O Parlamento do Irã aprovou no domingo, 22, o fechamento do Estreito de Ormuz. A medida retaliatória vem após o bombardeio ordenado pelos Estados Unidos, contra instalações nucleares iranianas, em meio à guerra entre Irã e Israel. A decisão ainda precisa do aval do conselho supremo de segurança nacional e do aiatolá Khamenei, líder supremo do Irã. Mesmo assim, a possibilidade de bloqueio da principal rota marítima de transporte mundial de petróleo já causa grandes preocupações nos mercados globais. Mas como isso pode afetar o preço do petróleo e ainda mais, afetar preços da gasolina, etanol e açúcar no Brasil?
De acordo com Haroldo Torres, economista e hoje membro do Conselho do Pecege, um fechamento do Estreito de Ormuz poderia pressionar o Brent para US$ 110–130. Entretanto, devido a Petrobras não operar mais com paridade instantânea de importação (PPI) — adotando uma política baseada em “custo alternativo do cliente” e “valor marginal”, não deve causar grandes impactos nos preços da gasolina e, consequentemente, do etanol.
“A Petrobras intencionalmente evita repassar toda a volatilidade do petróleo internacional ao mercado doméstico, criando um colchão de estabilidade Desta forma, mesmo com o repasse parcial, uma alta global no petróleo eleva o preço da gasolina, favorecendo o etanol. O impacto será menos abrupto, mas suficiente para sustentar preços no etanol hidratado e anidro”, disse à RPAnews.
Mesmo que a política de preços da Petrobras modere o repasse da alta internacional, reduzindo pressões extremas nas bombas, o etanol ainda recebe impacto positivo, embora de forma mais controlada. “Já o açúcar tende a ganhar suporte via ajuste de mix produtivo, mas de modo menos contundente que num cenário de repasse total”, disse Torres.
De acordo com Arnaldo Luiz Corrêa, analista de Mercado e diretor da Archer Consulting, a disparada do Brent, novamente acima dos US$ 75/barril, tende a tornar o etanol mais competitivo, o que pode alterar a configuração do mix de produção no curto prazo.
“No mercado doméstico, os preços seguem mais atrativos do que na exportação. Isso pode reabrir espaço para um movimento já conhecido: o washout, com usinas recomprando posições de açúcar bruto vendidas às tradings para redirecionar a produção ao mercado interno, onde as margens são superiores”, disse em comentário semanal.
Estreito é responsável por 20% do fluxo de petróleo no mundo
O estreito é responsável pelo fluxo de cerca de 20% de todo o petróleo comercializado globalmente. Além disso, é crucial para o transporte de gás natural liquefeito (GNL), com iguais 20% do comércio mundial. Além de afetar a oferta da commodity no mercado global, há ainda efeitos na inflação. Com o petróleo mais caro, sobem os preços de energia e transportes, com reflexos nos custos de alimentos e insumos industriais.
Para analistas do mercado financeiro ao G1, o fechamento do Estreito de Ormuz pelo Irã deve se concretizar. Assim, os preços do petróleo devem subir, incialmente, cerca de 20%, projeta o economista André Perfeito. “Hoje, o petróleo do tipo Brent está cotado a US$ 77,27. A primeira resistência gráfica está situada no patamar de US$ 92. Logo, podemos imaginar o teste desta marca rapidamente, o que implica falar em uma alta de 20% em relação ao patamar atual”, afirma.
Segundo ele, os preços devem disparar ainda mais caso o conflito se estenda ao longo dos próximos dias. Nesse caso, o economista estima que o barril poderá avançar até 40%, acima de US$ 110. Seria um nível próximo ao pico de 2022, quando se intensificaram os conflitos entre Rússia e Ucrânia.
“O dólar deve disparar nesta segunda-feira, na esteira do aumento do ruído global. Contudo, sugiro, mais uma vez, cautela. Lembremos que o Brasil tem relação positiva com petróleo, uma vez que somos grandes produtores”, pondera.
Natália Cherubin com informações do G1