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[Artigo] Contra dores do crescimento, setor de etanol precisará investir em biotecnologia, por Fernanda Firmino

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Principal ingrediente para garantir uma oferta permanente do biocombustível será o desenvolvimento de ferramentas que aumentem a eficiência e reduzam os custos de sua produção

O plano “Combustível do Futuro” é uma das decisões mais acertadas de política energética e de descarbonização tomadas pelo governo brasileiros nos últimos anos. Assumindo o etanol como o combustível verde brasileiro, o governo mostra para o mundo o compromisso do país por uma matriz energética limpa.

No entanto, essa decisão traz consigo uma série de implicações econômicas, especialmente no que diz respeito aos desafios de atender a crescente demanda. Um deles é o preço do açúcar.

Quando seu preço sobe no mercado internacional, há uma migração da produção de cana para o açúcar, reduzindo a oferta de etanol e, consequentemente, pressionando os preços do combustível. Para manter o equilíbrio e garantir que o álcool continue atraente para os produtores é preciso que o governo esteja atento a esta questão.

Subsídios na forma de isenções fiscais, créditos para os produtores ou pagamentos diretos baseados na quantidade de etanol produzido podem ser úteis. Mas o principal ingrediente para garantir uma oferta permanente de álcool será o desenvolvimento de ferramentas que aumentem a eficiência e reduzam os custos de sua produção.

Para isto, o uso de soluções biotecnológicas, como enzimas, bactérias e leveduras, a otimização do processo de fermentação, além do aproveitamento de biomassas alternativas para produção do etanol 2G devem estar de forma permanente na agenda do setor.

Com uma maior produção de etanol por hectare de cana plantada, será possível atender à demanda crescente sem pressionar os preços. Além disso, ao aumentar a eficiência do processo produtivo, os custos de produção podem ser reduzidos.

Outro avanço importante possibilitado pelas leveduras e bactérias biotecnológicas é a capacidade de fermentar diferentes tipos de açúcares presentes no milho e em biomassas alternativas, como resíduos agrícolas (palha, bagaço de cana, entre outros).

Isso pode diversificar as fontes de matéria-prima para a produção de etanol, diminuindo a dependência exclusiva da cana-de-açúcar e, assim, contribuindo para estabilizar os preços do biocombustível.

É importante lembrar que mesmo com a expansão das áreas de cultivo, há limites biológicos e ambientais para a produção de cana e milho. Desmatamento, mudanças climáticas e a competição por terras agrícolas com outras culturas alimentares são apenas alguns dos desafios enfrentados pela indústria. Por isso a necessidade de tecnologias que aumentem a produtividade sem necessidade de grandes ampliações de fronteiras agrícolas.

Com as ameaças de eventos climáticos extremos, o mercado está mais atento às práticas ESG do setor. Empresas sem compromisso com a descarbonização serão cada vez mais penalizadas.

Aliás, estudos apontam que as soluções biotecnológicas podem, com vias metabólicas otimizadas, contribuir para a redução de até 25% das emissões por meio do aproveitamento de substratos e do consórcio microbiano.

Em dezembro, gigantes do setor como LBDS, BP Bioenergy, Raízen,Neomille, São Martinho, Azul Airlines, e Braskem estarão reunidas para discutir novas tecnologias para o setor.

O momento é importante ao mostrar a sinergia entre as empresas para trabalhar no aumento da produtividade do etanol e em aproveitar as oportunidades de diversificação que resultarão em soluções renováveis, sem sacrificar lucratividade. Aprovado no último mês, o plano “combustíveis do futuro” deve exigir R$ 130 bilhões em investimentos, de acordo com a Unica.

Com o setor trabalhando de forma conjunta, teremos o mais pungente mercado de etanol do planeta, servindo de exemplo não só para o Brasil, como combustível verde para todo o mundo.

O futuro do etanol no Brasil depende, portanto, de um equilíbrio entre políticas governamentais, avanços tecnológicos, biotecnológicos, e uma gestão eficiente dos recursos naturais. Somente dessa forma será possível controlar a inflação do etanol e garantir que o país continue a liderar a produção de biocombustíveis de maneira sustentável.

*Por Fernanda Firmino, autor em AgFeed
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