Interesses e por registrar processos administrativos dentro da Lei Anticorrupção, além de monitorar o cumprimento da Lei de Acesso à Informação (LAI) e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) pela empresa. O salário anual é de R$ 1,6 milhão, incluindo bônus.
Na cúpula da empresa, são de conhecimento público as críticas de Magda Chambriard ao modelo de integridade adotado pelo compliance, em especial no que diz respeito ao volume de denúncias anônimas durante sua gestão.
O cargo de ouvidor-geral está vago desde o ano passado, quando terminou o mandato de Cristiano Andrade, indicado em 2021, durante o governo Jair Bolsonaro. A ouvidoria vem sendo comandada interinamente por Henrique Ximenes, servidor de carreira da estatal.
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