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Indústria

A automação industrial do setor sucroenergético

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Para entendermos minha opinião sobre onde estamos posicionados como setor, é importante um breve histórico sobre o que acompanhei de evolução da automação industrial, em diferentes setores, ao longo de minha carreira.

Iniciei minha carreira profissional no final de 1989, como engenheiro trainee, e tive oportunidade de participar de um projeto de construção de uma fábrica no segmento alimentício, que foi concebida, desde o início de seu estudo até a sua implementação, com o conceito de utilização do que, na época, existia de mais moderno em automação industrial no Brasil.

Quando ingressei no apaixonante segmento sucroenergético, em 2009, grande parte das usinas existentes e os projetos de novas usinas de que tive oportunidade de participar não tinham como padrão ao menos considerar automação como uma opção relevante, seja por falta de tempo para maturação dos projetos, seja por falta de acreditar na tecnologia, ou por questões financeiras.

Em resumo, estávamos aproximadamente 20 anos atrasados com relação aos setores brasileiros mais evoluídos tecnologicamente, que, por sua vez, estavam décadas atrasados com relação aos países mais desenvolvidos.

Importante lembrar que a automação industrial começou a ter mais atenção por volta da segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, e, no início do século XX, os sistemas se tornaram mais automatizados, quando os computadores e controladores programáveis passaram a fazer parte da tecnologia da automação.

A partir daí, as redes industriais surgiram para suprir a necessidade de comunicação entre equipamentos e instrumentos, tendo como objetivo o controle eficaz das variáveis de processo e, por consequência, o aumento da eficiência, redução de custo, melhor segurança operacional e melhoria do retorno financeiro dos projetos.

Então, em 1989, ter a chance de participar de um projeto tão avançado em conceitos que, no nosso País, eram relativamente novos, certamente moldou a minha opinião, como usuário, e não especialista da área de automação, da importância da automação industrial para a segurança de nossos processos e maximização dos lucros.

Respondendo à pergunta sobre minha opinião de onde estamos como setor sucroenergético, com relação à utilização da automação industrial nas usinas brasileiras, em geral, acredito que estamos tentando acordar de um período de hibernação provocado pelo pouco investimento de tempo, planejamento e recursos financeiros voltados ao desenvolvimento dessa tecnologia em nossos parques industriais.

A minha opinião, que, como já citei, é a de um usuário e não a de um especialista nessa área, tem sustentação no breve resumo que fiz acima. Avaliando, hoje, no Brasil, quantas usinas tivemos implantadas nos últimos 30 anos dentro desse conceito, não me resta outra opinião a não ser a de que precisamos evoluir muito para nos posicionarmos ao lado de outros setores já mais evoluídos, como usuários das tecnologias de automação e, por consequência, termos maiores chances de projetos com melhor viabilidade econômica.

Como evoluir para usinas mais automatizadas e fazer esse investimento de forma economicamente viável? Separo a minha opinião em duas vertentes: Pensando em novos projetos, um dos caminhos seria contarmos com maior previsibilidade de políticas de incentivos fiscais e financeiros ao nosso setor. As poucas políticas de incentivo que tivemos até então foram pontuais, de curto prazo e sujeitas a mudanças, na maioria das vezes repentinas e sem nos dar tempo de nos adequarmos a essas novas diretrizes.

Fato é que, a cada vez que o nosso setor pensou que tinha fundamentos para crescer, e bravamente nossos investidores apostaram nesse crescimento, em seguida, tivemos graves crises que praticamente quebraram nosso setor. Para não citar muitas dessas crises, que ocorreram após momentos de grandes investimentos, podemos citar as duas últimas, a de 1999 e a de 2007/2008. Fica difícil pensar em projetos com maior necessidade de planejamento e de maior investimento inicial, quando o futuro e seus fundamentos são tão voláteis.

Sim, sabemos da importância de utilizarmos o devido tempo em detalhamento desses projetos e de seguirmos padrões de gerenciamento dos mesmos, citando, aqui, o PMBOK como exemplo amplamente utilizado por outros setores, dentre as fases do processo de construção de um projeto, é importante destacar cinco grupos fundamentais:

* iniciação ao projeto;
* planejamento;
* execução;
* monitoramento e controle;
* encerramento.

Quantas usinas temos no Brasil que tiveram tempo e recursos financeiros para desenvolver seus projetos, baseados nos conceitos acima, e padrões necessários para que a automação industrial fosse considerada, desde as primeiras fases do projeto, tanto com relação ao conceito de utilização, quanto com relação ao custo versus benefício pelo investimento? Poucas ou raríssimas, não é mesmo?

Para os projetos de melhoria das condições industriais já existentes, e que nasceram sem o devido pensamento em investimentos em automação, na minha opinião, é preciso ser muito cuidadoso e ter o entendimento de que o “remendo” é sempre a possibilidade de um conserto, mas que, muitas vezes, pode ter consequências difíceis de serem mensuradas a curto prazo, bem como provocarem impacto em variáveis não mapeadas durante estudo de implementação da melhoria proposta.

Este é o famoso “preço” por não ter feito de forma correta da primeira vez. Dessa forma, quando pensarmos em investimentos em automação de nossos parques industriais existentes, é preciso entender que o tempo e investimentos que não tivemos condições de disponibilizar, quando da construção de nossas plantas, certamente trarão um desafio ainda maior com relação a nos atualizarmos e a estarmos aptos a utilizarmos todos os benefícios que um bom projeto de automação industrial possa nos proporcionar.

Não há dúvidas de que precisamos evoluir e recuperar o tempo perdido. Precisamos, sim, recuperar esse tempo perdido e chegar ao mesmo nível com relação ao uso de ferramentas de inteligência, a que as boas empresas de outros segmentos já atingiram. Mas também não tenho dúvidas de que é preciso fazer essa evolução com o devido critério, para não sermos “atropelados” pelo efeito de termos ficado tantos anos “hibernados”.

Por: Julimar Clemente de Souza, Diretor de Operações da Usina Santa Terezinha

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