Na última sexta-feira (04/10), o G1 trouxe a lista de endereços de postos ligados a sócios investigados pela megaoperação “Carbono Oculto”, que mirou o braço financeiro do PCC no setor de combustíveis. O impacto é grande e precisa ser encarado com seriedade: não se trata apenas de “postos de marca própria” ou “bandeira branca”, como muita gente insiste em repetir.
Segundo levantamento publicado pelo portal Agenda do Poder (04/10/2025), cruzando dados da Polícia Federal com registros da ANP, entre os 251 postos identificados em quatro estados aparecem:
• 52 postos da bandeira Ipiranga
• 29 postos da bandeira Petrobras/Vibra
• 12 postos da bandeira Shell
Fonte: Agenda do Poder, 04/10/2025.
Ou seja: a contaminação do sistema não escolhe cor de bandeira nem tamanho de logotipo. O crime organizado não diferencia “marca grande” de “independente” – ele busca oportunidade, brechas, conivência e, principalmente, estruturas que permitam lavar dinheiro em escala bilionária.
Três reflexões de um mineiro velho de estrada
1. Ilusão perigosa
É engano achar que só “postos pequenos” ou “bandeira branca” estariam sujeitos a esse tipo de investigação. A realidade mostrou que até bandeiras tradicionais foram citadas nos levantamentos.
2. Marca não é blindagem
A presença do logotipo na testeira não garante reputação ilesa. O que protege é a governança societária, compliance e auditoria de ponta a ponta da cadeia.
3. O cliente também paga a conta
Cada vez que escândalos assim vêm à tona, a confiança do consumidor no setor é abalada. E, como sabemos, confiança perdida não se recompõe com placa nova.
O caso é grave, mas também é oportunidade para reforçar a defesa da transparência, da concorrência leal e do compliance real no downstream. Quem insiste em dividir o setor entre “postos de bandeira” e “postos marca própria ” deveria refletir: a maior ameaça não vem da cor da bandeira, mas da sombra que encobre negócios mal explicados.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.