Home Artigo Etanol: uma janela que se abre
ArtigoEtanolÚltimas Notícias

Etanol: uma janela que se abre

Compartilhar

por Eduardo Leão e Júlia Tauszig*

Mais uma vez, o etanol passa a ser percebido como uma grande alternativa de descarbonização para o mundo. A primeira onda ocorreu na primeira década deste século, entre 2005 e 2010, quando, além do Brasil, as duas maiores potências globais de então, os Estados Unidos e a Europa, lançaram ambiciosos programas de etanol com implementação prevista para os anos seguintes.

Na época, o biocombustível produzido a partir de diversas matérias-primas, como a cana-de-açúcar no Brasil, o milho nos EUA e a beterraba na Europa, era visto como uma importante alternativa de descarbonização e redução da dependência do petróleo, fonte cara e poluente. A partir de então, os EUA foram gradativamente ampliando o nível de mistura do etanol à gasolina, até atingir 10% em todo o país, o que corresponde a quase o dobro do consumo atual brasileiro. A Europa, por sua vez, também adotou uma mistura crescente e em distintos níveis dependendo da estratégia de cada país.

Porém, o que se observou é que, em ambos os casos, os volumes ficaram aquém daqueles previstos originalmente. Nos EUA, poderosos lobbies associados principalmente à indústria do petróleo dificultaram o atingimento da mistura de até 15%, nível almejado pelo programa de biocombustíveis norte-americano na sua concepção. Já no caso europeu, houve, também, uma grande pressão por parte de grupos contrários ao programa, trazendo uma discussão, muitas vezes pouco fundamentada e turbinada por interesses protecionistas, que superestimou a competição dos biocombustíveis com alimentos e o impacto da sua produção para o desmatamento.

Some-se a esses lobbies a queda das cotações internacionais do petróleo entre 2015 e 2020, o que ajudou a desestimular o consumo do seu substituto renovável, além das promessas da meteórica substituição dos motores a combustão por veículos elétricos a bateria. Como resultado, o consumo de etanol permaneceu relativamente estável ao longo de toda a década passada, em volumes próximos a 100 bilhões de litros anuais.

No entanto, as peças do xadrez voltaram, recentemente, a se mexer e o cenário do jogo começou a mudar. De um lado, voltamos a conviver, nos anos recentes, com níveis de petróleo mais elevados, situação intensificada por uma guerra que nos evidencia a necessidade da diversificação de fontes e origens da energia consumida. De outro lado, a urgência climática também sinaliza que não há mais como adiar as medidas de mitigação, sob o risco de problemas irreversíveis para o Planeta. Fica, também, cada vez mais evidente que as soluções tecnológicas para a descarbonização dos transportes serão múltiplas e que temos o etanol como uma alternativa importante nesse conjunto de soluções.

A solução do carro elétrico a bateria já deixa de ser vista como a grande e única alternativa, dados os custos econômicos associados às mudanças de infraestrutura e de distribuição da energia, bem como os custos ambientais de produção e descarte das baterias. Híbridos flex e hidrogênio, extraído do próprio etanol a partir da tecnologia de célula a combustível, passam a ser soluções que envolvem o biocombustível e atendem o objetivo maior da descarbonização.

A grande diferença é que os grandes movimentos passam a ocorrer não mais no Ocidente, mas na região da Ásia, hoje seguramente a mais dinâmica do Planeta. De fato, como resultado de uma produtiva parceria entre os governos e os setores privados do Brasil e da Índia, o país asiático decidiu aprovar a mistura de 20% de etanol à gasolina até 2025, além da adoção de veículos flex, que, assim como no Brasil, podem rodar indistintamente com gasolina ou etanol. Outros países asiáticos, como a Tailândia, a Indonésia e Filipinas, também enxergam um forte potencial no biocombustível, e o tema já tem sido objeto de discussões e cooperação com o Brasil.

Nesse sentido, a UNICA, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), tem investido fortemente na promoção de etanol mundo afora, buscando exatamente aproveitar essa nova janela de oportunidade e garantir que o etanol seja efetivamente reconhecido pela sua qualidade e pelos benefícios ambientais e econômicos que gera, fundamentados em argumentos técnico-científicos. A janela abre-se novamente, e esta é a hora de agir… antes que ela volte a se fechar!

*Eduardo Leão é diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e Júlia Tauszig é coordenadora de Relações Institucionais da UNICA. Esse artigo foi publicado originalmente na Revista Agroanalysis, da FGV.

Compartilhar
Artigo Relacionado
Últimas Notícias

Etanol hidratado e anidro registram altas mais expressivas no mercado paulista

Os preços dos etanóis hidratado e anidro subiram com mais intensidade na...

AçúcarÚltimas Notícias

Açúcar cristal encerra julho com preços estáveis, mas média mensal recua 6,29

Os preços do açúcar cristal no mercado spot paulista encerraram julho praticamente...

Últimas Notícias

Embrapa estuda como aproveitar agave para produzir etanol

Planta é usada para fabricação de tequila e sisal, e só 4%...

Últimas Notícias

Tereos promove primeiro hackathon para acelerar a descarbonização de suas operações

A Tereos, um dos maiores grupos de produção de açúcar, etanol e...