Objetivo é ter um seguro contra a escassez de chuvas que tem afetado mais o setor nos últimos anos
A Tereos, grupo francês que atua há 25 anos no mercado de açúcar e etanol no Brasil, planeja irrigar, no médio prazo, 20% de seus 180 mil hectares de cana-de-açúcar no noroeste paulista.
Em entrevista ao Globo Rural em Olímpia (SP), o CEO da empresa no Brasil, o francês Pierre Santoul, não citou valores, mas disse que a instalação de pivôs de irrigação será o principal investimento da companhia nos próximos anos. Atualmente, menos de 5% da área é irrigada.
O investimento é visto como uma forma de driblar a volatilidade crescente das safras, marcada por anos bons de chuvas seguidos de anos ruins, fato que muda a dinâmica do negócio.
“Irrigação é como seguro: nos anos de chuva, não precisa, e nos anos secos faz toda a diferença. Estou há dez anos no Brasil, e cada ano foi diferente. Temos uma operação muito otimizada, que é o benchmark do mercado, mas o grande desafio do nosso negócio continua a ser o clima”, afirmou.
Neste ano, a redução da oferta de cana causada pela seca vai antecipar o fim da moagem da Tereos para o fim deste mês. A previsão é fechar com o processamento de 18 milhões de toneladas.
Por outro lado, um investimento que a Tereos deu início mas não deve prosseguir é em biogás. Há três anos, a empresa instalou uma planta-piloto na unidade de Cruz Alta, em Olímpia, o que deveria evoluir para novas plantas e para a produção de biometano. O projeto demandou um investimento inicial de R$ 15 milhões.
O plano era substituir, até 2026, os 50 milhões de litros de diesel usados por ano pela frota pesada de caminhões da empresa e também abastecer futuramente tratores e colhedoras. Porém, os resultados dos testes não foram compensatórios, especialmente pela falta de equipamentos desenvolvidos para usar o combustível alternativo.
Atualmente, a empresa olha com esperanças para testes que estão sendo feitos nos Estados Unidos com o uso de etanol para abastecer tratores e colhedoras. Essa substituição seria capaz de reduzir em 100 mil toneladas a emissão de carbono anual da Tereos.
Sobre novas possibilidades em biocombustíveis, Santoul disse que a entrada no mercado de etanol de milho, cuja produção no país cresceu 30% no país na última safra, está no radar da empresa.
Por outro lado, ele afirmou que não há interesse em fazer aportes em SAF, o combustível sustentável de aviação, pois demanda investimentos muito altos e ainda não há uma capacitação suficiente do setor nem um mercado consolidado.
Nesta safra, a empresa deve exportar 85% da sua produção de açúcar, mas a exportação de etanol deve permanecer esporádica. “Teríamos mais interesse no etanol [para exportação] se fosse aberta uma janela para a Europa, que paga melhor, e compensaria os valores de frete”, afirmou Santoul.
Globo Rural| Camila Souza Ramos