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“Estamos negociando a importação do etanol dos Estados Unidos”, diz Roberto Perosa
O Brasil espera encerrar o ano com cerca de 300 novos mercados abertos para os produtos agropecuários nacionais. A nova ambição ocorre após o país ter atingido o recorde de 200 mercados abertos em 60 destinos em 20 meses da atual gestão, com mais cinco anúncios.
“Superamos todas as expectativas e podemos avançar ainda mais nestes últimos três meses, com o Brasil retomando seu protagonismo global”, avalia o ministro substituto e secretário de comércio e relações internacionais do Ministério da Agricultura, Roberto Perosa, em entrevista ao Broadcast Agro.
Atualmente, há aproximadamente 2 mil processos em andamento para novas possibilidades de exportação ou ampliação para os produtos da agropecuária. Entre os pleitos, o Brasil negocia abertura do mercado japonês e sul-coreano para carnes brasileiras, do mercado norte-americano para entrada de maior volume de açúcar e carne bovina do Brasil.
Com a China, principal destino dos produtos do agro brasileiro com um terço dos embarques do país, há mais de 18 itens na pauta.
Um mercado que o Brasil negocia a ampliação de mercado são os Estados Unidos, com uma missão recente do senhor ao país. Há disposição do governo norte-americano nessa ampliação?
Já temos uma ótima relação comercial com os Estados Unidos. Ambos somos grandes produtores agrícolas, sabemos as dores dos produtores e, também, as oportunidades comerciais. Há muitos temas em discussão bilateral. Estamos negociando a questão da importação do etanol dos Estados Unidos, a ampliação da cota de carne bovina (hoje de 65 mil toneladas ao ano) e de açúcar do Brasil (volumes estipulados por ano) que podem ser exportados, além de aberturas para frutas brasileiras (como limão taiti). Buscamos um equilíbrio nas posições de mercado, tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil, para que não haja prejuízo à classe produtiva.
Há um desejo antigo dos Estados Unidos pela redução da tarifa de importação aplicada no Brasil sobre o etanol norte-americano, hoje de 18%. Esse pedido desagrada ao setor sucroenergético nacional. Isso está sendo discutido?
Há uma avaliação no momento para que o Brasil possa permitir um acesso mais adequado do etanol americano ao país. Estamos avaliando isso porque há um grande impacto na produção brasileira. Então, precisamos analisar os impactos e fazermos uma grande negociação em bloco, atraindo os interesses do Brasil e dos Estados Unidos para termos uma decisão equilibrada sobre o assunto. Somos grandes produtores de etanol de cana-de-açúcar e os Estados Unidos de etanol de milho. Hoje, não temos acesso pleno do açúcar brasileiro ao mercado americano. Precisamos desse acesso para estudarmos, de fato, a viabilização do acesso do etanol americano ao Brasil. Acho que é uma questão de correspondência entre mercados. Acredito que trabalharmos uma cota maior para o etanol americano com uma cota maior para o açúcar do Brasil pode ser compreendida pelos produtores em uma tratativa comercial.
Essa negociação do etanol passa pela possibilidade de os EUA adotarem um mandato obrigatório de mistura de etanol na gasolina, como ocorre no Brasil?
Além de estimular a aliança global sobre biocombustíveis, temos uma forte atuação para que os Estados Unidos adotem de forma mandatória o incremento do etanol na matriz de combustíveis líquidos, o que hoje não é obrigatório. Se os EUA tornassem obrigatório em 15%, por exemplo, sendo no Brasil já é de 27,5% e poderá chegar a 35%, teríamos um grande incremento de consumo de etanol. Todas as cartas estão na mesa. Não há nenhuma definição ainda, seguimos em negociação.
O Brasil alcançou o recorde de 200 aberturas de mercado para produtos agropecuários em 20 meses da atual gestão. Como essa ampliação de mercados integra a estratégia exportadora do país?
O presidente Lula nos deu uma diretriz clara de retomada do bom diálogo internacional, o que leva à retomada das boas relações comerciais. No ano de 2023, batemos o recorde com 78 novos mercados. Neste ano, já chegamos em 127, com 205 mercados abertos acumulados desde o início do governo. Há grande perspectiva de aumento desse número até o fim do ano e de continuidade nos anos seguintes. Algumas cadeias agropecuárias enfrentam desafios internos. Como governo, procuramos oportunidades de mercados, sendo uma garantia de segurança alimentar ao mundo e gerando divisas e renda no interior do país.
O presidente Lula afirmou em julho que esperava 200 mercados abertos até o fim deste ano. Com a meta batida três meses antes, qual é a nova expectativa para anúncios ainda em 2024?
As aberturas dependem de negociações e do aceite das outras partes, mas acho que, tendo alcançado esse número extraordinário, devemos avançar muito até o fim do ano batendo todos os recordes existentes no agronegócio brasileiro. Acredito que poderá ser algo muito próximo de 300. Estamos confiantes de que podemos avançar ainda mais nesses últimos três meses.
Há uma expectativa, sinalizada pelo ministro Carlos Fávaro, de potenciais novas aberturas para produtos do agro brasileiro em decorrência do encontro dos líderes do G20 no Brasil em novembro. Que mercados hoje estão na prioridade nas negociações conduzidas pelo Ministério?
O protagonismo retomado pelo Brasil com a presidência do G20 neste ano, recebendo o Brics e a COP30 no ano que vem, gera oportunidades de contato com as lideranças mundiais aqui no nosso país. E, com isso, as negociações bilaterais avançam muito, porque os ministros de outros países vêm ao Brasil com os pedidos para as suas pastas e com aval sobre eventuais acordos. Por isso também as perspectivas de abertura de mercados só tendem a crescer. Em novembro, teremos a visita importante do presidente chinês, Xi Jinping. O Brasil negocia com a China a abertura para alguns produtos, como uvas frescas, gergelim, sorgo, DDGs (grãos secos de destilaria, subproduto do etanol de milho), que estão muito avançados, além de subprodutos de carne bovina, de carne suína e de aves. São alguns dos produtos que estão na mesa de negociação e que representam novas oportunidades ao agronegócio brasileiro.
Em relação à China, o senhor esteve reunido nesta semana com o vice-ministro da administração geral de alfândega (GACC, autoridade sanitária do país), Zhao Zenglian. Em que fase estão as discussões técnicas para novos produtos e em relação à revisão dos protocolos de exportações de carnes?
Temos 18 itens na pauta com a China, alguns em estágio final, outros em fase intermediária e outros ainda no início. Há outros assuntos que estão sendo trabalhados, como a revisão de protocolos de exportação de proteína animal e o reconhecimento do status sanitário brasileiro para febre aftosa. Combinamos com o ministro da GACC que faremos um esforço adicional para termos mais entregas no encontro bilateral entre o presidente Lula e o presidente Xi em novembro para fortalecermos as relações entre os dois países. Há expectativa de grandes anúncios em novembro, quando haverá o encontro na cúpula do G20.
Havia uma expectativa da conclusão da abertura de mercado da Coreia do Sul e do Japão para carne bovina do Brasil ainda neste ano, demandados há anos pela indústria brasileira. Como estão essas negociações, secretário? Essa expectativa está mantida?
A negociação bilateral sempre demanda muita assertividade. Estivemos recentemente na Coreia do Sul e estou programado para ir ao Japão novamente ainda neste ano. Com o Japão, as tratativas estão bem avançadas. Com a Coreia do Sul, a abertura (para carnes bovina e suína) ainda depende de alguns entendimentos técnicos. Mas temos confiança de que o Brasil ainda vai alcançar a abertura de mercado para carne bovina para quatro importantes países durante a nossa gestão: Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Turquia. Hoje, os processos mais próximos de conclusão são com Japão, Coreia do Sul e Turquia, para o qual há uma simples questão técnica que está sendo discutida no momento.
Agência Estado/Isadora Duarte
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