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Edição 187

O amor como a melhor estratégia

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Natália Cherubin

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Segundo Mizutani, ao longo dos seus 30 anos de Cosan, a maior lição aprendida foi acredita
r no que faz e no que vende: açúcar, etanol e energia

Pedro Isamu Mizutani

Idade – 57 anos

Estado Civil –Casado e tem dois filhos

Naturalidade – Ribeirão Preto, SP

Formação  – Engenharia de Produção pela Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), tem Pós-graduação em Finanças pela Unimep, MBA em Gestão Empresarial, Mestrado em Gestão na FGV/Ohio University e Especialização em Gestão pela Kellog School Management, de Chicago

Cargo – Vice-presidente de Relações Externas e Estratégia da Raízen e presidente do Conselho da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar)

Hobbies – Cantar, pescar e jogar tênis

Filosofia de vida – “Eu acredito que tudo que se faz na vida deve ser feito por amor e com amor. O amor é a melhor estratégia.”

Ele é um líder dinâmico, com fortes habilidades em gestão de pessoas e relações interpessoais, é motivador de equipes multidisciplinares e conquistou a confiança não só do controlador da Cosan, Rubens Ometto, como também de todos os stakeholders e parceiros externos da companhia, na qual atua há 30 anos. Ele chegou onde chegou porque simplesmente ama o que faz. “O amor é a melhor estratégia”, segundo a filosofia de vida de Pedro Isamu Mizutani, que assumiu recentemente a diretoria de Relações Externas e Estratégia da Raízen e a presidência do Conselho da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar).

Sua formação iniciou-se em 1978, quando saiu de Ribeirão Preto, SP, sua cidade natal, para estudar Engenharia de Produção na Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), em São Paulo. Durante a graduação, fez estágio no Banco Frances e Brasileiro, e quando se formou, em 1982, Mizutani viu um anúncio sobre uma vaga de emprego em uma usina de Piracicaba, SP. Como ficava mais próxima de Ribeirão, e seu objetivo era retornar à cidade, decidiu ir trabalhar na unidade Costa Pinto, da Cosan. “Sempre quis trabalhar em uma área onde pudesse atuar como líder de frente, por isso decidi tentar a vaga na usina.”

Mizutani iniciou a carreira na Costa Pinto como supervisor de Planejamento. De 1983 a 2009, atuou em várias posições executivas nas áreas Administrativas, Financeiras e Produção. Em 2009, assumiu a posição de presidente de Açúcar, Álcool e Energia da Cosan. Em 2011, participou da criação da Raízen, a join venture entre Cosan e Shell. Na nova companhia, tornou-se vice-presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia, onde atuou até 2015, e desde 2016, assume a vice-presidência de Relações Externas e Estratégia da companhia.

“Com o passar dos anos fui crescendo junto com a Cosan, que na época em que entrei era apenas uma usina. Ao longo destes 30 anos, a maior lição aprendida foi que temos de acreditar em tudo que fazemos e vendemos. Foi assim que surgiu a Cosan, e pudemos ter os lançamentos dos primeiros bonds em 2004 e abertura capital em 2005 e 2007 na Bovespa e em Nova York, respectivamente. Além destes grandes aprendizados, tive a oportunidade de conviver com vários tipos de acionistas que foram sócios das usinas e da Cosan, desde pessoas físicas até empresas familiares nacionais e estrangeiras. Acho que tenho muita facilidade de adaptação. Como disse Darwin: ‘o que sobrevive não é o mais forte, mas sim o que melhor se adapta’”, conta.

Mizutani ainda é membro do Conselho do Siaesp/Sifaesp/Unica desde 2002 e, atualmente, ocupa a presidência do Conselho da Unica e também é membro do Conselho de Administração do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e da canadense Logen.

EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E SOCIAL

Apesar dos esforços do setor em desenvolver e aplicar novas tecnologias em seu sistema de produção, Mizutani aponta que ainda há muito o que evoluir. “Enquanto a produtividade de soja e milho dobraram ou quase triplicaram nos últimos 20 anos, no setor sucroenergético, principalmente considerando a cana, o crescimento e a produtividade foi muito vegetativa, de 1% ou 2% ao ano, ou seja, um crescimento muito baixo”, destaca.

Depois do fim da queima da cana, o setor passou por um longo e novo processo de aprendizado, com regressão das produtividades e perdas por desperdícios em processos na lavoura. No entanto, Mizutani acredita que nos próximos dez anos o setor terá uma evolução tecnológica muito grande, principalmente na área agrícola. “Como conselheiro do CTC, vejo que muita coisa vai evoluir, principalmente na área de produtividade do canavial. Temos novas maneiras de trabalhar com as mudas pré-brotadas, deveremos ter, em breve, a tão esperada cana semente e novas variedades e formas de manejo. Então na hora que estas tecnologias despontarem de forma significativa, vamos ter um ganho em produtividade muito grande. Já na área industrial, a grande aposta é o etanol de segunda geração”, salienta.

Muito além das questões tecnológicas, o executivo aponta que o mundo precisa se despertar para uma economia de baixo carbono e, ao mesmo tempo, o setor precisa de políticas públicas que ajudem o etanol a evoluir tanto no custo quanto na sua participação na matriz energética nacional.

“Acredito que nosso grande desafio é inserir o etanol na matriz energética do país. No entanto, o governo precisa transformar o etanol em uma política de estado, assim como existe, por exemplo, com a energia solar na Alemanha. Acredito que estamos evoluindo para isso. Outro desafio grande é mostrar ao consumidor as atribuições que vão além do preço do etanol, um combustível mais sustentável, mais ecológico e que vem de uma grande cadeia geradora de empregos. A mentalidade precisa mudar. Precisamos, através de uma comunicação mais eficiente, evoluir a visão da sociedade sobre o etanol”, enfatiza Mizutani.

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De acordo com Mizutani um dos maiores desafios é mostrar ao consumidor
final de combustíveis as atribuições do etanol, que vão muito além do seu preço

OUVIR E DIALOGAR

Em janeiro de 2016 foi anunciada a saída de Mizutani da vice-presidência de Etanol, Açúcar e Bioenergia, cargo que atuava desde 2011, quando foi criada a Raízen. O executivo assumiu então a vice-presidência de Relações Exteriores e Estratégia da companhia. Mas o que essa mudança significa? Significa “novos aprendizados, novos desafios”, responde Mizutani.

Com vasta experiência e histórico de direção em todos os componentes do P&L para otimizar o desempenho dos negócios, participação direta em joint ventures e o fato de ter se especializado em liderança de equipes, gestão de pessoas e de ter se tornado responsável por manter as relações mais próximas com os stakeholders e parceiros de negócios da Raízen, Mizutani não poderia ter chegado a melhor posição.

“Temos que evoluir. Eu já atuei em todas as áreas de produção e já fui presidente da área de Açúcar, Etanol e Energia. Tudo isso para mim foi uma grande evolução. A cada ano que passa é um novo aprendizado. A filosofia de ir mudando de área tem como objetivo agregar novos aprendizados. No departamento de relações externas, você tem que ter a confiabilidade das pessoas e muita credibilidade. A partir de agora, eu tenho um novo conhecimento, o de boa conversa e relacionamento com organismos internacionais”, explica.

Mizutani diz não ter problema nenhum em vender uma ideia em que realmente acredita, mas percebeu que as coisas nem sempre funcionam como se antevê. “Nesta hora, é muito importante saber ouvir as pessoas e considerar os outros pontos de vistas.”

Como presidente do Conselho da Unica, Mizutani também precisa saber ouvir muito. Ele conta que pediu permissão a entidade para poder ampliar as discussões entre os associados de maneira saudável e construtiva. “Somos um setor que tem sofrido muito nos últimos anos e precisamos entender que a cadeia é grande. Antigamente você tinha apenas o produtor, mas hoje, dentro das usinas temos que levar em consideração o aspecto produto também. Então as discussões devem ocorrer e devemos considerar todos os diferentes pontos de vista.”

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A descendência e o amor pela cultura japonesa motivam Mizutani a levar um
pouco dela para os brasileiros, através de apresentações de dança e canto
que faz em várias cidades e estados do país

EQUILíBRIO ESSENCIAL

Quem conhece Mizutani sabe que ele tem uma paixão especial pela música, mais especificamente pelo canto. Muito ligado à cultura japonesa desde jovem, o executivo conta que começou a cantar na Associação Nipo Brasileira, de Ribeirão Preto, entidade que desenvolve diversas atividades culturais ligadas a cultura japonesa.

O canto começou como hobby e aos poucos foi se aperfeiçoando. Mizutani participou de alguns concursos locais nacionais e, em 2003, depois de ganhar um concurso aqui, foi cantar no Japão, onde foi vice-campeão, representando o Brasil. “Essa paixão surgiu desde a adolescência. Eu sempre gostei de cantar, mas a ideia é manter a cultura japonesa, que é muito rica e é de onde meus pais vieram. Tento transmitir essa cultura em todos os festivais, seja em Ribeirão ou em qualquer outro que participo. Fazemos apresentações de música e dança oriental em vários festivais que são voltados tanto para a comunidade nipo-brasileira, quanto para a comunidade brasileira, que vem para conhecer mais sobre a cultura japonesa”, conta.

Ele faz parte de um grupo que faz apresentações em outras regiões fora do Estado de São Paulo, como Mato Grosso do Sul e Goiás. “Temos muitas apresentações nos finais de semana. É um negócio que eu gosto muito de fazer.” Hoje Mizutani não participa tanto de concursos como antigamente, mas diz que atua como um orientador de outros cantores.

Mas não é só de cantar que vive o executivo nas horas vagas. Ele também separa um tempinho para descansar ao lado da esposa e filhos e adora uma boa pescaria ou partida de tênis. “Acho que a vida profissional é importante, mas a gente não pode só pensar no trabalho. Claro que quando a gente está pescando, por exemplo, às vezes vem uma ideia diferente relacionada ao trabalho. Quando estou cantando é a mesma coisa. Mas acredito que uma coisa complementa a outra. Por exemplo, o fato de cantar há tantos anos me ajudou muito com a questão de falar em público ou de me relacionar bem com pessoas de qualquer nível ou poder. Eu acho que a gente sempre tem que alinhar uma coisa à outra. Os hobbies ajudam na parte profissional e vice-versa. Eu acho muito bacana ter esse equilíbrio.”

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Mizutani recebendo prêmio em concurso de canto no Japão, em 2003,
quando ficou em segundo lugar

Mizutani diz que tenta tirar férias de acordo com a demanda no trabalho. Então, quando aparece um concurso de canto fora da cidade, ele pega alguns dias ou aproveita uma viagem de negócios. “Eu acho que o mais importante na vida é saber conciliar a vida profissional e pessoal. Você não pode trabalhar 24 horas por dia. Tem que pensar 24 horas por dia, mas não precisa estar todo esse tempo no mesmo local. A vida é muito curta, a gente tem muito pouco tempo para nós mesmos. Então temos que saber administrar melhor o nosso tempo.”

Além de aprender a conciliar a vida pessoal e profissional, Mizutani conta que aprendeu a nunca deixar de perseguir seus sonhos, sejam eles grandes ou pequenos, de persistir nas ideias, de ouvir mais as pessoas, de ser mais humilde e de viver sempre muito próximo a família. “Procuro sempre tratar muito bem as pessoas. Essa é uma das mais importantes filosofias que carrego em minha vida.”

Ele já cantou com os cantores Michel Teló e Daniel, mas ainda não realizou o grande sonho que é cantar com o seu ídolo japonês, Itsuki Hiroshi. “Hoje este cantor já está com 60 anos. Já estive muito próximo dele em um jantar no Japão, mas não tive a oportunidade de cantar com ele. Apesar dele ter vindo ao Brasil duas vezes, espero poder cantar com ele no Japão. Quem sabe?” Torcemos para que sim. Muito mais do que isso, esperamos que o executivo alcance seu outro sonho: “fazer com que a sociedade brasileira entenda a importância do etanol para o meio ambiente e para o futuro do Brasil.”

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