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Etanol: impactos da venda direta são mais negativos do que positivos

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A venda direta do etanol, aprovada via MP dos combustíveis – assinada no dia 11 de agosto pelo presidente Jair Bolsonaro – que prevê a venda direta de etanol e a liberação das bombas brancas nos postos de combustíveis, tem como principal objetivo de aumentar a concorrência beneficiando os consumidores.

A questão é que apesar de alguns benefícios para os consumidores e do ponto de vista de defesa de um mercado livre e regulado, a MP poderá trazer alguns pontos negativos, de acordo com Haroldo Torres, economista e gerente e projetos do Pecege.

Para ele o impacto positivo da MP reside na possibilidade do produtor/usina, quando estiver instalada próxima aos pontos de revenda, possa comercializar o etanol hidratado sem a necessidade desse etanol ser deslocado para uma base distribuidora.

Haroldo Torres vê perda de eficiência no longo prazo e de ganhos de escala, uma vez que grandes volumes vão deixar de ser transportados por empresas especializadas

“Com isso, evitamos um longo deslocamento do combustível, o que pode se traduzir em redução de custos e consequentemente nos preços para o consumidor”, afirma Torres.

Esse cenário, de comércio sem intermediário, sem distribuidor, reduz ineficiência econômica. Assim, de acordo com o economista, isso proporciona um incremento na concorrência de mercado e consequentemente reduz o preço do etanol para o consumidor final.

Porém, para que haja redução de preços para o consumidor, deve haver uma redução do custo de transação.

“Ou seja, quando retiro a intermediação da distribuidora eu tenho que implicar numa redução do custo de transação. O segundo ponto, tenho que ter um aumento do número de agentes ofertando produtos aos postos de revenda de combustíveis. Isso gera competitividade”, destaca Torres.

Porém, nem tudo são flores. E é aqui que o economista enxerga um cenário mais negativo do que positivo. “Vejo uma perda de eficiência no longo prazo e de ganhos de escala. Uma vez que grandes volumes vão deixar de ser transportados por empresas especializadas e dedicadas a essa atividade”, alerta.

Hoje as distribuidoras transportam grandes volumes, o que gera economia de escala. A partir de agora, usinas que possam querer fazer a venda direta, farão com que o fluxo de entrega seja mais fracionado, o que gera uma deseconomia de escala.

“As usinas não têm uma estrutura adequada de carregamento, o que pode gerar fila na operação e, além disso, isso pode ocasionar no aumento do uso do modal rodoviário, já que vou perder os modais de alto volume incluindo cabotagem, dutos, ferrovias e bitrens quando fizer venda direta”, complementa.

Sendo assim, a hipótese de um cenário positivo pode ser irreal, ou seja, os custos de transação com as usinas fazendo a vende direta podem acabar se tornando maiores por conta de uma entrega mais fracionada, do uso de veículos de menor capacidade e do aumento dos pontos de entrega. Além disso, as usinas é que vão ter que dar e fornecer créditos aos postos de combustíveis.

“Em termos de custo, o custo que a distribuidora tem hoje de logística e distribuição deve ir para a usina. Sabemos que muitas usinas não tem estrutura de logística, de carregamento de caminhões menores e estrutura de venda de postos”, afirma o economista do Pecege.

Sendo assim, ele acredita que a maioria das usinas sucroenergéticas da região Centro-Sul do Brasil não deve adotar a estratégia de comercialização através da venda direta.

Isso porque a venda direta de etanol implica em aquisição de caminhões, estruturação de um novo business, investimento em frota, contratação de pessoas, concessão de crédito aos postos de combustíveis, conhecimento do mercado e o desafio logístico para fragmentar as vendas.

“Vejo que infelizmente as usinas não devem adotar essa possibilidade. Fora que há riscos de fraudes, sonegação e fragilização do processo de controle. No entanto é muito importante destacar que nada vai mudar no fator de geração de Cbios. Mesmo que a usina venda diretamente o etanol, a emissão da nota para o posto vai ter validade na plataforma, não mudando em nada a emissão de Cbios”, destaca.

Por Natália Cherubin

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