Você piscou… e a segunda maior safra da história do Centro-Sul foi moída debaixo de sol forte, praga brava e até queimada fora de hora. Ainda assim, 621,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram processadas. Uma queda de 5%, mas que soa como vitória num ano em que o clima parecia ter feito voto de oposição.
Segundo relatório da FG/A – Finanças, o que salvou a pátria (ou pelo menos os talhões) foi o aumento da área de colheita: 8 milhões de hectares. Isso mesmo. O setor tirou força de onde já não tinha e arrancou produtividade na unha – com ajuda da famosa “cana bisada” e da expansão de área nas últimas safras.
Mas o dado que realmente mexe com o mercado (e com a cabeça dos estrategistas) é outro: os 5 maiores grupos do setor responderam por apenas 27,8% da moagem. Em outras palavras, a concentração caiu, e o mapa do poder açucareiro está menos concentrado que caldo de cana no fim da feira.
Entre os 15 maiores grupos, apenas dois conseguiram crescer a moagem:
•Vale do Verdão (+5%)
•Adecoagro (+2,1%)
Os demais? Redução generalizada. E não foi pouca coisa:
•Raízen, mesmo liderando com folga (78,3 milhões de toneladas), caiu 7%.
•BP Bunge e Lincoln Junqueira perderam quase 8%.
•Colombo despencou 14,1% e perdeu o posto de 11ª para a ascendente Delta, que subiu três posições.
Isso tudo num cenário em que os grandes moeram 304 milhões de toneladas (contra 322 milhões no ciclo anterior), enquanto os menores, mesmo com menos estrutura, encolheram menos: queda de 4,5%.
O que isso nos ensina? Que, no setor sucroenergético, não basta ter escala. É preciso ter estratégia, agilidade e, claro, uma reza forte contra El Niño. A safra 25/26 já bate na porta — e quem souber interpretar a natureza (e o mercado) com inteligência pode surpreender.
A fonte dos dados — reforço aqui com todo zelo e transparência — é o excelente relatório da FG/A – Finanças, que está disponível publicamente e pode ser acessado via este link.
E como bom mineiro, fecho com um ditado adaptado à lavoura: “Cana que nasce torta, só endireita com gestão — e um bom olho no céu.”
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.