Anúncio ocorreu durante a Arena de Debates Esfera, em Piracicaba, que reuniu especialistas, produtores e consultores do setor e marcou também o lançamento da plataforma de colaboração criada pelo CTC
Um dos maiores enigmas da fitossanidade da cana-de-açúcar acaba de ser esclarecido. Pesquisadores comprovaram que a Síndrome do Murchamento da Cana, antes tratada como uma condição multifatorial, tem como agente causal o fungo Colletotrichum. A descoberta, validada pelo Postulado de Koch, foi anunciada nesta terça-feira (23), em Piracicaba (SP), durante a primeira edição da Arena de Debates Esfera, promovida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
A revelação representa um marco para a canavicultura, pois abre espaço para estratégias de manejo mais assertivas e para o desenvolvimento futuro de variedades geneticamente resistentes, trazendo esperança diante das perdas crescentes provocadas pela doença.
“O estudo comprova aquilo que já vínhamos investigando de que a murcha da cana tem um agente causal específico. Essa constatação representa um avanço significativo para toda a cadeia produtiva e permite direcionar esforços em busca de soluções para esse desafio do setor”, afirmou Luciana Castellani, gerente executiva de Melhoramento Genético do CTC.
A pesquisadora Lilian Amorim, professora da ESALQ/USP e integrante do fórum científico sobre a murcha, destacou a importância prática do avanço: “Identificar o agente causal da murcha da cana é um passo fundamental para todo o setor. Só conhecendo a causa é possível avançar em pesquisas, desenvolver estratégias de manejo mais assertivas e dar segurança aos produtores para controlar a doença. Essa descoberta abre caminhos concretos para soluções que irão fortalecer a produtividade e a sustentabilidade da canavicultura.”
A descoberta foi anunciada durante o evento que reuniu especialistas, produtores e consultores do setor sucroenergético em torno dos principais desafios agronômicos da cultura. A Arena de Debates Esfera marcou também o lançamento da plataforma Esfera, iniciativa do CTC que nasce como um espaço de conexão permanente para todos os elos da cadeia, com objetivo de fomentar a colaboração e ampliar a troca de conhecimento.
“O Brasil é referência na cultura da cana de açúcar e a Esfera chega para ser o palco de debate do setor nos temas técnicos mais relevantes que visam expandir o conhecimento e aplicabilidade de diferentes práticas de manejo que levarão ao aumento da produtividade. Nossa proposta é fomentar a colaboração e manter o protagonismo da cultura da cana-de-açúcar na agenda da transição energética. Junto com os nossos clientes nós vamos impulsionar essas conexões, colocando ciência e inovação a serviço de um futuro mais competitivo para o setor”, destacou César Barros, CEO do CTC.
Ao longo do dia, painéis técnicos trouxeram análises e relatos de campo que reforçaram a gravidade da murcha para a produtividade. Produtores relataram perdas significativas e apontaram a necessidade urgente de soluções conjuntas. “Essa iniciativa é de extrema importância, principalmente diante da estagnação da produtividade. Reunir pesquisadores e produtores em prol de soluções é exatamente o que a cana-de-açúcar precisa neste momento”, avaliou Rogério Bremm, diretor agrícola da BP Bioenergy.
O evento também contou com o Fórum Científico, espaço que consolidou as discussões já existentes em diferentes frentes e uniu esforços em busca de soluções conjuntas para o problema agronômico.
Para Suzeti Ferreira, diretora de marketing do CTC, a essência da Esfera está na colaboração: “Estamos unindo diferentes atores em torno de um objetivo comum. A Esfera é a materialização de como a cooperação pode acelerar respostas aos maiores desafios da cana, fortalecendo a competitividade e a sustentabilidade do setor.”
Implicações práticas do avanço científico
Além do aspecto científico, o anúncio trouxe luz a uma série de práticas de manejo que podem ser redesenhadas. O colletotrichum, ao ser incorporado ao solo, tem relação direta com sintomas da doença que reduzem longevidade dos canaviais. Saber a causa exata permite aos produtores investir em estratégias preventivas, selecionar variedades mais resistentes e até planejar novos programas de melhoramento genético.
O CTC reforçou que já estão em andamento pesquisas para desenvolver materiais que aliem maior produtividade à resistência ao patógeno.