A remoção das tarifas britânicas sobre o etanol dos Estados Unidos, prevista no novo acordo comercial entre os dois países, pode representar um duro golpe para a planta deficitária da Associated British Foods (AB Foods) em Hull, no norte da Inglaterra. A medida foi anunciada na quinta-feira (8) e levanta preocupações sobre o futuro da indústria nacional de etanol.
De acordo com informações divulgadas pela agência Reuters, o acordo prevê a eliminação da tarifa de 19% atualmente aplicada ao etanol norte-americano, com uma cota de importação de até 1,4 bilhão de litros – um volume que ultrapassa em muito as exportações dos EUA para o Reino Unido em 2024.
A decisão pode acelerar o encerramento das atividades da planta da AB Foods, conhecida como Vivergo, que produz biocombustíveis e ração animal. Em entrevista à Reuters no dia 29 de abril, o CEO da empresa, George Weston, afirmou que os negócios de etanol enfrentam “problemas significativos” devido às “importações efetivamente subsidiadas” dos Estados Unidos.
Além da Primark, a AB Foods é proprietária de marcas conhecidas como Twinings e Ovaltine (Ovomaltine no Brasil). A companhia vem pedindo ao governo britânico mudanças na regulamentação do setor, alegando que as regras atuais comprometem a viabilidade da planta em Hull. Sem avanços nas negociações, cerca de 150 empregos estão sob risco.
“Temos muito claro o que precisamos fazer com o negócio do etanol – essa é uma questão regulatória para a qual precisamos do apoio do governo”, disse Weston.
Com a abertura do mercado britânico ao etanol dos EUA, a pressão sobre a produção nacional deve aumentar. “A decisão do governo de permitir importações de etanol isentas de tarifas dos EUA para o Reino Unido está causando grande ansiedade em muitas pessoas no nordeste da Inglaterra, principalmente nos funcionários, fornecedores e agricultores envolvidos na indústria de etanol do Reino Unido”, declarou um porta-voz da AB Foods à Reuters.
A empresa afirma estar avaliando os impactos e discutindo as implicações do acordo com o governo.
Entidades do setor agrícola e energético também expressaram preocupação. O Sindicato Nacional dos Agricultores da Grã-Bretanha alertou que a medida pode prejudicar produtores locais de matéria-prima para o etanol. Já a Renewable Energy Association destacou que os subsídios norte-americanos, como créditos fiscais, podem tornar o etanol dos EUA significativamente mais barato do que o britânico, ampliando a concorrência desleal.
O cenário já vinha se deteriorando. A empresa Ineos, por exemplo, fechou sua fábrica de etanol em Grangemouth, na Escócia, em janeiro, citando queda na demanda e aumento das importações.
A concessão do Reino Unido sobre o etanol — assim como sobre a carne bovina — foi feita em troca da retirada, pelos EUA, de tarifas adicionais de 25% sobre aço e alumínio, além da liberação de uma cota de 100 mil carros exportados britânicos com taxa de 10%. As demais tarifas permanecem inalteradas.
Em defesa do acordo, o primeiro-ministro Keir Starmer afirmou que a medida visa proteger empregos nas indústrias automobilística e siderúrgica do país.