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Opinião

A nova era do setor sucroenergético

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Por: Pedro Mizutani 

Pedro-MizutaniEm todo o mundo, a tecnologia já causou grandes revoluções nos mais diversos setores da sociedade. As impressoras 3D já iniciaram suas impressões em plástico e agora já caminham para produzir metais e provocar um grande impacto nos setores industriais. Também há casas e cidades inteiras erguidas à base de inteligência artificial, que baseiam suas decisões de arquitetura, política e tecnologia em dados de uma extensa rede de sensores que recolhem informações sobre qualidade do ar, nível de ruídos e as atividades das pessoas, e pretendem, assim, inaugurar uma nova maneira de se relacionar com o mundo à nossa volta. No setor sucroenergético, essa realidade não é diferente.

Pelo contrário: iniciativas que apostam em inovação e mudança de paradigmas são a chave para antecipar um futuro movido a energia limpa e renovável. É possível enxergar essa revolução em todo o processo produtivo, do plantio da cana-de-açúcar à distribuição de biocombustíveis e bioenergia. Uma reinvenção contínua que visa adaptar as companhias a esse novo cenário que está em constante transformação.

E isso não apenas pela necessidade de acompanhar o novo, mas por uma questão de sobrevivência dos negócios. Qualquer empresa que queira continuar saudável e manter a rentabilidade precisa acompanhar essa tendência. A pressão que a tecnologia coloca sobre as empresas é benéfica para o setor e para a sociedade. É assim que nos desafiamos e evoluímos mais rapidamente. Foi em busca de mais produtividade e explorando novas tecnologias que, na Raízen, pudemos aumentar o portfólio de produtos do setor.

O etanol de segunda geração e a cogeração de energia elétrica por biomassa e biogás são exemplos desse movimento, uma plataforma de lançamento para o futuro do setor sucroenergético. As duas iniciativas representam avanços de grande importância para o setor e para o meio ambiente, uma vez que, com processos e produtos mais sustentáveis, reduzimos emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o nosso impacto no meio ambiente, colaborando diretamente para o cumprimento das metas do Brasil na COP21.

Alguns resultados práticos ilustram o impacto positivo que essas tecnologias oferecem: a cogeração de energia por meio da biomassa e biogás já responde por 6% da matriz energética nacional. Pode ser produzida a partir de fontes como casca de arroz, cavaco de madeira e caroço de açaí, por exemplo. A principal fonte, porém, é o bagaço de cana-de-açúcar, que correspondeu, em 2017, a 85% de toda a energia gerada por biomassa nas usinas. Esse é um processo sustentável de ponta a ponta, uma vez que o bagaço utilizado é um subproduto da produção de açúcar e etanol, o que evita a necessidade de descarte desse material, gerando menos resíduos.

A energia proveniente da cogeração ainda se destaca por ser uma fonte de energia que opera durante o ano inteiro, principalmente nos períodos de seca. Dados da Unica – União da Indústria da Cana-de-Açúcar, apontam que, em 2017, 84% da geração para a rede pela biomassa da cana ocorreu entre maio e novembro, quando as hidrelétricas estavam esvaziando os reservatórios. Ou seja, é uma energia que nos garante distribuição especialmente quando o nosso sistema hidrelétrico está mais sobrecarregado.

Garantia para as indústrias funcionarem no mesmo ritmo o ano todo. A bioenergia alavanca a economia nacional. Segundo a Bloomberg, o setor deve receber US$ 26 bilhões em investimentos no Brasil até 2040. Junto com a geração eólica e solar, a biomassa deve ser um dos tipos de energia que mais vai se desenvolver nos próximos anos.

Segundo a Cogen – Associação da Indústria de Cogeração de Energia, de janeiro a maio de 2018, o Brasil gerou uma média de 14,5% MW a mais de eletricidade por biomassa, em comparação ao mesmo período de 2017. O biogás, outra fonte sustentável e renovável, também representa um papel importante e crescente no desenvolvimento da matriz energética nacional. De acordo com a Unica, até 2030, sua produção deve chegar a 32 milhões m3/dia, representando 96% menos emissões de gases de efeito estufa.

Também estamos evoluindo bastante em pesquisa e desenvolvimento para ampliar ainda mais a utilização de coprodutos do processo de produção de açúcar e etanol. Já avançamos consideravelmente ao utilizarmos a vinhaça, que será operada durante a safra, e a torta de filtro, disponível o ano todo.

Essa combinação permitirá à Raízen uma produção de biogás na ordem de 138 mil MWh por ano. Desses, 96 mil MWh serão vendidos dentro de um contrato negociado em leilão em 2016 do qual a empresa foi a vencedora e que deverá começar a ser cumprido a partir de 2021. O excedente poderá ser negociado no mercado livre de energia ou outros contratos. Além disso, tanto a torta quanto o filtro serão utilizados como fertilizante após o processo de obtenção do biogás, permitindo um processo ainda mais limpo e sustentável.

Outra diretriz fundamental nessa nova era do setor e que levamos muito a sério na Raízen é o olhar para o ambiente externo. Grandes ideias têm surgido em ecossistemas de startups, com jovens inovadores apostando em projetos de grande impacto e potencial. Assim, criamos o Pulse, o nosso hub de inovação que, prestes a completar um ano, é um espaço de encontro e circulação de executivos, empresas e formadores de opinião e que têm como objetivo oxigenar ideias e práticas que enriqueçam o setor sucroenergético brasileiro em todas as suas frentes de negócio.

Os resultados já são visíveis: das 15 startups aceleradas no hub, 11 já têm projetos pilotos sendo testados na Raízen, o que reforça a importância de investir em pesquisa e em desenvolvimento de forma abrangente, buscando novas soluções, dentro e fora de suas fronteiras, examinando os melhores projetos e práticas com potencial em larga escala que podem ser aplicados no desenvolvimento do setor como um todo.

Para que todo esse desenvolvimento seja possível, é fundamental que governo e sociedade se unam por políticas que contribuam para o fomento das atividades do setor. Excelente exemplo é o RenovaBio, programa que tem como missão incentivar a produção e o uso de biocombustíveis e a descarbonização do transporte. A iniciativa tem, entre suas metas, induzir, de forma previsível, a redução competitiva e eficiente da intensidade de carbono da matriz de combustíveis. Ao desenvolver o setor sucroenergético, consequentemente desenvolvemos outras capacidades operacionais, gerando um ciclo de benefícios para a sociedade.

Vivemos, hoje, um momento único de diálogo claro e assertivo, com uma agenda pública junto aos órgãos competentes para mostrar a importância do desenvolvimento do setor. Para isso, a atuação das empresas, em conjunto com instituições como a Unica, é essencial. Apenas dessa forma, conseguiremos atingir a meta de participação de 18% de biocombustíveis na matriz energética. Para a produção de etanol, isso significa acrescentar mais 22 bilhões de litros anuais, quase dobrando a produção nacional, que, atualmente, é de 27 bilhões de litros/ano.

E, detalhe: o Brasil já é exemplo no uso de fontes renováveis. Enquanto o mundo exibe uma matriz composta por apenas 13% de energia renovável, contamos com cerca de 40% de energia limpa, da qual cerca de 18% é gerada por biomassa. E isso sem prejudicar o uso racional de recursos naturais ou da produção de alimentos no País: segundo a Unica, para o plantio da cana-de-açúcar, apenas 0,6% do território nacional é utilizado para produção de biocombustíveis.

Agora, é preciso embarcar o Brasil definitivamente em uma era de energia limpa e sustentável, investindo em perspectivas de longo prazo para poder exercer suas vantagens competitivas e assumir a dianteira na jornada de descarbonização do transporte, das indústrias e dos serviços. Os biocombustíveis já substituem cerca de 40% do consumo de gasolina e 10% da necessidade de óleo diesel no País.

Além do RenovaBio, o programa Rota 2030, que deve ser aprovado em breve e tem em seu escopo, entre outras coisas, o estabelecimento de objetivos numéricos e prazos exatos para atingir metas de eficiência energética, é essencial para impulsionar a indústria brasileira. Devemos reforçar a importância do setor sucroenergético para o desenvolvimento nacional e, acima de tudo, para o futuro da humanidade, colaborando diretamente para a diminuição dos gases de efeito estufa, e, consequentemente, para um futuro mais seguro para as próximas gerações.

Pedro Mizutani, vice-presidente de relações externas e estratégia da Raízen e presidente do conselho deliberativo da Única. 

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