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Açúcar

Açúcar: O mercado voltou a olhar para as paridades?

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 Os preços do açúcar ainda podem encontrar suporte durante a entressafra brasileira, mas sua extensão e intensidade estão altamente ligadas ao lado da demanda

Na semana passada, tudo girava em torno de aspectos técnicos: os traders observaram ansiosamente a retração de Fibonacci enquanto o açúcar tentou e não conseguiu se recuperar várias vezes, fechando a semana em 21.99c/lb.

“Preso em uma faixa entre 21,5 e 23,5 c/lb, é seguro dizer que uma resistência foi encontrada juntamente a um suporte, e adivinhar para onde os preços poderiam ir a partir daqui ficou extremamente difícil. Embora muitos possam argumentar que uma recuperação para o nível de 24 c/lb é bastante possível, pensando estritamente no lado técnico, os fundamentos não parecem estar na mesma página”, diz Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da hEDGEpoint Global Markets.

Segundo a analista, o Brasil compensará grande parte do déficit dos fluxos comerciais, e uma maior produção indiana de açúcar também contribui para um equilíbrio global mais baixista. “Os preços do açúcar bruto ainda devem encontrar suporte durante a entressafra brasileira, mas sua extensão e intensidade estão altamente correlacionadas ao lado da demanda e, até o momento, esta última tem decepcionado”, disse Lívea.

Uma boa medida da ação do mercado são os prêmios do físico. Como o Brasil é atualmente o principal fornecedor, esperava-se que seus valores estivessem no limite superior das observações, especialmente devido às expectativas de déficit do mercado, mas não estão. De fato, eles estão próximos da média. “De acordo com a Refinitiv, o valor do prêmio em dezembro está sendo negociado a -5pts/0, enquanto janeiro está passando de +5pts para +10pts – ainda abaixo dos níveis de 2022, quando um ano de déficit também estava sendo precificado. Será que estamos realmente em um déficit? Talvez ele simplesmente não seja grande o suficiente”, observa a analista.

Monitorar a demanda e sua ânsia tornou-se uma obrigação, mas não podemos separá-la do lado da oferta. O mercado pode estar se perguntando se a ideia de um déficit estrutural, que afirma que o crescimento da demanda acabará por superar a capacidade de produção, é de fato o rumo que o mercado de açúcar está tomando.

O Brasil, por exemplo, provou que preços mais altos induzem investimentos tanto na capacidade de produção quanto na logística, atingindo um recorde e nos levando a esperar outro ano excelente para 24/25. Do lado da demanda, embora muitos países emergentes ainda apresentem um crescimento anual positivo, os países desenvolvidos podem estar à beira de uma desaceleração, o que, combinado com o encolhimento da população e a tributação do açúcar, contribui para o lado baixista da equação.

“Como se não fosse complexo o suficiente, temos o clima, que pode de fato ser a principal variável que gera grandes desequilíbrios entre a oferta e a demanda global, pelo menos atualmente. Como a mudança climática leva o mundo a maiores adversidades e quebras de padrões, ela pode afetar diretamente o fornecimento”, explica.

Com foco no curto prazo, a previsão do tempo dos EUA confirmou que o El Niño deve continuar a ter seu efeito no Hemisfério Norte durante o inverno, mas tem 60% de chance de fazer a transição para ENSO-Neutro durante o período de abril a junho.

“Conforme discutido em nosso relatório anterior, isso fortalece a história de baixa, pois indica um retorno à precipitação média durante o período de desenvolvimento da safra 24/25 do Hemisfério Norte. Juntamente com o otimismo do mercado em relação à produção do Brasil, isso significa que o último suspiro de alta pode ser no primeiro trimestre de 24 – se a demanda permitir”, aponta Lívea.

Com o final do ano, tudo se move mais lentamente. Sendo assim, de acordo com a analista, haveria uma possibilidade de uma recuperação nos preços, mas talvez 24 c/lb seja o novo teto e se a demanda começar a se aquecer em janeiro, os preços poderão ficar confortáveis entre 22 e 24 c/lb.

Entretanto, à medida que nos aproximarmos de abril, os preços poderão começar a se corrigir e poderemos voltar a olhar para as principais paridades do mercado. A paridade de exportação da Índia está fora de jogo, atualmente em 19,5 – 20 c/lb, mas a paridade de importação da China persiste, estimada entre 18,8 e 19,3 c/lb: o mercado pode alcançar os seus níveis muito antes de atingir os do etanol.

“De um mercado técnico à compreensão dos fundamentos por trás do derretimento dos preços: há muito a ser monitorado para entender para onde os preços estão indo. O Brasil provou que pagar o suficiente leva a grandes investimentos e à expansão da capacidade, enquanto a demanda pode ser mais cautelosa do que nos anos anteriores. O clima sempre foi uma fonte de volatilidade e deve continuar sendo, assim como as decisões políticas. Em suma, o mercado parece estar convergindo para os níveis de suporte e paridades anteriores”, conclui Lívea.

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