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Conjuntura

Índia cresce em oferta de açúcar, mas tem plano ambicioso para o etanol

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A Índia crescerá sua produção de cana-de-açúcar para a próxima temporada, mas com mira no etanol. O país tem um plano ambicioso para a redução das emissões de Co2, aumentando a atual mistura de 10% de etanol na gasolina para 20% até 2025. E para isso tem buscado tecnologias no Brasil.

De acordo com Suresh Reddy, embaixador da Índia no Brasil, o modelo brasileiro é um sucesso e que deve ser seguido por grandes cidades pelo mundo. “A Índia tem apenas 48% de recursos renováveis fazendo parte da sua matriz energética hoje. Estimamos que as cinco das 20 maiores cidades do mundo serão na Índia, por isso o foco no etanol será importante. Já temos um grupo de trabalhado e estamos em cooperação com as institutos de pesquisas brasileiros”, disse durante evento da Datagro, realizado ontem, 09.

De acordo com Marlon Arraes Jardim Leal, coordenador geral de Etanol do Departamento de Biocombustíveis do MME (Ministério de Minas e Energia), a guerra entre a Ucrânia e Rússia traz a questão para os países sobre a segurança energética à tona.

“A Índia agora com sua decisão de trazer etanol em maior volume para sua matriz energética se beneficia dessa situação ao garantir a segurança energética com um produto local. O país é um parceiro estratégico e de extrema importância. Saudamos todo os esforços políticos e temos condições de fazer avanços importantes com os indianos. Alguns  deles dizem respeito a especificação de combustíveis e estão perfeitamente casados com o que estamos fazendo no Brasil”, afirmou Leal em evento.

Ele revelou que uma iniciativa do MME, além do Renovabio, é o Combustível do Futuro, que traz a atualização das especificações de combustível. “Temos muito o que aprender com os indianos, que estão trabalhando no horizonte de uma gasolina com octanagem superior para fazer melhor uso, com eficiência energética, dos motores de combustão interna, com menos emissões e a um custo menor. Temos condição de fazer a Descarbonização com biocombustíveis de mais alta octanagem e a Índia pode nos ajudar com o desenvolvimento de soluções”, afirmou.

Produção de cana na Índia deve crescer

De acordo com o diretor Geral da ISMA (Indian Sugar Mills Association), Abinash Verma,  a expectativa é que o país produza cerca de 27 milhões de toneladas. No final de setembro de 2022 a perspectiva é que  a Índia tenha exportado cerca de 7,5 milhões de t de cana. “Nos últimos três anos, diminuímos nossos estoques de açúcar em 7,5 milhões de t e grande parte vem do fato de que conseguimos diversificar parte da produção para etanol”, disse.

Para a safra que virá, Verma diz não esperar grande redução porque grande parte da cana-de-açúcar já foi plantada. De acordo com ele será importante observar o comportamento das monções nos primeiros meses da safra. “Não sabemos se será normal. Não sabemos se irá afetar a produção. É uma área que temos de estar atentos. Fora isso, os canaviais estão muito bons e teremos uma boa produção na próxima temporada.”

Em dois anos a Índia passou de 800 mil t de açúcar direcionado para o etanol para 2,1 milhões na última temporada. Em 2022, de acordo om o diretor da ISMA, o país deve passar a destinar 2,4 milhões de t só para o etanol. “Então continuamos a investir na capacidade de produção de etanol e vamos usar o excedente para o etanol e não mais para o açúcar.”

A Índia deve aumentar a capacidade de produção de cana também. Na próxima temporada, a expectativa é de que  5,6 milhões de t de cana-de-açúcar sejam destinadas para o etanol.

A meta é atingir neste ano 10% de etanol e produzir cerca de 4,5 bilhões de litros. “Já fornecemos 1 bilhão de litros e estamos no caminho de atingir os 10%. Alguns estados já chegaram a 9%. Mas em média em toda a Índia, até o final de fevereiro de 2022, atingimos uma mistura de 9,34% e alguns estados 11%”, revelou o diretor geral da ISMA.

O objetivo de 20% de mistura de etanol na gasolina foi adiantado para 2025  e, de acordo com ele, a meta será cumprida com os investimentos que já vem sendo realizados. “É uma das progressões mais rápidas que teremos. Em três anos e meio, vamos dobrar o uso de etanol. Para isso precisaremos estar produzindo cerca de 10,2 bilhões de l de etanol.

Como a Índia pretende saltar de 10 a 20% em dois anos?

Para dobrar a mistura e chegar a produção de 10,2 bilhões de l de etanol, as capacidades de produção precisam dobrar e para isso a Índia tem feito muitos investimentos nas suas indústrias sucroenergéticas. “Na associação das usinas da Índia estamos no caminho certo e teremos capacidade para converter essa cana em etanol e também tudo que é desperdiçado vai se transformar em etanol em 2025”, disse Verma.

As empresas de petróleo, hoje responsáveis por cerca de  90% da gasolina vendida no país, também vão precisar aumentar suas capacidades de armazenamento, pois o etanol é misturado a gasolina na própria refinaria de petróleo. “Eles estão construindo mais de 100 tanques para armazenar o etanol”, revelou o diretor da ISMA.

Cerca de 80%  da área plantada de cana na Índia está concentrada em três estados e cerca de 70% do etanol vai ser produzido nestes três estados. Por isso, o país também está desenvolvendo soluções na área dos transportes. “Teremos que transportar o etanol por trens, ferrovias e fazer etanoldutos. Isso já começou. Já temos rede ferroviária e estamos analisando a questão do transporte.”

A terceira questão é a entrega nos postos. A partir de abril de 2022, a Índia vai produzir mais veículos com motores para E20.” Vamos ter mais veículos adaptados para a nova lei. Todas as bombas vão ter que começar a usar E10, E20 e etanol puro também.”

De acordo com ele o grande desafio é saber o que serão feitos com os veículos que não tem motores adaptados. “Isso vamos aprender com o Brasil. Temos veículos que se usarmos mais etanol que a gasolina, pode ser que atrapalhem os motores. Precisamos de evidências de como o Brasil fez a transição de 10% para 20% e para onde está hoje. É importante que lancemos veículos flex na Índia. A única diferença são os padrões de emissão do Brasil, que são de PS 4, enquanto aqui vamos seguir os padrões PS6. Isso vai custar mais. É um desafio, mas queremos a ajuda do Brasil com isso”, disse Verma.

Oportunidade para indústria

Flavio Castellari, diretor executivo da Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool), afirmou que comitivas tem visitado o país desde 2019 e que a política pública bem aplicada da Índia traz benefícios ao Brasil para acordos de colaboração.

“Começamos a receber visitas de várias empresas indianas buscando conversar com a nossa indústria e a procura de cooperação para atingirem a meta dos 20%. Há demanda de 600 novas destilarias. Um mercado gigante que se abriu não só para indústrias indianas, mas para outros países colaborarem. Temos alguns contratos e acordos de colaboração para serem assinados nos próximos meses”, disse durante conferência.

Todo know how do Brasil ao longo dos últimos 40 anos está servindo também para a Índia. Segundo Castellari, com o movimento dos países que querem entrar na economia verde, não só na América Latina, mas Ásia e África, a Índia traz uma segurança e mostra que a tecnologia brasileira está pronta.

“Nossos carros estão adaptados para a mistura de 20%. A rapidez com que a Índia entrou, mostra para os países como é vantajoso. A segurança energética vira pauta e coloca o etanol em destaque mundial. Nossa indústria de base esta pronta para colaborar com outros, principalmente com a Índia”, disse o diretor executivo da Apla.

Por Natália Cherubin

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