De acordo com a CMAA, clima adverso pressiona ATR e produtividade, enquanto custos elevados reduzem margens e resultado líquido na safra 2025/26
A Companhia Mineira de Açúcar e Álcool Participações (CMAA) encerrou o segundo trimestre da safra 2025/26 (2T26) sob um ambiente mais desafiador para o setor sucroenergético, marcado por condições climáticas adversas, pressão sobre custos e menor captura de margens. No período, a companhia processou 3,8 milhões de toneladas de cana, avanço de 1,8% na comparação anual, mas registrou queda relevante nos indicadores de produtividade agrícola e qualidade da matéria-prima, com impactos diretos sobre os resultados operacionais e financeiros. Os dados constam do relatório mais recente de resultados da companhia, referente à safra 2025/26.
Segundo a CMAA, o trimestre foi impactado por um cenário agrícola mais restritivo entre julho e setembro de 2025, período marcado por déficit hídrico persistente, temperaturas elevadas e irregularidade das chuvas no Centro-Sul. Esse conjunto de fatores comprometeu o desenvolvimento dos canaviais e se refletiu diretamente na qualidade da cana processada. De acordo com dados da companhia, o ATR médio recuou 6,2% no trimestre, para 145,8 kg por tonelada de cana, enquanto no acumulado do semestre (6M26) a retração foi de 5,3%, com o índice atingindo 134,6 kg/t.
A produtividade agrícola também apresentou deterioração significativa. Conforme reportado no balanço operacional, o TCH no acumulado da safra até setembro caiu 18,1%, passando de 86,8 t/ha no 6M25 para 71,1 t/ha no 6M26, uma das retrações mais expressivas dos últimos ciclos. Como consequência direta da menor produtividade e da piora na qualidade da matéria-prima, as toneladas de açúcar por hectare (TAH) recuaram, registrando 10,0 t/ha na cana própria e 9,1 t/ha na cana de terceiros, redução média de 22,5% frente ao ciclo anterior, segundo dados operacionais divulgados pela companhia.
Mesmo diante desse cenário, a CMAA manteve sua estratégia de mix produtivo, priorizando a fabricação de açúcar para atendimento de contratos previamente firmados. Segundo a companhia, a produção de açúcar no 2T26 alcançou 340,3 mil toneladas, crescimento de 10,0% em relação ao mesmo período da safra passada. No etanol, o movimento foi mais seletivo: a produção de etanol anidro somou 72,8 mil m³, alta de 18,7%, enquanto o etanol hidratado recuou 52,2%, para 46,9 mil m³, em linha com a estratégia de alocação de matéria-prima para produtos de maior retorno no trimestre.
A geração de bioenergia destinada à transmissão totalizou 151,0 mil MWh, volume 4,5% superior ao registrado no 2T25. Segundo a CMAA, o resultado reflete maior disponibilidade de biomassa para queima no período. No acumulado dos seis primeiros meses da safra, a produção de açúcar atingiu 571,8 mil toneladas (+2,2%), o etanol anidro somou 119,4 mil m³ (+16,7%) e o etanol hidratado totalizou 88,4 mil m³ (-53,5%). Já a geração acumulada de bioenergia recuou 9,2%, para 270,0 mil MWh, impactada, de acordo com a companhia, pela menor disponibilidade de palha e bagaço decorrente da queda da produtividade agrícola.
Na avaliação da administração, o trimestre foi marcado por “um conjunto de desafios que afetaram de maneira ampla o setor sucroenergético”, com maior volatilidade e pressões relevantes sobre preços, custos e condições financeiras. Segundo a diretoria, o ambiente menos favorável para açúcar e etanol reduziu o potencial de captura de margens e exigiu “ainda mais foco em eficiência e disciplina operacional”.
Pressão sobre margens e resultado financeiro
Do ponto de vista econômico-financeiro, a CMAA apurou receita líquida de R$ 903,8 milhões no 2T26, queda de 11,5% em relação ao mesmo período da safra anterior. No acumulado do semestre, a receita líquida somou R$ 1,49 bilhão, recuo de 12,9% na comparação anual. Segundo a companhia, o desempenho reflete principalmente a menor contribuição do açúcar e do etanol hidratado, impactados por volumes menores e preços menos favoráveis no período.
A receita bruta do açúcar totalizou R$ 645,6 milhões no trimestre, retração de 13,7%, explicada, de acordo com a CMAA, tanto pela redução de 7,2% no volume vendido quanto pelos preços médios mais baixos. O etanol hidratado registrou receita de R$ 109,7 milhões (-17,8%), acompanhando o recuo de 21,8% nas vendas. Em sentido contrário, o etanol anidro foi o principal destaque positivo do trimestre, com receita de R$ 124,3 milhões, avanço de 31,1% na comparação anual, sustentado por preços mais elevados e aumento de 25,1% no volume comercializado, em um contexto de maior competitividade frente à gasolina.
O custo dos produtos vendidos (CPV) alcançou R$ 640,3 milhões no 2T26, alta de 5,1% na comparação anual, pressionado, segundo a companhia, pelo aumento dos custos com plantio, compra de cana de fornecedores, despesas de corte, carregamento e transporte (CCT), além do impacto negativo da variação do valor justo dos ativos biológicos. Com isso, o lucro bruto recuou 36,1%, para R$ 263,4 milhões, e a margem bruta caiu de 40,3% para 29,1%.
O EBITDA ajustado somou R$ 480,2 milhões no trimestre, queda de 11,6% frente ao 2T25. Apesar do recuo, a margem EBITDA permaneceu praticamente estável, em 53,1%, o que, segundo a administração, evidencia a capacidade da companhia de preservar rentabilidade mesmo em um ambiente operacional mais desafiador. A diretoria destaca que a redução das despesas totais contribuiu para mitigar parte das pressões sobre o resultado.
O resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 97,1 milhões no 2T26, aumento de 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, refletindo maiores encargos associados ao endividamento em um cenário de juros e inflação mais elevados. Como consequência, o lucro líquido do trimestre foi de R$ 56,1 milhões, queda de 63,7% na comparação anual, com margem líquida de 6,2%.
No acumulado do semestre, a CMAA registrou prejuízo líquido de R$ 63,3 milhões, revertendo o lucro de R$ 133,1 milhões apurado no 6M25. Segundo a companhia, o resultado decorre da combinação entre margens operacionais mais pressionadas, elevação de custos e deterioração do resultado financeiro.
Apesar do cenário adverso, a administração ressalta que a CMAA manteve uma estrutura de capital equilibrada, com perfil de dívida compatível com o ciclo de caixa do setor e acesso a linhas de crédito que oferecem previsibilidade e flexibilidade ao planejamento financeiro. “Os fundamentos da Companhia permanecem sólidos”, destaca a diretoria, que reforça o compromisso com a busca contínua por eficiência, gestão disciplinada de custos, modernização dos ativos industriais e adoção de práticas agrícolas sustentáveis, com foco no longo prazo.
Natália Cherubin para RPAnews

