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Agrícola

Biológicos: eficientes e estratégicos

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Sustentável, produtivo e inovador, o controle biológico tem atraído a atenção de multinacionais e produtores

O controle biológico, tecnologia sustentável que permite a utilização de inimigos naturais para controlar pragas agrícolas, racionalizando o uso de defensivos, começou a ser assunto no setor canavieiro na década de 1960, devido ao trabalho do professor Domingos Gallo, chefe do Departamento de Entomologia da Esalq/USP, com moscas nativas para controle da principal praga da cultura, a Diatraea saccharalis, mais conhecida como broca da cana.

Foi a partir disso que algumas usinas instalaram laboratórios para a produção própria de Cotesia flavipes. Diante do sucesso, empresas também passaram a produzi-la. Dessa forma, para as pragas broca-da-cana, cigarrinhas-das-raízes, Mahanarva spp., e bicudo, o Sphenophorus levis, o controle biológico tem sido efetivo.

José Roberto Postali Parra, professor da Esalq\USP e diretor do SPARCBio (sigla em inglês para Centro de Pesquisa Avançada em Controle Biológico de São Paulo), explicou em artigo para a Revista Globo Rural como é realizado esse controle biológico: O controle de D. saccharalis tem sido feito com o parasitoide de ovos Trichogramma galloi. O monitoramento da praga é feito com fêmeas virgens (feromônio natural) de D. saccharalis colocadas no campo e iniciando-se a liberação do parasitoide T. galloi após 5 a 10 dias de serem encontrados 10 machos por armadilha. Hoje, são feitas 3 liberações de 50.000 parasitoides/ha a intervalos de 7 dias, num total de 3,5 milhões de ha tratados. Existem em torno de 5 empresas ativas para a venda do produto biológico, que é liberado na sua quase totalidade por drones”.

Ainda para D. saccharalis, ele menciona na publicação que é utilizado o parasitoide C. flavipes, produzido em cerca de 15 usinas e 27 empresas ativas que atendem a um mercado de 4 milhões de ha, com uma aplicação de 6.000 parasitoides por ha, liberados de 21 a 28 dias depois da coleta dos 10 machos mencionados anteriormente na armadilha, a mesma para T. galloi, e também realizando-se a liberação por drones.

Já para as cigarrinhas-da-cana, praga importante em cana crua, é utilizado o fungo Metarhizium anisopliae em cerca de 1 milhão de ha, e para Sphenophorus levis, o fungo Beauveria bassiana, em 1,3 milhão de ha, especialmente em São Paulo e oeste de Minas Gerais.

Isso mostra que o controle biológico é viável e tem resultados. Numa outra ponta, no último dia 23 de maio, a Unidade Laboratorial de Referência em Controle Biológico, que faz parte do Centro Avançado de P&D em Sanidade Agropecuária (Capsa), do Instituto Biológico (IB-APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, completou 50 anos.

O espaço é referência nas pesquisas com controle biológico no agro paulista, com contribuições disseminadas em vários estados brasileiros, e segundo o diretor da unidade, José Eduardo Marcondes de Almeida, foca numa temática de crescente importância para um país que irá cada vez mais produzir de forma sustentável.

De acordo com o diretor, o mercado mundial de biossoluções pode chegar a US$ 10 bilhões até 2025, segundo projeções do setor privado. “O IB está totalmente alinhado com essa busca pelo binômio sustentabilidade-produtividade”, afirma Almeida.

Foco em agricultura sustentável e manejo integrado

Esse binômio sustentabilidade-produtividade tem atraido multinacionais da área de agroquímicos, que apostam em programas de manejo integrado, ou seja, o complemento do uso de biológicos com soluções químicas.

Rodrigo Takegawa, líder de Marketing da Linha Cana da Corteva Agrisciense, explica que além do biocontrole, as soluções biológicas também podem maximizar a eficiência nutricional das plantas, seja pelo melhor aproveitamento dos insumos que compõem o sistema produtivo, exemplo dos fertilizantes, como também tornar disponíveis ao cultivo os nutrientes retidos no solo ou na atmosfera. Outra função dos produtos biológicos é uma melhora na resposta da planta a estresses abióticos, como falta de água e temperatura adversa.

“As soluções biológicas contribuem para aumento de produtividade, rentabilidade e qualidade da lavoura por meio de um sistema produtivo ambientalmente responsável para uma agricultura sustentável. Eles são aliados às soluções convencionais para uma estratégia de controle eficiente e integrada de manejo que combina produtos biológicos e químicos de proteção de cultivo utilizando múltiplos modos de ação, e fornecem uma abordagem sustentável para a gestão da resistência”, menciona Takegawa.

Ele avalia que o mercado de biológicos está em franco crescimento e a Corteva vem reforçando sua presença neste segmento com a oferta de soluções para nutrição e controle biológico para cana-de-açúcar e outras culturas como soja e milho.

“Quando a Corteva foi criada, os biológicos foram rapidamente identificados como uma ferramenta que nos permitiria enriquecer a vida dos produtores e consumidores de alimentos. Então, foi organizada uma plataforma global de biológicos da Corteva dedicada às novas descobertas, desenvolvimento e comercialização de soluções internas e colaborativas numa série de áreas estratégicas para focar nossos esforços no desenvolvimento e comercialização de soluções voltadas às áreas de controle biológico, bioestimulantes, inoculantes e feromônios”, lembra o executivo.

No início de 2021, a empresa anunciou parceria com a Simbiose Agro, maior produtora de tecnologias microbiológicas do Brasil, para comercialização do portfólio de biológicos no país. O objetivo da empresa é responder aos desafios dos produtores de maneira inovadora e, ao mesmo tempo, trazer mais opções de manejo que possam ser utilizadas dentro do sistema produtivo já existente.

A companhia investiu em duas soluções biológicas para a cana-de-açúcar: o inoculante para solubilização de fósforo Omsug Eco e o nematicida Inlayon Eco. O Omsugo Eco é o primeiro inoculante para solubilização de fósforo para a cultura, composto por duas cepas distintas, com forte aptidão em solubilizar e exclusivamente selecionadas e desenvolvidas pelos pesquisadores da Embrapa nos últimos 18 anos. Ele não apenas melhora no aproveitamento da adubação fosfatada, como também aumenta a disponibilidade do fósforo que fica retido no solo e na matéria orgânica, contribuindo para uma melhor formação do sistema radicular, mais energia para o desenvolvimento da biomassa, maior número de perfilhos, e em ganhos consideráveis em produtividade e longevidade do canavial.

O Inlayon Eco é um nematicida microbiológico que ajuda na proteção eficiente das raízes contra os principais nematoides do cultivo, contribuindo para uma lavoura mais saudável e produtiva. Ele contém uma cepa exclusiva, descoberta em solo brasileiro, originalmente eficaz no controle dos principais nematoides presentes na cana-de-açúcar, proporcionando melhor estabelecimento do cultivo. A solução contribui para aumentar a qualidade do canavial, além de maior longevidade e TCH .

Takegawa lembra que ambas as soluções apresentam compatibilidade biológica, física e química, com os principais produtos utilizados no cultivo, participando assim, das atuais práticas agrícolas presentes na lavoura. “Por serem produtos biológicos, auxiliam nos indicadores de certificações em conformidade com os padrões exigidos para negócios sustentáveis e cumprem as demandas sustentáveis dos consumidores e órgãos regulatórios”, acrescenta.

De acordo com ele, a Corteva segue investindo em soluções biológicas para uma agricultura cada vez mais sustentável e de maneira inovadora. Além dos dois lançamentos, a empresa tem um acordo de distribuição exclusiva da bactéria endofítica da Symborg sob as marcas BlueN ou Utrisha N.

O produto capta nitrogênio do ar e o torna disponível para as plantas. Atualmente, a solução aguarda aprovação dos órgãos regulatórios do Brasil. “Esta solução de manejo pode ajudar a maximizar o potencial de rendimento para uma ampla variedade de culturas como a cana-de-açúcar, soja, milho, frutas, vegetais entre outras”, conclui Takegawa.

Por Diana Nascimento

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