Conecte-se conosco
 

Destaque

Colheita da safra 2022/23 deve atrasar devido aos impactos climáticos

Publicado

em

Na última safra o setor sucroenergético teve muitos problemas por conta da seca, que vem atingido os canaviais ao longo dos últimos dois anos –  e dos incêndios. Esses fatores impactarão o início da safra 2022/23 no Centro-Sul.

De acordo com Luiz Carlos Corrêa Carvalho, diretor da Canaplan, a seca recorrente, principalmente seu longo período em 2021, juntamente com incêndios, são uma herança muito negativa para safra 2022/23 no Centro-Sul brasileiro.

“As brotações difíceis pela seca, em seguida arrasadas pelos incêndios significam falhas nos canaviais que não serão corrigidos por boa chuvas. Como consequência, o canavial fica atrasado para colheita em 2022, expondo-se a um inicio mais tarde, com os riscos climáticos constantes no período da primavera (final da safra)”, disse à RPAnews.

Ainda de acordo com Carvalho, uma recuperação do canavial é esperada, com a torcida por um verão e início de outono ainda favoráveis ao crescimento do canavial, ou a sua maturação com mais colmos.

Seca e incêndios prejudicaram a brotação e trouxeram muitas falhas nos canaviais, situação que não deverá ser corrigida mesmo com boas chuvas. Como consequência, o canavial fica atrasado para colheita em 2022. (Foto: Natália Cherubin)

Produtividade e renovação dos canaviais

Após uma safra boa safra de recuperação 2020/21, com média de 78 toneladas de cana por hectare, os produtores de cana do Centro-Sul brasileiro chegaram a uma média de 67 toneladas por hectare na safra 2021/22. O que esperar então de 2022/23? Há, sinteticamente, dois cenários claros, de acordo com Carvalho.

“O primeiro de boas chuvas no verão e em abril e maio de 2022, levando a um ganho de produtividade agrícola sobre a safra 21/22. Até 10% seria possível. E um segundo cenário de veranicos em fevereiro de 2022 e um outono seco. Nesse caso, a recuperação cairá efetivamente para metade do cenário otimista”, avalia Carvalho.

Será essencial que o setor este ano aumente as reformas em seus canaviais face o envelhecimento ocorrido em 2021. No entanto, apesar de querer renovar mais, o produtor, devido a seca/queimadas, enfrenta dificuldades de disponibilidade de mudas para um plantio de cana qualificado.

“Sendo assim, espera-se aumento no plantio com canas comerciais. Isso deverá ocorrer mesmo que acabe reduzindo o volume de cana para colheita” adiciona Carvalho.

Segundo Carvalho, mesmo querendo renovar mais, o produtor, devido a seca e queimadas, enfrenta dificuldades de disponibilidade de mudas para um plantio de cana qualificado.

Investimentos nos canaviais

Os preços dos produtos etanol e açúcar, muito bons em 2021, levaram ao aumento dos investimentos por parte de usinas e produtores. Entretanto, a inflação de demanda, com uma oferta vindo pesado contra uma demanda em rápida recuperação traz, de acordo com Carvalho, falta de matéria-prima para a produção de insumos essenciais.

“Soma-se a isso a dependência da oferta de insumos pela China, que face as Olimpíadas agora fecharam por um período suas fábricas que gerariam poluição local. Esses aspectos trazem dúvidas ao tamanho do aumento dos investimentos do setor sucroenergético em seus canaviais”, afirma.

Nos últimos anos, a cana-de-açúcar perdeu áreas para os grãos, que remuneravam melhor. No entanto, com a expectativa de que os preços do açúcar e do etanol se mantenham como na última safra, a tendência é que a cana interrompa reduções de área.

“Isso desde que não hajam decisões incorretas do governo [riscos de ano eleitoral]. Se houver alguma intervenção desastrada do governo para influenciar a redução dos preços da gasolina, por exemplo, isso traria uma competição com os grãos, que se somam, nas áreas de renovação de plantio, à cana-de-açúcar”, afirmou Carvalho.

Moagem da cana, etanol e açúcar

Enquanto algumas consultorias já arriscam previsões para a moagem da safra 2021/22, Carvalho prefere não arriscar. Para ele ainda é muito cedo para cravar um número.

Em outubro de 2021, a Canaplan indicou uma tendência de oferta de cana para algo em torno de 540 milhões de t. “Coloque-se um erro estatístico de 2% e tem-se uma projeção em bola de cristal esfumaçada”, afirmou à RPAnews.

Assim como outros consultores, a visão da Canaplan é também de uma safra mais alcooleira. “Provavelmente veremos o petróleo com bons preços, o que deveria manter o mix da safra 21/22, algo em torno de 45% das canas para açúcar e 55% para etanol. “O açúcar também irá remunerar, provavelmente com leve prêmio sobre o etanol.”

As indicações de que o Brasil terá uma safra de açúcar menor juntamente com uma leve melhoria no Hemisfério Norte e a demanda global maior, levariam novamente a uma dependência da oferta da Índia (com melhoria também da Tailândia) que, por sua vez, joga seus esforços nos US$ 20 c/lb. Sendo assim, Carvalho acredita em um açúcar a preços na faixa de US$ 19-21 c/lb.

Eleições 2022

Algo a se observar atentamente durante a safra 2021/22 são as eleições, principalmente presidenciais e estaduais, que podem vir a impactar nas políticas de preços dos combustíveis, como já tem sido observado em movimentos recentes do governo, que tem buscado formas de baixar impostos a fim de reduzir o preços dos combustíveis para o consumidor.

“Há forças no Planalto trabalhando por medidas que contrariam o mercado e, via impostos, reduzam o preço da gasolina, o que levaria à perda de competitividade do etanol. Esse e o maior risco”, na visão de Carvalho.

Por Natália Cherubin

Cadastre-se e receba nossa newsletter
Continue Reading