Projeções indicam retração na produtividade, maior foco no açúcar, recuo no etanol de cana e nova queda no preço do ATR antes de uma retomada agrícola na próxima safra
A safra 2025/26 deve se encerrar com um cenário marcado pela queda da produtividade e da qualidade da matéria-prima, além de uma mudança relevante no direcionamento industrial. De acordo com dados mais recentes do Pecege para dezembro de 2025, a moagem do Centro-Sul deve fechar próximo de 609,6 milhões de toneladas, queda de 1,97% em relação às 621,8 milhões de toneladas estimadas para 2024/25. O resultado é influenciado principalmente pela redução do TCH, que recua de 77,8 t/ha para cerca de 74,7 t/ha (–3,95%), diante de um ciclo agrícola menos favorável. A qualidade da cana também diminui, com o ATR médio estimado em 137,9 kg/t, queda de 2,24% frente aos 141,07 kg/t da safra anterior, o que compromete o total de ATR disponível e impacta diretamente o desempenho industrial.
Com menor oferta agrícola e preços internacionais que favoreceram o açúcar ao longo do ano, o mix de produção se desloca de forma mais intensa na direção do adoçante, atingindo aproximadamente 50,8% do ATR, avanço de 2,77 pontos percentuais sobre os 48,05% de 2024/25. Esse movimento permite que a produção de açúcar cresça levemente, alcançando cerca de 40,7 milhões de toneladas, alta de 1,35% mesmo em um cenário de moagem menor. No etanol, o efeito é oposto: a produção de etanol de cana deve cair de 26,78 bilhões para 24,3 bilhões de litros, recuo de 9,33%, com redução tanto no hidratado quanto no anidro, consequência direta da menor disponibilidade de matéria-prima e da priorização do açúcar na safra atual.
Para 2026/27, o Pecege projeta uma recuperação gradual das condições produtivas. O TCH deve subir para aproximadamente 77,2 t/ha (+3,37%), e o ATR médio também se recompõe parcialmente, chegando a 139,3 kg/t (+1,01%). Esse conjunto de fatores sustenta a expectativa de retomada da moagem, estimada em 635,7 milhões de toneladas, crescimento de 4,28% sobre os números projetados para 2025/26, criando um ambiente mais favorável à produção de etanol.
Nessa projeção, de acordo com os dados do Pecege, o etanol de cana volta a crescer e pode atingir 26,8 bilhões de litros (+10,52% em relação a 2025/26), enquanto o açúcar permanece em patamar elevado, com produção estimada em 40,8 milhões de toneladas, ligeiro aumento de 0,25% mesmo com uma leve redução prevista no mix açucareiro.
O etanol de milho segue como um dos principais vetores de expansão do suprimento nacional e deve alcançar 10,05 bilhões de litros em 2025/26, alta de 22,7% sobre os 8,19 bilhões de 2024/25, avançando para 11,2 bilhões de litros em 2026/27 (+11,4%), ampliando sua relevância na matriz de biocombustíveis.
Preço do ATR deve cair 3,6% na safra 2026/27
No campo da remuneração ao produtor, o relatório também indica um ambiente de preços pressionados. De acordo com os dados do Consecana/SP reunidos pelo Pecege, o valor do ATR deve cair para R$ 1,0926/kg em 2025/26, o que representa retração de 8,4% em relação ao ciclo anterior.
Para 2026/27, a projeção aponta nova queda, com o ATR estimado em R$ 1,0531/kg, redução adicional de 3,6%. Esses valores refletem a combinação entre a safra mais açucareira, o mercado internacional menos favorável e o enfraquecimento dos preços dos produtos da cana, compondo um cenário que tende a desafiar a rentabilidade de produtores e fornecedores mesmo com a esperada melhora agronômica no próximo ciclo.

