Com perdas de até 30% na produtividade por ataques de nematoides na cana, o avanço das novas tecnologias amplia as estratégias de manejo integrado
Os nematoides figuram entre as pragas mais destrutivas e silenciosas da da cultura da cana-de-açúcar. Invisíveis a olho nu, esses microrganismos do solo atacam as raízes e causam redução do crescimento, menor perfilhamento, nanismo, tombamento e perdas que podem superar 30% da produtividade agrícola. O dano radicular compromete a absorção de água e nutrientes, favorecendo o aparecimento de fungos e bactérias e intensificando estresses hídricos e nutricionais. O resultado é um canavial de menor longevidade e desempenho agronômico inferior, exigindo renovações mais precoces e onerosas.
De acordo com Daniel Medeiros, responsável pelo Desenvolvimento de Tecnologias Agrícolas da BASF, durante episódio do DaCanaCast, o controle de nematoides começa pelo reconhecimento da sua importância.
“Eles são um dos inimigos mais cruéis do canavial porque o produtor não os enxerga. E por isso, muitas vezes, negligência sua ocorrência. Mas os impactos são significativos — entre 10% e 30% de redução na produtividade, lesões radiculares que abrem portas para patógenos e um sistema radicular depauperado, incapaz de absorver adequadamente água e nutrientes”, explica.
O especialista reforça que o diagnóstico correto é essencial. “Seja o fornecedor ou a usina, identificar esse problema começa a partir de análise de solo específica para nematoides. É um exame simples, de baixo custo, disponível em diversos laboratórios. O importante é criar histórico por talhão e repetir o monitoramento com frequência. Essa base de dados orienta todas as decisões de manejo”, afirma.
Além disso, o histórico ajuda a identificar variedades mais suscetíveis e a planejar estratégias preventivas. “O manejo pode incluir rotação de culturas — soja, amendoim ou crotalária —, mas o importante é saber qual espécie de nematoide está presente. Cada cultura pode favorecer ou reduzir determinadas populações. Esse conhecimento evita que o controle se torne ineficiente”, acrescenta.
Medeiros observa que o setor vem passando por um movimento de retomada da atenção ao problema. “Houve um tempo em que o tema perdeu espaço nas discussões, mas isso vem mudando. A demanda por experimentos, levantamentos e debates técnicos sobre nematoides tem crescido, o que mostra que a conscientização está voltando”, avalia.
Biotecnologia aplicada ao controle de nematoides
Com o aumento da conscientização e a busca por ferramentas sustentáveis, as soluções biológicas vêm ganhando destaque. Nesse contexto, a BASF desenvolveu o Votivo® Prime, um nematicida microbiológico de contato Indicado para uso no sulco de plantio e também na soqueira. O produto possui uma cepa exclusiva (I-1582), formulada a partir da bactéria Bacillus firmus, selecionada em um ambiente desértico, de grande amplitude térmica, o que garante alta resistência e flexibilidade de uso.
“Essa origem confere à cepa uma plasticidade interessante. O Votivo® Prime tem formulação líquida, com estruturas de resistência do microrganismo que proporcionam tempo de prateleira de até dois anos. Pode ser armazenado no barracão de defensivos junto aos demais produtos”, detalha Medeiros.
O produto se destaca pelo amplo espectro de controle, atuando sobre nematoides de galhas (Meloidogyne spp.), de cistos (Heterodera glycines/Globodera spp.) e das lesões (Pratylenchus spp.).
“É uma ferramenta que responde bem a diferentes condições e espécies. A aplicação é simples: feita no momento do plantio, durante a cobrição, tanto no sistema mecanizado quanto no convencional, e sem restrição de época”, explica.
Segundo Medeiros, o desenvolvimento do produto seguiu um princípio básico: oferecer eficiência técnica com praticidade operacional. “Um produto não pode alterar a rotina da usina ou do produtor. O Votivo® Prime tem baixa dosagem por hectare, boa miscibilidade e compatibilidade de calda. É fácil de trabalhar e se integra bem ao manejo”, observa.
Efeitos fisiológicos e ganhos de produtividade
Os resultados em campo indicam que o Votivo® Prime vai além do controle direto da praga. “A Cepa I-1582 de Bacillus firmus atua também na fisiologia da planta. Ela estimula a produção de citocininas e outros hormônios que promovem o desenvolvimento radicular. Um sistema de raízes mais vigoroso resulta em melhor absorção de água e nutrientes e maior tolerância à seca e a outros estresses”, afirma o especialista.
Esse efeito fisiológico se traduz em ganhos consistentes de produtividade. “Temos áreas experimentais com segundo e terceiro cortes mostrando incrementos médios de 10% a 12% em relação à testemunha e a outros produtos de mercado. Os resultados são consistentes em diferentes condições, tanto no Centro-Sul quanto no Nordeste”, relata Medeiros.
Mesmo em áreas com baixa pressão de nematoides, o produto tem mostrado benefícios em vigor e longevidade do canavial. “O manejo correto aumenta a eficiência fisiológica da planta, e isso se reflete na longevidade da lavoura. A produtividade cresce mesmo quando a infestação é pequena”, reforça.
Integração tecnológica e visão de futuro
Para Medeiros, o avanço dos biológicos não exclui o uso de produtos químicos — pelo contrário, ambas as tecnologias são complementares. “As soluções não se anulam. Existem momentos em que se usa mais o químico e outros em que o biológico é mais indicado. O importante é compreender que eles trabalham em sinergia. O químico entrega rapidez de ação; o biológico, persistência e estímulo fisiológico. Juntos, maximizam o resultado”, pontua.
Essa integração está no centro da estratégia da BASF, que aposta na pesquisa contínua e na inovação em manejo integrado. “A cana está no DNA da BASF. Eu entrei há 23 anos na empresa para trabalhar no projeto Cana, e desde então o foco sempre foi desenvolver soluções que realmente façam diferença no campo”, recorda.
Atualmente, a companhia investe cerca de 900 milhões de euros por ano em pesquisa e desenvolvimento global, parte direcionada a projetos voltados à cultura da cana no Brasil. “Temos um pipeline robusto, com avaliação constante de novas moléculas e microrganismos. Nem tudo chega ao mercado, mas o processo é permanente. Estamos testando e estudando novas combinações químico-biológicas que podem ampliar ainda mais o potencial de manejo”, destaca.
Medeiros encerra reforçando o papel estratégico da inovação. “O desafio é grande, mas acreditamos na agricultura canavieira e seguimos junto com os produtores em busca de ferramentas que unam eficiência, sustentabilidade e praticidade de uso. A base é ciência aplicada, feita e pensada para quem produz, é o centro do que desenvolvemos”, conclui.
Assista o episódio completo:

