Destaque
Investimentos em novas tecnologias tem auxiliado usinas na prevenção e combate aos incêndios
Grandes grupos do setor sucroenergético avançam no uso de novas tecnologias, treinamento de equipes e programas de conscientização para prevenir incêndios e os resultados têm sido positivos
Os incêndios em áreas vegetais alcançaram níveis alarmantes em 2023. Só no Estado de São Paulo 158 focos de incêndios atingiram áreas protegidas. Mais de 90% dos casos foram causados por ação humana. Em Minas Gerais, foram mais de 17 mil ocorrências de incêndios em vegetação. Em Goiás, mais de 3 mil focos ativos de incêndios foram registrados, de acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Em 2024 não tem sido diferente, o tempo mais seco nesta época de meio de ano aumenta a possibilidade de incidência de incêndios em áreas de canaviais e vegetação nativa. Além de causar prejuízo para as usinas de cana-de-açúcar, também prejudica o meio ambiente e até mesmo impacta a saúde das pessoas.
De acordo com dados científicos de monitoramento que a Raízen utiliza, o período de estiagem em 2024 começou mais cedo, em comparação aos anos anteriores. “Com um cenário climático adverso e as altas temperaturas aliadas à falta de chuvas, dentre outros fatores, os incêndios são mais intensos nesta época do ano. No entanto, caso aconteçam, estamos preparados para uma resposta rápida”, afirmou Ricardo Lopes, diretor executivo Agrícola da Raízen à RPAnews.
Assim como a Raízen, outras usinas e produtores de cana vêm, há muitos anos, investindo em novas tecnologias e atuando preventivamente e proativamente buscando evitar o início de incêndios, fazendo um rápido combate ao fogo quando ele ocorre. A fim de minimizar os impactos em áreas atingidas por incêndios, companhias como a São Martinho, por exemplo, tem desenvolvido protocolos de manejo agronômico visando a recuperação dos canaviais afetados.
Segundo Luís Gustavo Teixeira, diretor Agrícola e de Tecnologia da São Martinho, os incêndios geram diversos impactos, tanto ambientais quanto para o canavial, afetando a produtividade inclusive nas safras seguintes, reduzindo a longevidade. “A estação do inverno acaba sendo caracteristicamente mais seca, logo é quando se tem maiores riscos de incêndio. No entanto, independentemente da época do ano, o time de monitoramento e combate a incêndios da São Martinho está sempre mobilizado, 24h/dia, 7dias/semana, incluindo feriados como os de Natal e Ano novo”, afirma.
Nos últimos cinco anos, a Raízen tem adotado a instituição de campanhas anuais de combate a incêndios em canaviais. Adicionalmente, investimentos de grande representatividade são feitos em formação de brigadas, equipamentos, geotecnologia, capacitação e conscientização da sociedade para os malefícios da prática de queimadas e importância de se evitar situações potenciais para início de propagação de incêndios.
A Tereos também tem realizado, anualmente, campanhas de conscientização para reduzir ocorrências. Além disso, conta com iniciativas e tecnologias que oferecem mais eficiência nos combates. “Atualmente, o plano de combate e prevenção de incêndios da companhia é baseado em cinco importantes pilares: comunicação, capacitação, inspeções preventivas, monitoramento e colheita antecipada. Com ações baseadas nesses pilares, atingimos resultados positivos em diferentes frentes e conseguimos iniciar o protocolo de contenção de incêndios antes que o fogo se propague por áreas maiores”, explica Rafaela Shiota, gestora de Meio Ambiente da Tereos.
Tecnologias como ferramentas de prevenção
A Raízen tem um modelo preditivo baseado em 26 dados climáticos, denominado Helios, que gera informações sobre a proximidade dos locais com potencial para incêndio com núcleos urbanos e rodovias. Segundo Lopes, a companhia utiliza imagens de satélite para entender a prevenção de incêndios em cada canavial. Desta forma, os caminhões pipas chegam com antecedência no local da ocorrência.
“O cruzamento das informações geradas permite o posicionamento de frotas de combate ao fogo em locais estratégicos para acesso, reduzindo o tempo de chegada para extinção do fogo na eventualidade de início de incêndio. Também, como medida preventiva, realizamos anualmente a limpeza de aceiros nas matas, além de melhorias nos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e nas ferramentas utilizadas”, adiciona diretor executivo Agrícola da Raízen.
Rafaela revela que, no Brasil, a Tereos é pioneira no monitoramento dos canaviais via satélite. O sistema, que contempla 100% das áreas próprias, de fornecedores e de parceiros da companhia – cerca de 300 mil hectares, conta com 13 satélites meteorológicos operados por agências governamentais (entre elas, a Nasa), com envios automáticos de alertas à empresa.
Para realizar os combates, a empresa possui veículos de acesso rápido – camionetes leves equipadas com todo o aparato necessário para controlar focos de incêndios iniciais, incluindo kit espuma. São seis veículos desse tipo aliados a 35 caminhões-pipa e cerca de 180 brigadistas ajudando no combate.
“O investimento em tecnologias como o monitoramento de canaviais via satélite, somado ao reforço de ações no campo e campanhas de conscientização, nos auxilia na diminuição da incidência de área queimada nos canaviais da empresa, mesmo com condições climáticas desfavoráveis”, disse.
A Tereos vem aprimorando constantemente o sistema de monitoramento com mais informações para torna-lo cada vez mais assertivo e eficaz no combate. Segundo Rafaela, este ano, por exemplo, algumas informações adicionais foram previsão de propagação de fogo e de risco hídrico das regiões. Esse monitoramento inclui tanto áreas próprias quanto de fornecedores.
O diretor Agrícola e de Tecnologia da São Martinho, afirma que a companhia também é pioneira em várias tecnologias de combate a incêndio, e tem uma longa jornada no monitoramento e prevenção desde quando eram utilizadas torres de observação com uso de triangulação geométrica, baseada em cartografia.
Atualmente, a São Martinho conta com um robusto sistema estruturado composto por várias tecnologias e inteligências que contribuem tanto no suporte às ações de prevenção quanto ao combate. “Dentre elas, há um sistema de câmeras de longo alcance e alta resolução, que monitoram todo o canavial, tanto próprios quanto de fornecedores e áreas no entorno, através de inteligência artificial. Esse sistema realiza a detecção automática dos focos de incêndio e, mediante triangulação entre as câmeras, fornece o local exato do foco”, detalha Teixeira.
Todos os caminhões de combate a incêndio são equipados com rastreador que, por meio da visualização em tempo real, permite a Companhia orientar a melhor a logística nas emergências de combate. Os caminhões também são equipados com um sistema de 3 câmeras para monitoramento de fadiga e visualização do ambiente de combate; computador de bordo para alertas operacionais; tablets com imagens via satélite das fazendas e sua respectiva localização; sistema de comunicação via rádio com frequência exclusiva e 1 canhão eletrônico composto com 4 câmeras, que permite sua operação por meio de um joystick de dentro da cabine do caminhão.
“A São Martinho inovou no desenvolvimento – detentora da patente – de uma plataforma elevatória, mudando a localização desse canhão eletrônico que era fixado na parte superior do tanque de água para a parte superior da cabine do caminhão. Essa alteração trouxe ganhos significativos no atingimento do alvo (foco de incêndio). Além disso, a empresa conta com uma tecnologia em todos os caminhões que aditiva a água com LGE (líquido gerador de espuma) e potencializa a capacidade de combate ao incêndio”, afirma Teixeira.
Os canhões eram mecânicos e operados manualmente. O operador precisava subir e permanecer em uma área protegida, sobre o tanque de água, durante a operação de combate ao incêndio. Hoje, o operador faz toda essa operação através de um joystick de dentro da cabine, com visualização do foco de incêndio também através de uma tela. É uma nova realidade tecnológica e esse canhão eletrônico pode ser instalado em qualquer caminhão bombeiro.
“Há também uma Central de Monitoramento que opera 24 horas, em 365 dias no ano, conectada com os sistemas de previsão meteorológica (velocidade e direção do vento, temperatura, umidade do ar) para análise dos cenários e alertar sobre possíveis impactos nas próximas horas. Apoiando a estratégia de combate a incêndio, drones são utilizados para mapear o cenário e orientar a equipe de solo. A São Martinho também foi pioneira em equipar sua frota de veículos leves com sistemas de combate inicial aos focos de incêndios, permitindo a rápida resposta e contenção”, destaca Teixeira.
Treinamento e conscientização comunidade
As ações da Raízen, segundo Lopes, vêm evoluindo ano a ano em busca de alcançar novos públicos e aumentar a conscientização, principalmente em regiões mais críticas. “Tudo que hoje é implementado dentro da campanha de conscientização são extensivos aos fornecedores de cana-de-açúcar. Além disso, anualmente todos são convidados a conhecer as tecnologias e sistemas que vêm sendo adotados pela companhia como benchmarking na prevenção e combate aos incêndios”, adiciona.
A Raízen mantém uma série de treinamentos internos disponíveis ao longo de toda a safra, além disso, realiza as intensificações com os treinamentos durante a entressafra. “Também realizamos contratações de empresas especializadas em incêndios agroflorestais para reciclagem dos nossos brigadistas anualmente”, acrescenta Lopes.
Pensando nas comunidades das cidades onde atua, a Raízen ainda realiza carreatas nas regiões mais críticas apresentando o efetivo da companhia em parceria com prefeituras, corpo de bombeiros e polícia ambiental para reforçar os números emergências, incluindo o 0800 da companhia para ocorrência de fogo em canaviais.
“Também realizamos programadas ações nas escolas a partir de agosto para conscientização de professores e crianças. Neste ano, por exemplo, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, a Fundação Raízen realizou, em Jaú, a Parada pelo Clima, uma ação gratuita e aberta à população com o objetivo de conscientizar sobre os impactos das mudanças climáticas, o consequente potencial para incêndios em canaviais e incentivar a sociedade a promover ações em favor da natureza. Cerca de 420 crianças e adolescentes de quatro escolas e um projeto social da região participaram da Parada. Foram apresentadas oficinas de plantio de horta agroecológica e ideias para compostagem caseira, uma ferramenta poderosa para redução de resíduos, melhoria na qualidade do solo e conservação da água”, destaca Lopes.
A Tereos, segundo Rafaela, tem como um de seus pilares, programas de treinamento e conscientização internos, focados na prevenção de incêndios e na segurança em situações de emergência. Esses programas incluem: treinamentos regulares de prevenção de incêndios, formação de brigada de incêndio, simulações de evacuação, cursos de primeiros socorros, palestras e workshops de conscientização, formação em uso de equipamentos de segurança e auditorias e inspeções de segurança, com verificações regulares e coleta de feedbacks.
“É importante envolver toda a comunidade na campanha de prevenção a incêndios porque, muitas vezes, o fogo é acidental. Algumas ações como jogar lixo em local inadequado, usar fogo para queimar lixo ou folhas, jogar bitucas de cigarro nas estradas podem acabar causando um incêndio acidental. Por isso, é fundamental que as pessoas tenham consciência disso e atuem para evitar esses comportamentos. A prevenção é um dever de todos e contamos com a ajuda da população para evitar focos de incêndios”, destaca.
Treinamento é a principal base que sustenta todo o sistema da São Martinho, segundo Teixeira. “Para uma boa performance e segurança no combate e controle do incêndio, são fundamentais o planejamento e um time consciente, que opera com conhecimento, inteligência, habilidade e explora todos os recursos disponíveis.”
Além de treinamentos, a conscientização para prevenção de incêndios, tanto dos colaboradores como da comunidade como um todo, segundo Teixeira, também são essenciais para a companhia, que possui um Centro de Educação Ambiental – CEA, que recebe alunos e comunidade das cidades de seu entorno. Além disso, a São Martinho mantém uma parceria com a ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1992 e que reúne empresas e entidades do agronegócio local com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável do setor.
“Um dos principais focos da parceria Usinas & ABAG é a prevenção e o combate a incêndios em canaviais. Através da Campanha de Conscientização, Prevenção e Combate aos Incêndios, o trabalho em conjunto com produtores rurais, cooperativas, órgãos públicos e outros parceiros, tem como objetivo reduzir a incidência de queimadas e seus impactos negativos”, disse o diretor Agrícola e de Tecnologia da São Martinho à RPAnews.
O programa de prevenção de incêndios no canavial da ABAG em parceria com as usinas engloba diversas medidas, como:
Manutenção de aceiros: Faixas livres de vegetação ao redor das plantações, que impedem a propagação do fogo.
Implantação de brigadas: Equipes treinadas para combater incêndios.
Monitoramento por satélite: Identificação de focos de incêndio em tempo real.
Campanhas de conscientização: Informação e educação da população sobre os riscos dos incêndios.
Desenvolvimento de novas tecnologias: Busca por soluções inovadoras para prevenir e combater queimadas.
“O programa tem apresentado resultados positivos na redução do número de incêndios. De acordo com levantamento apresentado pela ABAG, no ano de 2022 foram registrados 1.599 focos ativos de incêndios no estado de São Paulo, o menor número desde o início do monitoramento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em 1998”, destaca o diretor Agrícola e de Tecnologia da São Martinho.
Lopes afirma que a Raízen realiza um acompanhamento diário de suas operações, tendo a percepção notória no tempo de resposta de atendimento de cada foco de incêndio, possibilitando assim, chegar mais rápido no local atuando diretamente no princípio de incêndio. “Isso, com certeza, tem promovido uma redução de impacto/prejuízo”, concluiu.
“As tecnologias nos fornecem informações importantes para termos um monitoramento cada vez mais assertivo de nossas áreas. Todos os dados nos permitem prevenir situações e também tomar decisões mais rápidas, reduzindo a dimensão das áreas impactadas e, consequentemente, os prejuízos financeiros”, finaliza a gestora de Meio Ambiente da Tereos.
Natália Cherubin para RPAnews
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