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A ilusão de chamar sua Central Logística de COA

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Muitas companhias sucroalcooleiras operam Centrais de logística, chamando-as de COA (Centro de Operações Agrícolas) . Mas por que isso? A tecnologia está evoluindo cada vez mais e nossas operações estão cada vez mais automatizadas. A rastreabilidade operacional, independente do setor de produção está chegando à um outro patamar.

A análise de dados, a utilização da geolocalização e a telemetria são as principais ferramentas do momento quando o assunto é operação mecanizada. Mas precisamos ter muito cuidado ao considerarmos tecnológico algo que é cotidiano. É assim em vários setores e não poderia ser diferente no segmento canavieiro.

Precisamos nos orgulhar de nossos feitos e conquistas, com certeza! Porém, a evolução tecnológica do setor canavieiro não se dará apenas com a compra de computadores de bordo ou instalação de televisores de parede. A otimização das operações mecanizadas não ocorrerão por si só. É preciso explorar mais afundo o que estas tecnologias tem a oferecer.

Dizer que o COA é como a Central Logística é como se comparássemos o conhecimento de um cirurgião plástico em intervenções reparadoras com o conhecimento da secretária da clínica sobre o mesmo assunto, ou seja, é superficial e não trará resultado para o cliente.

O Centro de Operações Agrícolas ou Centro de Controles das Operações, precisa ser visto como um local onde peritos com expertise em processos agrícolas monitoram as operações e garantem que não haja nenhum desvio operacional que impacte a companhia, seja de forma quantitativa ou qualitativa.

O que quero dizer é que Central de Logística não é COA. Agora, COA pode ser uma Central Logística? Claro que sim! A tecnologia justamente está aí para otimizar estes processos e procedimentos que fazem parte da logística de cana de uma usina ou produtor. Com a tecnologia conseguimos automatizar processos e reduzir custos e mão de obra em operações que anteriormente eram muito mais onerosos e que dependiam de pessoas 24h.

Pense comigo, com a telemetria conseguimos identificar estados operacionais, como produzindo ou parado por manutenção. Com todos equipamentos conectados em umé possível gerenciar a necessidade industrial e automaticamente alocar os caminhões para as frentes com o potencial para realizar a entrega da cana-de-açúcar. Tudo através da integração dos dados monitorados 24h/7.

Com isto, o processo de despacho de caminhões para frentes de colheita, antes conduzido por uma pessoa por turno, custando um salário médio de R$5.300/mês contabilizando os encargos trabalhistas, agora é feito automaticamente. Agora, um profissional atua diretamente na análise de dados com o objetivo de otimizar a operação.

E como podemos fazer essa integração entre Central Logística e COA? Para isso é preciso observar alguns fluxos que são imprescindíveis para garantir um processo eficiente e ágil. Preciso responder algumas questões. O fluxo organizacional está claro para toda companhia? O fluxo de informações é bem definido? Parâmetros, tratativas e questionamentos? As métricas operacionais estão bem definidas? A equipe que atua no COA está treinada a respeito das instruções de trabalho dos processos monitorados? A companhia como um todo entende o propósito do COA?

Esta é a diferença entre ter uma central logística – com vários televisores e diversos gráficos no “carrossel”, com rádio amador chamando a central cobrando caminhões porque o “bate-volta só falta fechar carga”, motorista deixando caminhão na balança e descendo até a janela na central, outro motorista na balança de saída aguardando o controlador passar a frente de destino, gestão cobrando o relatório que não foi enviado à 30 minutos – e ter um COA.

Ter um Centro de Operações Agrícolas significa ter despacho automático vinculado à telemetria com pesagem de entrada automático, com relatórios sendo feitos e enviados automaticamente de hora em hora por e-mail. Rotinas de automação direcionando os mesmos relatórios via mensageiro eletrônico, relatando qualquer desvio operacional que excede as instruções de trabalho já parametrizadas dentro do bordo. E o próprio bordo retornando ao operador o seu desvio, o que otimiza em quase 90% a tratativa de desvios operacionais.

Os controladores neste cenário não são mais controladores, mas são analistas de operações, focados em identificar anomalias operacionais e saná-las o mais rápido possível, trazendo melhoria contínua e potencializando os resultados.

Nas minhas consultorias desenvolvi a metodologia Lean aplicada ao Monitoramento Agrícola e a nomeei de 3P’s.

– Padrão: Somente conseguimos mensurar qualquer desvio se houver um parâmetro pré-definido para o monitoramento. Por isso, o mapeamento dos processos é essencial para a implantação de um COA.

– Processos: Com o padrão operacional, seja de qualidade ou procedimento, precisamos ter, de forma clara e objetiva, como o processo deve ser realizado, seja falando de organograma ou fluxograma. Ou seja, o que vêm antes e depois de cada ação.

-Processos: a objetividade dos resultados se limita no desenvolvimento das pessoas que o buscam. Ter em mente que a capacitação e treinamento é um investimento que garante a rentabilidade da sua empresa é o início de uma jornada de sucesso no COA. Não somente no COA, mas em todos os níveis da companhia para que saibam o valor que cada um exerce no resultado final e a responsabilidade que cada função tem no todo.

Veja como o conceito de monitoramento agrícola vai muito além de TVs e placas com o nome de COA. Consegue discernir a diferença entre Central Logística e COA? Espero que essas dicas possam direcionar a implantação deste “famoso” setor na sua empresa e que consigam superar as expectativas em um ano tão desafiador como este que estamos iniciando. Caso não tenha ficado claro, me coloco à disposição.

*Matheus Tobias é coordenador de Planejamento e Controle Agrícola na Usina Santa Adélia e CEO do Coa e Cia Consultoria e Treinamento

*Textos escritos por articulistas não necessariamente exprimem a opinião da RPAnews

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