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Opinião

Mercado de açúcar busca motivos para subir

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A volatilidade do mercado de açúcar tem experimentado níveis elevados desde a mudança dos fundamentos para um cenário mais equilibrado. Conforme discutido anteriormente, um pequeno superávit ou déficit pode ser comparado a andar em uma corda bamba, com os preços suscetíveis a movimentos baseados nas forças predominantes. Na semana passada, o sentimento de alta tomou a dianteira.

Embora não tenham sido impulsionados por fatores fundamentais, os preços testaram o nível de 24,6 centavos de dólar por libra-peso após o anúncio do governo indiano de que está contemplando um aumento de 8% no preço mínimo da cana pago pelas usinas em 2024/25, conhecido como Preço Justo e Remuneratório (FRP).

Normalmente, o governo estabelece o FRP alguns meses antes do início da nova safra, mas, neste ano, isso pode ser antecipado em uma tentativa de aumentar a disponibilidade de açúcar no país. Esse anúncio, combinado com as previsões de condições mais secas do que a média no verão do Centro-Sul, serviu como um fator de alta.

É importante observar que ainda não se chegou a uma decisão final em termos do FRP. Mas nossas estimativas para o Brasil – de 620 milhões de toneladas de cana em 2024/25 –, já levam em conta o clima menos favorável, que induz a uma redução de 6% no rendimento dos canaviais.

Na quinta-feira, foi a vez dos baixistas. O relatório da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica) lembrou ao mercado que o Brasil é uma força da natureza.

Com uma moagem robusta de 1,1 milhões de toneladas de cana durante a primeira quinzena de janeiro e um mix de açúcar de 34,2%, a região está mais perto de atingir 651 milhões de toneladas, especialmente com algumas usinas anunciando um início antecipado para 2024/25. Com isso, os preços voltaram a ficar abaixo de 24 centavos de dólar por libra-peso.

Além disso, na semana passada, embora percebidos por alguns como altistas, os números de moagem da Índia divulgados pela Associação Indiana de Usinas de Açúcar (Isma) não só estavam dentro das expectativas, como também reduziram a diferença observada até dezembro. No final do mês passado, a discrepância entre a safra 2023/24 e a 2022/23 era de 7%. Somando a primeira quinzena de janeiro, essa diferença caiu para 5,3%.

A associação acrescentou que as condições climáticas recentes foram positivas para a safra atual, levando os comissários de cana em estados importantes como Uttar Pradesh, Maharashtra e Karnataka a revisar para cima suas estimativas de produção de açúcar para a temporada 2023/24 em 5% a 10% cada. Isso nos deixa ainda mais confortáveis em manter nossas estimativas de produção de açúcar inalteradas em quase 32 milhões de toneladas.

Entretanto, esse aumento esperado na disponibilidade levou a Isma a solicitar ao governo indiano um desvio adicional de 1 a 1,2 milhões de toneladas de açúcar para o etanol. Se permitido, isso poderia afetar negativamente nossas estimativas, mas observe que isso não mudaria o cenário de ausência de exportações.

Portanto, pouco mudou em termos de fundamentos. Parece que o mercado está procurando um motivo para subir, contando com o apoio sazonal da demanda, evidenciado pelo aumento dos prêmios do físico em Santos, e dos anúncios ainda incertos. Enquanto isso, o Brasil continua sendo um forte fornecedor, com nomeações robustas de quase 3 milhões de toneladas até 24 de janeiro, aumentando o tempo de espera nos portos.

Em resumo, a semana passada foi marcada por uma força de alta que atingiu seu pico na quarta-feira, quando o governo indiano anunciou que estava considerando aumentar o FRP. No entanto, pouco mudou em termos de fundamentos.

De fato, o mercado permanece em um equilíbrio apertado. Enquanto consideramos um pequeno superávit, outras casas contam com um pequeno déficit, mas o resultado final é o mesmo: o aperto induz à volatilidade. Qualquer notícia ou rumor pode desencadear movimentos de preços de curta duração.

Compreender a realidade por trás dos fundamentos é essencial para entender quando esses movimentos durarão. No momento, o Brasil está fazendo o que esperávamos: exportando o mais rápido e o máximo que pode para suprir a ausência do Hemisfério Norte. Ninguém disse que seria fácil, o prêmio do físico mostra isso, mas é viável e está acontecendo.

 

* Lívea Coda é analista de açúcar e etanol da hEDGEpoint Global Markets

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