Edição 208
Em que ano voltaremos a inaugurar novas usinas no Brasil?
Novas usinas no Brasil? Especialistas dão sua opinião sobre o assunto e traçam uma expectativa de quando voltaremos a inaugurar novas usinas no País
Natália Cherubin
Alisson Henrique
DE TRÊS A CINCO ANOS
“Não consigo apontar um ano específico para a retomada de investimentos em projetos greenfield, mas imagino que pode demorar de três a cinco anos para isso aparecer no radar. Hoje em dia, a verdade é que uma boa parte do setor simplesmente não tem a estrutura e robustez financeira para assumir um projeto novo. E mesmo para as empresas que têm condição para montar um projeto greenfield, acreditamos que existam opções mais atraentes do ponto de vista de risco e retorno. Entre estas opções estão: (i) investir em melhorar a produtividade da operação atual, para reduzir custos, e melhorar a competitividade; e (ii) agregar mais valor às atividades atuais, via, por exemplo, projetos de cogeração ou de biogás. Além disso, ainda existem muitos ativos no setor à venda que podem ser comprados a valores menores do que um greenfield e do mesmo tamanho que custaria para montar um. Assim, mesmo contando com o apoio esperado do programa RenovaBio a partir de 2020, a nossa visão é que a prioridade do setor sucroenergético em geral nos próximos anos será o melhoramento de produtividade e de competitividade. Ninguém no setor quer arriscar repetir a história dos anos 2005 até agora, de uma onda de euforia e investimento seguido por anos de desilusão. Por isso, acreditamos em estagnação ou até encolhimento do volume da moagem nos próximos três a cinco anos. Durante este período, imaginamos que a produção de etanol de milho mostre mais potencial para crescimento, enquanto o setor sucroenergético busca melhorar a eficiência e, ao mesmo tempo, espera para ver o desenvolvimento do programa RenovaBio. Daí, com uma combinação de um setor fortalecido beirando aos limites da capacidade instalada, junto com uma política comprovadamente apoiadora, abriria espaço e incentivo para os greenfields.”
A PARTIR DE 2022
“Acredito que a partir de 2022 já tenhamos a volta das contratações de greenfields de usinas canavieiras. Deverá ser um movimento crescente nos anos seguintes, desta vez com o etanol sendo o protagonista. Isso porque já há diversos especialistas apontando para um forte impacto no consumo per capita mundial das campanhas (e novos impostos) contra o consumo do açúcar. A cogeração continuará sendo um plus, mas o protagonismo da energia solar e eólica nesta esfera deverá prosseguir. Em suma, o Brasil precisará de mais etanol que a atual capacidade instalada das atuais destilarias de 2022 em diante.”
HORIZONTE SEM INVESTIMENTOS
“O cenário de preços nos mercados externos para açúcar e etanol, neste momento, está indefinido para o longo prazo. Existe muita competição global nos dois mercados e isto cria incerteza. Ou seja, em um horizonte previsível não vejo investimentos em aumento de capacidade no setor. Vejo sim investimentos em otimização da capacidade atual, diversificação de produtos nas usinas, sobrevivência dos players mais eficientes e um setor com grupos maiores e em menor número.”
NOVOS PROJETOS A PARTIR DE 2020
“Temos algumas em implantação que podem ser inauguradas brevemente. Outras hibernadas que também podem reiniciar a moagem. Processo de expansão para ocupar a ociosidade também deve ocorrer a partir de 2020. Contratação e início de novos projetos devem ocorrer em 2020. Mas, com início de operação e inauguração, acho difícil antes de 2023.”
DEPENDE DE UMA COMBINAÇÃO DE FATORES
“É difícil enxergar a possibilidade de abertura de novas usinas neste momento, pois, na verdade, o setor está fechando unidades e otimizando as usinas com mais cana e tempo de moagem. Ainda há muita capacidade ociosa no setor, e isso tem ficado claro nos recentes planejamentos dos médios e grandes grupos. Para novas usinas serem inauguradas é necessária uma combinação de fatores que vão desde a recuperação da economia, que impacta em demanda de combustíveis, o sucesso do RenovaBio e a reestruturação do mercado internacional de açúcar. É fundamental que a Índia retire ou, ao menos, reduza os subsídios à produção. Neste momento, começamos a ver os dois primeiros fatores terem mais evidência, mas ainda é preciso tempo de consolidação para o restauro da confiança do setor, e isso ainda vai levar alguns anos.”
AINDA DEVE DEMORAR
“Para a retomada do investimento em novas usinas uma série de condições precedentes precisam ocorrer. Uma delas, sem dúvida, é um cenário mais animador de preços que justifique investimentos à medida que propicie taxas de retorno compatíveis a atividade, levando-se em conta os riscos que envolvem os empreendimentos neste setor. As empresas que sobreviveram e conseguiram passar por todas estas crises recentes tem em comum uma disciplina de capital grande e hoje, só fazem inversões em coisas que propiciem elevadas taxas de retorno e que compensem o risco da atividade. Estes investimentos normalmente envolvem melhorias na parte agrícola ou industrial com payback de prazo curto, o que de forma nenhuma contempla os greenfields atualmente. O olhar dos empresários está muito focado em manter o endividamento num nível compatível a manutenção da segurança financeira da companhia. O setor tem se caracterizado por período de vacas gordas e magras, mas, infelizmente as magras tem sido bem mais frequentes e duradouras. Com certeza o sucesso do Renovabio pode injetar uma razoável dose de otimismo nos agentes. Todavia, isso ainda deve demorar.”
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