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A cana segue atrasada e o ATR caindo
Os especialistas fizeram as reflexões dos fatos e números da cana em julho/agosto e o que é preciso acompanhar em outubro
*Prof. Dr. Marcos Fava Neves
*Vitor Nardini Marques
*Vinicius Cambaúva
Na cana em relação a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul, relativa à safra 2022/23, entre 1 de abril e 15 de setembro, 366,3 milhões de t foram processadas, queda de 6,9% na comparação com o mesmo período do ciclo passado, de acordo com relatório divulgado pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Nos primeiros quinze dias de setembro, no entanto, a moagem registrou alta de 1,8% com 43,25 milhões de t, indicando uma recuperação no ritmo do setor, especialmente por conta do clima mais seco que possibilitou o avanço da colheita.
Em relação a qualidade da cana-de-açúcar, o teor de ATR (Açúcar Total Recuperável) atingiu 138,01 kg por t no acumulado da safra 22/23, 1,65% menor em relação ao último ciclo (estava em 140,33 em 21/22). Já a eficiência industrial do setor até 1° de setembro estava em: 44,37 litros de etanol produzidos por t de cana (+ 0,3%); e 59,43 kg de açúcar produzidos por t de cana (- 3,9%). O mix de produção estava em 45,20% para o açúcar (46,25% há um ano) e em 54,80% para o etanol (53,75% na mesma data de 2021/22).
No mercado de CBios, 20,81 milhões de créditos de descarbonização foram emitidos no acumulado do ano, segundo dados da Unica. Já em relação ao volume negociado e a posse de créditos, 26 milhões de CBios foram registrados por parte das organizações obrigadas no programa, o que representa 71% da meta estabelecida para este ano.
E uma das grandes inovações no setor em décadas foi anunciada recentemente pelo CTC, o Centro de Tecnologia Canavieira, em Piracicaba, SP: o lançamento das sementes sintéticas de cana-de-açúcar que virão para substituir as tradicionais mudas do setor. Segundo os pesquisadores, os primeiros testes com plantio em larga escala deverão ocorrer já na próxima safra (2023/24) e poderão trazer benefícios de até R$ 17 mil por ha. Com a capacidade de reduzir falhas dos canaviais em 2,0%, enquanto propicia ganhos de sanidade de 7,0%, as sementes devem elevar a produtividade do canavial em até 9,0%, trazendo ganhos diretos de R$ 7 mil por ha.
Além disso, como o agricultor não mais precisará reservar áreas para a produção de mudas (em média, 15%), outros R$ 3 mil por ha poderão vir destes ganhos. Por outro lado, a tecnologia permite o cultivo da cana por pelo menos mais cinco anos, entregando outros R$ 4 mil por ha; e a ampliação da janela de cultivo poderá agregar mais R$ 1 mil por ha. Os ganhos devem ser expressivos no setor, vamos acompanhar a implementação!
O CTC comentou que os custos com pesquisa e desenvolvimento na instituição cresceram 15% no primeiro trimestre da safra 2022/23 (abril a junho), com gastos que giram em torno de R$ 40,5 milhões. No mesmo período, a empresa registrou receita líquida de R$ 78 milhões e lucro líquido de R$ 21,6 milhões.
No açúcar, com o maior processamento de matéria-prima nos últimos quinze dias de agosto, a produção de açúcar cresceu 5,8% no período e somou 3,14 milhões de t, segundo a Unica. No acumulado de 2022/23, 21,77 milhões de t foram produzidas, redução de 10,5% no comparativo com o ciclo anterior.
As exportações de açúcar do Brasil tiveram um incremento de 39,1% em agosto, saltando de US$ 870,27 milhões para US$ 1,21 bilhões. Além da China, que comprou mais de 20% do montante do adoçante brasileiro para o mês, houve destaque nas vendas para outros países asiáticos com Irã, Indonésia e Índia.
Segundo levantamento realizado pela Archer Consulting, até 31 de agosto, o volume do adoçante com preço já fixado para a próxima safra (2023/24) atingiu 31% do total, com preços médios em R$ 2.240/t, posto no Porto de Santos, SP. Ao todo, 827 mil t de açúcar foram fixadas em agosto, totalizando 1,46 milhão de contratos, 23% a menos do que os 1,9 milhão de contratos registrados em julho de 2022.
No mercado futuro, os preços de contratos futuros do açúcar voltaram a cair após ter atingido a maior cotação da década em Londres (ICE Futures Europe). Em 16 de setembro, os contratos de dezembro/22, março/23 e maio/24 ficaram com preços em US$ 527,80/t, US$ 496,80/t e US$ 472,00/t, respectivamente. Em Nova York, o vencimento de outubro/22 foi cotado em 17,88 centavos de dólar por libra-peso, e a tela de março ficou em 17,56 centavos por libra-peso. Por fim, no mercado doméstico, fechamos o dia 16 com a saca de 50 kg do açúcar cristal São Paulo cotada em R$ 123,90 pelo indicador Cepea/Esalq, queda de 1,0% no comparativo mensal.
Segundo a StoneX, haverá um superávit de 3,9 milhões de t de açúcar na nova temporada global, a partir de outubro, graças a boa produção na Ásia e no Brasil. O relatório anterior previa um superávit de 3,3 milhões de t. Para os dois principais países produtores do adoçante, Brasil e Índia, a oferta deverá ficar em 37,2 e 36,5 milhões de t, respectivamente.
A crise de energia que a Europa enfrenta pode reduzir a produção de açúcar pelo elevado custo de produção e estimular projetos de energias renováveis. A Cropenergies (Sudzucker) foi uma das que anunciou possível redução de atividades e produz anualmente 400 milhões de litros de etanol.
E de acordo com informações do governo da Índia, o país deverá permitir a exportação de 5 milhões de t de açúcar nas próximas semanas, e outros 3 a 5 milhões de t a partir do início da próxima safra, em outubro. Os estoques de passagem nas usinas do país estão estimados em 6 milhões de t, 25% menor do que as 8 milhões de t do ciclo anterior. O consumo é estimado em 27,5 milhões de toneladas e cerca de 4,5 milhões de toneladas equivalentes serão usadas para a mistura de etanol em 2022/23.
A China importou 680 mil t de açúcar em agosto, 35,8% a mais do que no mesmo mês de 2021. No acumulado do ano, o país asiático já comprou 2,73 milhões de t do adoçante. É um mercado para ficarmos de olho também pensando no açúcar!
Raizen já está com 50% de exportações diretas de seu açúcar, após o final da joint-venture com a Wilmar.
No etanol, no acumulado da safra 2022/23, desde 1° de abril, a produção do biocombustível soma 17,94 bilhões de litros, retração de 4,3%, dos quais: 10,97 bilhões de litros correspondem ao etanol do tipo hidratado (- 5,3%) e 6,97 bilhões de litros do tipo anidro (- 2,71%). Do total produzido neste ciclo, 1,69 bilhão de litros (ou 15,4%) corresponde ao etanol de milho, crescimento de 26,3% no comparativo com 2021.
A produção de etanol de milho no Brasil em agosto foi de 363 milhões de litros, um crescimento de 15,6% quando comparado com o mesmo mês do ano passado. Desde o início da safra, em abril, todos os meses registram volume de produção maior que o ano passado, o maior deles em junho/22, quando saltamos de 249 para 366 milhões de litros produzidos no mês, alta de 47%!
Já as vendas totais de etanol pelas usinas do Centro-Sul somaram 2,69 bilhões litros em agosto, alta de 7,5% em relação ao mesmo período de 2021/22. No mercado interno, foram 1,38 bilhão de litros vendidos do etanol hidratado (- 6,2%) e 1,08 bilhão de litros do anidro (+ 20,5%), que vem registrando forte alta movida pelo aumento no consumo da gasolina no mercado interno, números que tem refletido no resultado geral da safra. Até o momento, no acumulado de 2022/23, foram vendidos 6,89 bilhões de litros do hidratado (- 6,7%) e 4,43 bilhões de litros do anidro (+ 5,7%).
Já vendas externas de etanol somaram 233,4 milhões de litros em agosto, alta de 69,7%. Em termos de receitas, foram US$ 226,62 milhões, com um incrível incremento de 420,2% frente ao mesmo mês do ano anterior. Os principais compradores do biocombustível brasileiro foram os Países Baixos, a Coreia do Sul, os EUA e o Reino Unido.
As vendas totais de etanol (mercado doméstico + exportações) somam 12,20 bilhões de litros no acumulado de 2022/23, queda de 0,9%. 7,21 bilhões de litros correspondem ao hidratado (- 7,9%) e 4,99 bilhões de litros ao anidro (+ 11,4%).
Desde o início da safra, os preços do etanol hidratado vêm registrando forte redução mensal: em abril, a média do Indicador Cepea/Esalq – São Paulo ficou em R$ 3,63/l; em junho, caiu para R$ 3,06/l. No último mês de agosto, o preço do litro foi a R$ 2,67; e até o dia 16 de setembro, as médias deste mês fecharam em R$ 2,30/l. As quedas sucessivas tem relação, principalmente, com o aumento da oferta do biocombustível pelas usinas com o avanço da safra de cana-de-açúcar. Seguimos acompanhando!
Arnaldo Correa trouxe interessante análise do mercado de combustíveis e a Covid 19. Segundo ele em fevereiro de 2020 nosso consumo do Ciclo Otto, nos 12 meses anteriores havia sido de 54,2 bilhões de litros. O crescimento em um ano foi de 3,9%, e o da década de 3,8% ao ano. Se o ritmo de crescimento tivesse se mantido, o Ciclo Otto teria hoje cerca de 7 bilhões de litros a mais. Se o etanol mantivesse o share de 48,3% do consumo (fevereiro de 2020) a demanda adicional seria hoje de 3,4 bilhões de litros a mais. Com este raciocínio ele ressalta o problema de falta de cana que teremos em breve.
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