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“Mudando para ficar basicamente igual”, afirma analista sobre “nova” política da Petrobras
Para analista do Pecege, tudo não passa de uma estratégia de comunicação do governo para ganhar a opinião pública e o congresso
A Petrobras anunciou ontem,16, uma nova política de preços, que substituiria a atual política de preços de diesel e gasolina comercializados pela estatal, o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação), em que era considerado o valor do petróleo no mercado global e custos logísticos como o fretamento de navios, as taxas portuárias e o uso dos dutos internos para transporte.
Segundo Haroldo Torres, gerente de Projetos do Pecege, pouco muda em termos da precificação dos derivados. Ele enxerga que a companhia vai usar o PPI mais custos, ou seja, o PPI continua sendo utilizado como referência, mas não será o único critério.
“Não nos parece que o governo vá abandoar o PPI. Na prática, ele esta trazendo uma PPI renomeada além de incluir os custos de internalização da produção. O setor tem um receio de uma volta ao passado, quando lembramos que o governo Dilma, até 2014, congelou os preços dos combustíveis como política de contenção da inflação. Quando fazemos uma analogia, neste governo, estamos fazendo uma pressão para redução da taxa de juros que só vai acontecer mediante redução da inflação. Oras, se faço um controle de combustíveis abre-se espaço para uma redução para a taxa de juros, então o maior receio é a volta dos erros do passado que levaram ao fechamento de várias usinas”, explicou.
Ainda de acordo com ele, as reduções anunciadas pela Petrobras não têm relação com a nova política de preços e sim porque a Petrobras encontrava espaço para tais medidas, dado o cenário externo e a taxa de câmbio.
“No dia 16 de maio tivemos duas questões importantes, houve redução de 0,40% na gasolina e no diesel a mudança na politica comercial, que em tese abandonaria o PPI. Primeiro, quando olhamos especificamente para o PPI, ou seja, a combinação do preço do petróleo no mercado internacional com a taxa de câmbio, conforme dados da ABICOM, havia uma defasagem de R$ 0,42 centavos, porém, a Petrobrás anunciou uma redução de R$ 0,40 centavos. Ou seja, no mesmo dia que ela anunciou a mudança da sua politica comercial, ela está replicando a política de PPI. A redução de 0,40 centavos na gasolina refere-se meramente a aplicação da PPI, que a tal politica da Petrobras parece abandonar”, disse Torres.
Ainda de acordo com o economista, é uma estratégia para ganhar a opinião pública e apoio popular, dando fôlego nas discussões com o Congresso. “Me parece, neste momento, que estamos muito mais diante de uma estratégia de comunicação política do que uma mudança efetiva na política comercial da Petrobras no que tange a precificação dos combustíveis. Estamos mudando para ficar basicamente igual. Parece, do lado do Governo faz mais uma aceno a opinião pública e ao congresso com vistas a ganhar apoio aos marcos que são importantes, como é o caso do arcabouço fiscal que está em discussão”, adicionou o economista e gerente de Projetos do Pecege.
Cerca de 1/3 das usinas de cana-de-açúcar são destilarias, ou seja, produzem apenas etanol. Além disso, há um momento de ascensão de crescimento da indústria de etanol de milho, então derrubar o PPI, de acordo com Torres, seria um golpe para o setor sucroenergético.
No entanto, a partir do primeiro de junho, volta a cobrança de parte do ICMS sobre a gasolina, o que significa um aumento da tributação sobre a gasolina e no dia primeiro de julho volta a cobrança integral de Pis/Confins sobre a gasolina, levando a uma maior competitividade ao etanol hidratado. “Portanto, pode parecer uma visão otimista, mas não me parece que vamos repetir os erros do passado. Caso a Petrobras deixe de lado de vez o PPI, corremos o risco de desabastecimento ou de deixar uma conta muito grande sobre a Petrobras, como vimos no passado”, concluiu.
O economista explica que será mais fácil para a Petrobrás reduzir os preços quando as cotações internacionais estiverem em queda e será mais difícil elevar preços quando o cenário externo estiver em alta, para não desagradar o governo e a opinião pública, tampouco tensionar a inflação.
“Acredito que a questão será ajustada com assimetria. Certamente, nos momentos em que tivermos uma redução da taxa de câmbio e redução do petróleo no mercado internacional, isso vai abrir espaço para a Petrobras ajustar queda de preços sobre a gasolina, ao passo em que quando ocorrer o contrário, desvalorização cambial e aumento do petróleo no mercado internacional, vamos ter um delay na defasagem da Petrobras. Certamente é o que veremos”, explicou.
Natália Cherubin para RPAnews
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