Agrícola
Água na hora certa pode trazer incremento de TAH dos canaviais
Com a grande instabilidade do clima ao longo dos últimos anos e mesmo com condições normais de chuvas, a irrigação pode ser uma ferramenta que pode fazer toda a diferença porque traz maior estabilidade e previsibilidade na produção de cana-de-açúcar
Você sabia que ter água no momento certo pode ser um fator relevante para o aumento da TAH (tonelada de açúcar por hectare) dos canaviais? Isso ocorre porque a água impacta na formação da cana-de-açúcar, ou seja, na formação de sua biomassa e, consequentemente, na produtividade agrícola de colmos por área. E, em quantidade e distribuição adequada, possível por meio da irrigação por gotejamento, permite o maior desenvolvimento da estrutura vegetativa onde os açúcares serão acumulados.
“A segunda forma de influência na TAH diz respeito à redução gradativa do aporte de água para que o acúmulo de sacarose nos tecidos formados seja potencializado. Assim sendo, tanto a oferta quanto a restrição hídrica, no momento e quantidade adequados, são requeridos para que a melhor combinação de TAH seja alcançada”, explica Nilceu Cardozo, engenheiro agrônomo e consultor da Canaplan.
Os canaviais do Centro-Sul passaram por um longo período de estiagem – entre as safras 2021/22 e 2022/23, um dos fatores que corroborou para a limitação da produtividade dos canaviais, que chegaram a uma média de 67,8 t/ha na safra 2021/22 e 73,1 t/ha na temporada 22/2023.
Apesar de sabido que outros fatores como falta de luz, nutrientes e temperatura também impactam na produtividade dos canaviais, a estiagem causou, segundo Cardozo, perda de potencial de produção na formação dos canaviais, os quais se desenvolveram consideravelmente menos durante o período de primavera e verão, tanto na safra 2021/22 quanto na 2022/23.
“Essa condição ocasionou redução tanto no tamanho e na quantidade de perfilhos formados, como no aumento da ocorrência de falhas de soqueira/plantio. Contudo, houve uma diferença entre as safras: a redução da oferta hídrica durante o período de outono/inverno foi muito mais intensa em 2021/22 do que em 2022/23. Com isso, a perda de produtividade em 2021/22 foi muito mais intensa do que na safra seguinte, devido à rápida redução na taxa de crescimento e também na antecipação da desidratação dos colmos e consequente perda de densidade [pela perda de massa de água]”, explica.
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Na safra 2022/23, o outono mais úmido e a colheita postergada permitiram com que houvesse um maior crescimento dos canaviais entre abril e maio, bem como manutenção dos valores de TCH por mais tempo no decorrer da safra.
O TAH médio também foi melhor em 2022/23 no Centro-Sul. Atingiu 10, uma melhora 0,7 t de açúcares por ha, se comparado a safra 2021/22, que atingiu 9,3. Apesar do melhor desempenho, esse valor, segundo Cardozo, está aquém do resultado da safra 2020/21, que foi 11, e, principalmente, da média histórica do setor até 2008/2009, quando o valor médio de TAH era igual a 12.
Instabilidade do clima limita aumento de TCH e TAH
O período de formação dos canaviais da safra 2023/24, ou seja, seu período de primavera/verão foi consideravelmente mais chuvoso do que o observado nas últimas duas safras (2021/22 e 2022/23). No entanto, a precipitação, que ocorreu de forma mais bem distribuída e em bons volumes, não chegaram a ser muito acima da média histórica.
Ao contrário, de acordo Cardozo, os volumes de chuva podem ser considerados normais. “O problema é que não choveu consideravelmente nos anos anteriores e essa condição distorceu a percepção das pessoas. A expectativa para 2023/24, reforçada pelos dados de abril e maio, é que a produtividade agrícola seja superior aos dois últimos ciclos, talvez próximos aos valores observados em 2020/21”, disse.
No entanto, os bons resultados não se dão apenas em decorrência das chuvas da primavera e verão, mas também das condições ambientais do outono, de chuvas acima da média no subperíodo abril-junho e da maior participação de plantios na composição da média ponderada da safra.
“Com a concretização de um cenário de El Niño, pode-se esperar retorno antecipado das chuvas ao final do inverno e começo da primavera o que pode influenciar positivamente a produtividade do final de safra. Assim sendo, o TAH tende a ser afetado pelo aumento do TCH, embora os valores de ATR possam ser penalizados caso a moagem atrase em função das chuvas e se arraste até dezembro. Nesse cenário, o uso de maturadores é essencial durante todo o ano”, explica Cardozo.
Gotejamento: água e nutrientes de forma racional
Entretanto, mesmo em um ano considerado “normal” no Centro-Sul em termos de precipitação, ter a água para irrigar no momento correto faz bastante diferença. De acordo com o consultor da Canaplan, os ciclos de abundância e restrição de chuvas tem se tornado cada vez mais intensos e, mesmo que a média histórica das chuvas possa não sofrer variações, sua concentração em eventos extremos tende a ser tornar cada vez mais comum.
“Sistemas de irrigação trazem a possibilidade de estabilizar a produtividade da cana-de-açúcar, permitindo maior confiabilidade nas previsões de produção e, consequentemente, do que será comercializado no mercado futuro”, destaca Cardozo.
O sistema de irrigação por gotejamento, especificamente, entra com água mais nutrientes durante todo o período de safra, se assim for necessário, o que faz com que, mesmo em anos considerados normais, sua adoção impacte efetivamente na produtividade. E não é somente na produtividade. De acordo com dados da Netafim, em irrigação por gotejamento se faz a utilização de uma técnica chamada drying-off (momentos antes da colheita é retirada a água dos canaviais levando a cana a um stress hídrico), quando é possível obter uma maior taxa de ATR por tonelada de cana produzida. O ATR é maior quando comparado a produção em sequeiro porque a irrigação auxilia no aumento de produção, aumentando assim o volume de açúcar total recuperável em uma mesma área.
Segundo Cardozo, o sistema de gotejamento tende a apresentar efeitos que vão muito além da maior produtividade, pois implica também ganhos na eficiência de todo o sistema fornecendo água e nutrientes de forma racional às plantas de acordo com as demandas de cada etapa de seu ciclo. “A irrigação não traz apenas ganhos de produtividade pontuais, mas sim estabilidade de longo prazo da produção e maior longevidade dos canaviais”, diz.
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De acordo com dados da Netafim, produtores e fornecedores de cana-de-açúcar que utilizam a irrigação por gotejamento subterrâneo da companhia na região de Ribeirão Preto, SP, saltaram de 6 anos de longevidade para mais de 12 anos, sem a necessidade de reformar a área. Ainda segundo a companhia, é possível obter um aumento expressivo de etanol e de açúcar por hectare em canaviais irrigados.
Em regiões com déficit hídrico muito elevado o aumento de produtividade é ainda mais expressivo do que em relação a uma região cujo o déficit hídrico é menor. Os dados históricos da Netafim mostraram que canaviais irrigados por gotejamento podem obter um aumento de produtividade médio de 50% em relação a áreas de sequeiro. Além disso, dados levantados mostram que o payback da irrigação está em aproximadamente três anos, porém a companhia já analisou casos de usinas em que o sistema foi pago em apenas 1 ano e meio com o incremento de produtividade.
“A maior produtividade dos sistemas irrigados é, obviamente, a primeira variável a ser analisada em qualquer modelo econômico. Contudo, outras variáveis possuem importância como o aumento da longevidade dos canaviais, que implica redução dos custos de renovação, ganhos logísticos com a redução do raio médio da unidade ao aumentar a produção em áreas mais próximas à indústria, ganhos no uso de insumos, os quais podem ser utilizados em condições ambientais diversas e pelo próprio sistema de irrigação, ganhos na eficiência no uso de fertilizantes, reduzindo perdas por lixiviação etc e, por fim, ganhos na eficiência do uso da água e conversão de biomassa, o que pode elevar os ganhos com produção de CBio’s”, conclui Cardozo.
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