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Preços e ATR começam atraentes na safra da cana

Colheita Cana (Ilustrativa/RPAnews)
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Na cana, o primeiro mês da safra 2022/23 (abril) se encerra com atraso nas operações de processamento da cultura, segundo a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). No acumulado dos 30 primeiros dias, a moagem totalizou 29,11 milhões de t, queda de 35,8% na comparação com o mesmo período de 2021/22; era de 45,34 milhões de t.

Esse comportamento é resultado do menor número de usinas em operação este ano: são 180 unidades com atividades já iniciadas e eram 207 no mesmo período do ciclo passado. No entanto, espera-se que o setor se recupere destes atrasos, já que outras 57 unidades devem iniciar a moagem no Centro-Sul em maio.

Já a qualidade da matéria-prima fechou abril 7,3% menor do que o primeiro mês da safra passada, com 108,46 kg de ATR por t de cana; informou também a Unica. No campo, a produtividade foi 1,0% maior, alcançando 81,2 t por ha, de acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

A StoneX reviu suas previsões para o setor sucroenergético na safra 2022/23, indicando uma moagem de 565,3 milhões de t de cana (+8,3%), produção de etanol em 25,8 bilhões de litros (+7,0%) e de açúcar em 32,1 milhões de t (+8,1%). No segmento dos biocombustíveis, o etanol de milho deve entregar 4,2 bilhões de litros neste ciclo, uma alta de 20,7% na comparação com o passado.

A Tereos, uma das maiores produtoras de açúcar do Brasil, informou que vai ampliar ainda mais o mix de produção para o adoçante neste ciclo, em comparação com o anterior: serão 65% para o açúcar (era 63% em 2021/22) e 35% para o etanol (era de 38%). Segundo a companhia, a decisão foi pautada no bom nível de fixação de preços do açúcar em 2022/23, maiores inclusive do que os efetivados na safra 2021/22.

A Jalles Machado anunciou a compra da usina Santa Vitória, na cidade que a intitulou, em Minas Gerais, por R$ 704,9 milhões. Com isso, o grupo chega a sua terceira unidade e alcança capacidade total de moagem de 8,5 milhões de t, 70% a mais que o período anterior ao IPO da empresa, em fevereiro de 2021. A partir de agora, a estratégia do grupo será de investir para ampliar a produtividade de suas lavouras, a fim de garantir a oferta de cana nos níveis de sua capacidade de processamento.

Também neste mês, a Vibra Energia e a Coopersucar finalizaram o processo de criação da joint venture ECE (Empresa Comercializadora de Etanol). A primeira empresa terá 49,99% do capital social e a Coopersucar os outros 50,01%. A expectativa é de que já no primeiro ano de atuação, a ECE comercialize 9 bilhões de litros de etanol e com faturamento de R$ 30 bilhões, o que a coloca como maior comercializadora do biocombustível no país. Alguns processos societários e operacionais ainda estão em andamento, antes do início efetivo das atividades da empresa.

No açúcar, como resultado da menor moagem de cana, já citada em nossa coluna, a produção do adoçante fechou o mês de abril totalizando 1,06 milhão de t, volume 50,6% menor que o mesmo período de 2021/22.

Considerando a estimativa da oferta brasileira de açúcar em 32,1 milhões de t em 2022/23, a StoneX indica que haverá um superávit global de 4,1 milhões de t do adoçante esta safra, o maior desde 2018. Como resultado, a relação estoque/consumo de açúcar deve ficar em 79,5 milhões/t. Já a Green Pool estimou o superávit global de açúcar em 1,41 milhão de t em 2022/23; em janeiro, a previsão da consultoria era de déficit de 742 mil t. Para o Brasil, a empresa indica produção de 32,8 milhões de t do adoçante, com mix de produção em 43,6%.

No cenário global, a StoneX prevê a produção de açúcar no seguinte cenário: Índia deverá entregar 36,5 milhões de t (+2,8%); a Tailândia tende a produzir 11,5 milhões de t (+13,9%) e a União Europeia e Reino Unido, outros 16,3 milhões de t (-5,0%). A consultoria estima, ainda, um aumento na demanda global do adoçante em 190,5 milhões de t, 1,1% a maior. Já na China, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica um aumento de 400 mil t na produção de açúcar em 2022/23, com uma oferta total em torno de 10 milhões de t, considerando a safra que vai de outubro a setembro.

Na primeira semana de maio, a cotação do açúcar em Nova York em contrato futuro com vencimento de julho de 2022 estava em US$ 19,10 cents/libra-peso. Segundo a Archer Consulting, a estimativa é de que 17,5% do açúcar a ser exportado na safra 2023/24 (ou 4,2 milhões de t) já foi fixado a preço médio de US$ 17,3 cents/libra-peso (sem polarização), o que corresponde a R$ 2,259/t FOB Santos (com polarização); ou ainda, R$ 95,09 centavos/libra-peso (com prêmio de polarização). Ainda segundo a Archer, foram negociados 3,27 milhões de contratos futuros de açúcar na bolsa de Nova York em abril, 33% a mais que os últimos 6 meses e 16% maior que março/22.

No etanolsegundo a Unica, foram produzidos 1,49 bilhão de litros do biocombustível em abril, 26,9% a menos que abril passado; reflexo também do menor volume de cana processado. Do total produzido, 1,24 bilhão de litros correspondem ao hidratado (83,2%) e 242,91 milhões de litros ao anidro (16,8%). 281 milhões de litros – ou 18,9% do total – tiveram o milho como matéria-prima, volume que é 17,9% maior que o da safra passada.

Já as vendas de etanol somaram 2,22 bilhões de litros em abril, alta de 2,6%. Desse total, 107,0 milhões de litros foram exportados (+56,9%). Do total vendido ao mercado interno, 1,37 bilhão de litros foi do tipo hidratado (-5,5%) e 735,63 milhões de litros do anidro, (+15,3%). Vale o destaque também para a comercialização do etanol para outras finalidades (industrial e outros), que totalizaram 81,0 milhões de litros em abril, volume 11,9% maior que o mesmo mês de 2021/22.

Dados na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que a oferta dos Créditos de Descarbonização (CBios) do etanol foram de 2,04 milhões em abril, 12,5% maior que no ciclo passado, indicando o comprometimento dos agentes do setor com seu papel na mitigação do carbono e alavancar ainda mais o programa no país.

Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), autorizou a venda de gasolina com mistura de 15% de etanol durante nos meses do verão. A medida visa conter as constantes altas nos preços da gasolina nos últimos meses e deve ampliar a demanda pelo biocombustível no país.

Recentemente, a Tereos também informou a conquista do “CARB”, certificação que permite a exportação do etanol para a Califórnia, o que demonstra seu interesse e o valor que o biocombustível tem para seus negócios.

A Raízen anunciou investimentos na ordem de R$ 2 bilhões para construção de duas novas plantas de Etanol de 2ª Geração (E2G), anexas às suas unidades de Valparaíso (SP) e Barra Bonita (SP). Cada uma delas terá capacidade de produzir 82 mil m³ anualmente do biocombustível extraído do bagaço da cana já processado. As operações devem ser iniciadas em 2024 consolidando a Raízen como maior player mundial do etanol celulósico.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em junho na cadeia da cana:

  1. Acompanhar os desdobramentos da crise dos preços de combustíveis no Brasil, após a substituição do Ministro de Minas e Energia e de outros líderes das áreas públicas de energia. O parecer do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) sobre a Petrobrás pode possibilitar cortes de até 15% nos preços cobrados na bomba, pelo governo federal. Impactos diretos na cana!
  2. Progresso das operações de moagem na região Centro-Sul, com o início das atividades nas usinas que ainda estavam paralisadas (57, segundo a Unica). É importante ganhar tração neste momento para buscarmos os 560/570 milhões de t ao final de 2022/23.
  3. Observar como será o rendimento industrial e no campo da cana-de-açúcar no próximo mês. Em abril, a qualidade da matéria-prima (ATR) foi 7% menor que o mesmo mês do ano passado, apesar de a produtividade ter sido um pouco maior (+1%). Com o aumento no ritmo de processamento, será possível obter melhores indicadores de desempenho da safra em questão.
  4. Vendas do etanol hidratado para o mercado interno. Em abril, as usinas venderam 5,5% a menos do hidratado e 15,3% a mais do anidro, o que indica uma preferência do consumidor pelo consumo da gasolina, especialmente em função da paridade de preços. Por outro lado, o aumento da oferta do biocombustível, com o início da safra, tende a reduzir os preços do etanol na bomba e estimular o consumo: em 14/04, o indicador do etanol hidratado São Paulo (Cepea/USP) estava em R$ 3,84/litro; já no dia 13/05, a cotação foi de R$ 3,36/litro (-6,7%). Se o mix virar mais para etanol, o Brasil tem condições de influenciar o preço do açúcar para cima.
  5. No açúcar, avaliar as reações do mercado (principalmente dos preços em NY) após a divulgação dos novos números que ampliaram o superávit global do adoçante nesta safra, bem como a oferta e exportações de importantes players; mais produto no mercado, a tendência é de queda nos preços.

Valor do ATR

No primeiro mês da safra 2022/23, o valor mensal do ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) alcançou R$ 1,2453/kg, alta de 5,7% na comparação do março (R$ 1,1787/kg) e de 22,8% em relação ao mesmo mês da safra passada (R$ 1,0141/kg). Como este foi o primeiro mês da nova safra, a média é também o valor acumulado do ciclo atual. Vale lembrar que encerramos a última safra com um acumulado de R$ 1,1792/kg; ou seja, iniciamos com um ritmo avançado. Nossa previsão para o acumulado neste ciclo, até aqui, segue em torno de R$ 1,12 a R$ 1,15/kg.

*Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.

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