EUROPA VAI AO FIM DO MUNDO EM BUSCA DE COMPRADORES PARA O AÇÚCAR
A produção das fazendas de beterraba na Europa está atraindo compradores de lugares distantes como o Haiti, antes um grande produtor de cana do Caribe, e Serra Leoa, na África subsaariana. O açúcar europeu apareceu até mesmo na ilha de Pitcairn, no Pacífico, um dos lugares mais remotos do planeta.
Qualquer demanda é uma boa notícia para produtoras como Suedzucker, a maior do mundo, e para sua principal concorrente europeia, a Nordzucker, porque a oferta excedente derrubou os preços do açúcar branco em 27% neste ano em Londres. O fenômeno surge após a decisão da União Europeia de encerrar as cotas aplicadas à produção e às exportações. “Existe um mercado vibrante lá fora que adora comprar açúcar branco europeu”, disse o CEO da Nordzucker, Hartwig Fuchs. “Temos a oferta mais barata da atualidade.”
A participação da UE nas exportações globais mais do que dobrará para quase 5% nesta safra, segundo a Organização Internacional do Açúcar, grupo que congrega países produtores. A Europa quer manter mercados tradicionais como Israel, Egito, Noruega e Suíça, mas também reservou entregas para Camarões e Mauritânia, no Noroeste da África.
MILHO DOS EUA AMEAÇA DOMÍNIO DA CANA BRASILEIRA NO JAPÃO
Os produtores de milho dos EUA poderão entrar em breve no mercado japonês de biocombustíveis, ameaçando o domínio da cana-de-açúcar brasileira sobre um dos maiores consumidores de gasolina do mundo. O Ministério do Comércio Exterior do Japão planeja permitir que suas refinarias usem o etanol americano, baseado no milho, em um aditivo misturado à gasolina. Atualmente, o Japão usa apenas cana-de-açúcar brasileira como fonte para o aditivo do combustível.
De acordo com Kiyohide Yasuhara, vice-diretor do escritório de planejamento de políticas de combustível da pasta, o ministério espera que o uso de etanol americano baseado no milho ajude a reduzir custos. O produto americano atualmente é 35% mais barato do que o etanol de cana brasileiro.
PRÓXIMA SAFRA DE CANA DEVE SER 4,2% INFERIOR
A próxima safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul do País deve somar 560 milhões de t, volume 4,2% menor que os 585 milhões de t previstas para o ciclo atual, estima o CEO da RPA consultoria, Ricardo Pinto. “Esse volume poderá ser ainda menor que isso”, avalia o consultor. Ainda de acordo com ele, a produção atual deve ser de 580 milhões de t, cinco milhões a menos do que o volume estimado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) para as usinas do Centro-Oeste.
Ele cita entre as razões para a estimativa a queda dos preços do açúcar em 2017. Os valores pagos pelo mercado internacional recuaram de 19,20 centavos de dólar por libra peso em novembro do ano passado para 14,96 centavos de dólar por libra peso, queda de 22% ao longo dos últimos 12 meses. Isso fez com que a safra atual tivesse um mix mais alcooleiro, amparado pela melhora nos preços do etanol desde setembro. “Essa queda estimada para a produção pode ser um estímulo para a valorização dos preços.”
Outro motivo é a perspectiva de uma menor produtividade na próxima temporada. O consultor destaca também que o setor tem se mostrado mais propenso a uma consolidação do que a uma expansão das atividades. Ele cita como exemplos a Biosev e a Raízen, que anunciaram o fechamento de unidades no Centro-Sul para conter custos.
ENDIVIDAMENTO DAS USINAS CRESCEU 138% EM CINCO ANOS
Nos últimos cinco anos o endividamento das usinas sucroenergéticas, especialmente da região Centro-sul do País, cresceu 138%, e o nível de investimento tem ficado 30% abaixo do ideal para saúde financeira das empresas. Com base em levantamento do próprio branco, Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA, dividiu as usinas em quatro grupos distintos. O primeiro é composto por nove empresas, que apresentam ótima performance financeira e capacidade de investimento. O segundo é formado por 28 empresas, que estão com a saúde financeira estável, mas que apresentam alguma dificuldade para realizar grandes movimentos estratégicos de investimento.
O terceiro grupo, por sua vez, é composto por 13 empresas, com saúde financeira razoável, mas que precisam estar atentas à alocação de recursos. E por fim, o grupo mais sensível, de 17 empresas, que estão em situação difícil, como, por exemplo, recuperação judicial. Segundo o executivo, a implantação do RenovaBio será fundamental para reversão deste quadro, para dar fôlego às usinas no tocante à geração de caixa, com vistas à diminuição do endividamento, além de funcionar como um imã para investimentos e negócios, entre os quais um novo ciclo de fusões e aquisições.
RENOVABIO TRAZ PREVISIBILIDADE E DEVE TRAMITAR EM REGIME DE URGÊNCIA
O projeto de lei 9086/2017, que cria o RenovaBio, protocolado na Câmara dos Deputados pelo deputado federal Evandro Gussi (PV-SP), trará, se aprovado, “previsibilidade para a retomada dos investimentos e crescimento da produção do biocombustível, sem depender de subsídios do governo e de renúncia fiscal”, disse a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Segundo comunicado da entidade, a expectativa é de que a proposta tramite no Congresso em caráter de urgência para ser regulamentada ainda em 2018. A Unica atribuiu o desenvolvimento e o encaminhamento da proposta à “liderança do Ministério de Minas e Energia, com o apoio dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente e uma importante contribuição de diversos setores ligados à cadeia produtiva de biocombustíveis”.