O mercado de açúcar e etanol registrou trajetórias opostas em setembro. Enquanto o açúcar foi sustentado pela produção recorde no Brasil e pela demanda externa aquecida, que garantiram estabilidade nas cotações internacionais, o etanol perdeu competitividade diante da queda nos preços da gasolina, que reduziu sua atratividade no mercado interno. Os dados foram divulgados no último Agro Mensal do Itaú BBA.
Os preços internacionais do açúcar recuaram 1,6% em setembro, encerrando o mês em US¢ 16,10/lb, mas vêm se mantendo desde junho no intervalo de US¢ 15 a 17/lb, sustentados pela forte produção brasileira. Quando os preços se aproximam do limite inferior dessa faixa, a produção de etanol volta a ser mais vantajosa que a de açúcar para os produtores brasileiros, o que ajuda a equilibrar o mercado.
Até 15 de setembro, a moagem acumulada de cana no Centro-Sul somou 450 milhões de toneladas, queda de 4% em relação à safra passada. A produção acumulada de açúcar atingiu 30,4 milhões de toneladas, em linha com 2024, e o direcionamento da cana para a produção açucareira bateu recorde histórico, com 52,9%, mesmo com a redução de 4% no teor de sacarose, que ficou em 134,1 kg de ATR por tonelada. A segunda quinzena de agosto também registrou um volume inédito, com quase 3,9 milhões de toneladas produzidas, impulsionado pelo maior mix açucareiro desde julho.
Segundo os analistas do Itaú BBA, a safra do Hemisfério Norte começou com boas perspectivas na Índia e Tailândia, além de bons resultados na América Central devido ao clima mais chuvoso. Na Rússia, cerca de 45% da área de beterraba já foi colhida até o início de outubro, com produtividade média 3,2% maior que a do ciclo anterior, embora a concentração de sacarose tenha caído.
A expectativa é de uma produção de 6,6 milhões de toneladas de açúcar em 2025/26. Já na União Europeia, a colheita teve início com indicações positivas de produtividade na França e na Alemanha. Apesar da seca registrada entre maio e junho, as chuvas de julho e agosto trouxeram alívio e favoreceram o teor de sacarose, embora a área plantada tenha recuado 10% em relação à safra anterior.
Outro destaque do relatório é a evolução do prêmio do açúcar em relação ao etanol no Brasil. Depois de atingir -US¢ 1,00/lb ao longo de setembro, o indicador voltou ao campo positivo, sustentado por um balanço global de açúcar próximo do equilíbrio. O Itaú BBA estima um superávit de 1,7 milhão de toneladas em 2025/26, suficiente para manter o prêmio apenas levemente positivo, mas abaixo dos níveis dos últimos anos. A tendência é que o mercado acompanhe de perto a relação com o preço do etanol, cujo equivalente em Ribeirão Preto/SP ficou em US¢ 16,6/lb em setembro, com possibilidade de alta diante do aperto esperado no balanço do biocombustível.
O documento também destaca que a China intensificou suas importações após a queda de preços, e que refinarias do Oriente Médio aumentaram as compras, aproveitando o prêmio atrativo do açúcar branco sobre o bruto, que superou US$ 110/t em dezembro de 2025. Esse movimento, segundo o banco, reforça o suporte do mercado em patamares abaixo da equivalência com o etanol.
Etanol deve ter oferta restrita
No mercado de etanol, setembro foi marcado por oscilações influenciadas diretamente pela queda dos preços internacionais de energia, especialmente da gasolina. Em Paulínia (SP), o etanol hidratado foi negociado a R$ 2,82/l sem impostos, com média mensal de R$ 2,85/l, alta de 3%. No entanto, no final do mês os preços recuaram, refletindo a expectativa de que o combustível fóssil ainda pode cair entre 5% e 10% no mercado interno.
O relatório ressalta que a oferta de etanol de cana deve permanecer restrita na safra 2025/26, tanto pela menor disponibilidade de matéria-prima quanto pelo maior direcionamento da cana para o açúcar. Embora o etanol de milho siga em crescimento, esse avanço ainda não é suficiente para contrabalancear a queda do produto derivado da cana, o que mantém a competitividade do biocombustível pressionada frente à gasolina.
Segundo o Itaú BBA, a gasolina internacional, convertida em reais, estava em R$ 2,62/l no início de outubro (futuro da gasolina CME RBOB), enquanto a gasolina vendida pela Petrobras em Paulínia era de R$ 2,85/l. Apesar de essa comparação não refletir a política oficial da Petrobras, ela é usada como um indicador simplificado de tendência e sugere espaço para ajustes nos preços domésticos.
“Esse cenário faz com que produtores de etanol acelerem suas vendas, buscando evitar perdas diante da possibilidade de queda da referência da gasolina. Assim, mesmo com fundamentos de oferta e demanda ainda apertados para o biocombustível, a pressão sobre os preços prevalece no curto prazo”, disseram os analistas do banco.
O relatório observa, contudo, que se a redução da gasolina não se concretizar nos próximos meses, o etanol pode ter espaço para valorização durante a entressafra.
Clima: entrada do La Niña
Segundo relatório, as chuvas do final de setembro beneficiaram a cana-de-açúcar no Sul e no Sudeste, favorecendo a reposição hídrica e reduzindo queimadas, ainda que tenham provocado pausas pontuais no corte e na moagem. Em paralelo, os principais modelos meteorológicos — americano e europeu — apontam para uma melhor distribuição de chuvas nos próximos dias, o que deve acelerar o plantio de grãos.
De acordo com o Itaú BBA, a NOAA confirmou a transição para o fenômeno La Niña, que deve se manter até o início de 2026. Historicamente, esse quadro traz chuvas mais regulares para o Centro-Oeste e parte do Sudeste, o que tende a beneficiar a safra de soja nessas regiões. Já no Sul do Brasil, o fenômeno costuma estar associado a maior risco de estiagens, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, embora, neste ano, os mapas de projeção apontem para volumes acumulados suficientes para boa produção, inclusive no RS.
Natália Cherubin para RPAnews